O Rio Taquaraçu, no limite entre Santa Luzia e Taquaraçu de Minas, na Grande BH, será o novo manancial de abastecimento da região metropolitana. A Copasa confirmou, nessa segunda-feira, que os projetistas que estudam a implantação de mais um barramento para reforçar o fornecimento de água da região preferiram essa opção ao Rio Jaboticatubas, em um empreendimento que ainda deve levar três anos para ser totalmente implantado. A construção não será simples e deverá superar problemas como o tratamento do esgoto que é lançado no curso escolhido, afluente do Rio das Velhas, estudos de impacto ambiental e remoção de moradores de áreas a serem inundadas. A companhia de saneamento informou que os estudos estão sobre as mesas dos setores de planejamento e do pessoal operacional, e que por isso ainda não serão divulgados o volume de água a ser barrado, o local exato da represa, o custo do projeto e sua previsão de funcionamento.
A intenção de construir outro reservatório foi divulgada pela força-tarefa do governo estadual criada para enfrentar a crise hídrica, em 23 de janeiro, um dia depois de a Copasa anunciar que os reservatórios que abastecem a Grande BH estavam em nível crítico. Na época, o Sistema Paraopeba, que abastece mais de 30% da região, operava com 29% de seu volume, muito abaixo do índice de um ano antes, que era de 76,8%. De acordo com o secretário de estado de Transportes e Obras Públicas, Murilo Valadares, projetos antigos para implantar um novo sistema estavam sendo estudados e deveria ser feita opção entre o Rio Taquaraçu e o Rio Jaboticatubas. No fim daquele mês, a equipe do Estado de Minas teve acesso aos estudos preliminares e mostrou que a barragem planejada seria erguida em uma área a 25,5 quilômetros de BH, próximo à ponte que separa Santa Luzia de Taquaraçu de Minas.
Pelo estudo preliminar, o volume da captação seria algo em torno de 5 mil litros por segundo, mas esse montante pode ser ampliado, devido à urgência que a crise hídrica representa. Um das vantagens que pesou a favor do Taquaraçu foi o fato de o rio ser mais caudaloso e correr por um relevo mais profundo, o que reduz a necessidade de criar um lago muito amplo, que represente grandes áreas a serem desapropriadas.
Há desafios para que a obra saia realmente da prancheta. De acordo com a análise do biólogo e consultor em recursos hídricos Rafael Resck, os esgotos detectados pelas últimas análises feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) precisam ser retirados do manancial. “Se o problema do esgoto não for resolvido, o custo de tratamento da água será maior”, explica Resck. O grande desafio é implantar a obra em médio prazo, devido a uma série de exigências ambientais e socioeconômicas, entre elas levantamentos das espécies presentes no ecossistema e dos impactos sobre animais migratórios, como peixes que subam o Taquaraçu para desovar. “Isso tudo precisa ser quantificado. Se há impactos, é preciso também levantar soluções para atenuar, ou até para compensar os danos. Há espécimes de árvores que, se forem perdidas na inundação, demandarão o plantio de outras 50, por exemplo”, calcula.
Outro problema é que o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) são demorados e imprescindíveis. “Para se ter uma ideia, os levantamentos precisam ser feitos na época da estiagem e depois, na estação chuvosa. Ou seja, se nenhum prazo for perdido e tudo correr dentro de um cronograma apertado, a entrega do estudo não sai com menos de um ano”, estima Resck. Mas, segundo ele, a represa terá a mesma fragilidade que levou os reservatórios da Grande BH a serem exauridos muito rapidamente: a pequena extensão de bacia, que corre ao longo de 31,21 quilômetros. “É um rio pequeno, com uma bacia muito pequena. Isso o deixa à mercê de chuvas volumosas e concentradas, para que mantenha uma vazão desejável. Bacias maiores recebem água de chuvas distantes e por isso tornam os rios menos dependentes”, afirma.
PENDENTE O Igam informou que ainda não foi possível concluir os estudos de níveis dos principais mananciais mineiros, para determinar, como manda a Instrução Normativa 49/2015, que vigora desde 26 do mês passado, quais estão em estado de atenção, em alerta e quais entraram em restrição de volume de consumo.
De acordo com o Igam, as análises das estações sob a responsabilidade do instituto e das demais instituições públicas que farão o monitoramento, como a Copasa, ainda não terminaram e devem ser entregues nos próximos dias.