A professora Zilma Morais de Souza tem uma rotina pesada, mas de muita perseverança e orgulho por levar o conhecimento a estudantes em locais distantes. Ela acorda às 4h todos os dias para percorrer 40 quilômetros da sede de Francisco Sá, no Norte de Minas, até uma escola na comunidade rural de Camarinhas. Pega carona duas vezes, em um trecho de 25 quilômetros da perigosa BR-251, entre a cidade e o entroncamento com a MG-122 (estrada para Janaúba), e em outro trecho de 15 quilômetros da MG-122 até Camarinhas. São duas caronas na ida e duas na volta). “Enfrento uma barra que não é nada fácil, mas gosto muito do que faço. É muito gratificante o trabalho de professora. Cada aprendizado de uma criança é como se fosse uma gestação, um novo ser que está nascendo para o mundo”, diz.
Essa dura rotina mostra que as dificuldades dos professores vão muito além da baixa remuneração e do estresse do dia a dia. Professoras de Francisco Sá se arriscam ao pegar carona com caminhoneiros na 251, que liga Montes Claros à BR-116 (Rio-Bahia), para chegar a escolas das redes municipal e estadual da zona rural do município e de outras cidades da região.
“Acredito que, nos últimos anos, mais de 10 trabalhadores (da educação) perderam a vida em acidentes na região”, afirma Costa, acrescentando que eles também são obrigados a enfrentar estradas de terra em péssimas condições.
Pegar carona na 251 é parte da rotina de luta das professoras Sideny Rodrigues Lima e Cruz e Rosângela dos Reis Silva, moradoras de Francisco Sá e que trabalham na zona rural de Grão Mogol. Como outras colegas, elas viajam 38 quilômetros até o distrito de Barrocão, passando pelo trecho da “Serra de Francisco Sá”, onde acidentes são freqüentes, devido à sequência de curvas em trecho íngreme. Na quarta-feira, a reportagem do EM acompanhou o esforço das duas. Sideny acordou às 4h45 e saiu de casa logo depois, deixando os dois filhos pequenos dormindo, sob os cuidados do marido, Henrique Rodrigues Cruz, que também é professor e trabalha em uma escola da área urbana de Francisco Sá. Sideny encontrou-se com Rosângela e, ainda antes de amanhecer e debaixo de chuva, as duas caminharam 400 metros até um ponto da BR-251, para repetir o gesto de acenar para os caminhoneiros e outros motoristas para conseguir carona até a escola. No dia que foram acompanhadas pela reportagem, demoraram cerca de 15 minutos para conseguir carona em um carro de passeio.
“A carona não é uma questão de escolha, é necessidade mesmo. Os horários de ônibus não combinam com nosso horário de trabalho. Além disso, o custo da passagem é alto e não temos auxílio para o transporte”, conta Sideny, que é formada em letras/português e tem cinco anos de magistério. Mesmo dependendo da boa vontade dos caminhoneiros, ela desembolsa parte do que ganha com o transporte, porque, após a chegada em Barrocão com três colegas, ela pega um carro particular que cobra R$ 20 para levá-las até a escola municipal da localidade Vila do Sítio. “Tenho muito amor à profissão. Fico mais sensibilizada por trabalhar com crianças carentes da zona rural”, diz Sideny.
oração Como Sideny, Rosângela dos Reis Silva diz que reza toda vez que sai de casa antes das 5h para pegar carona na BR-251 até Barrocão, onde trabalha no turno matutino (professora do ensino fundamental numa escola municipal) e à tarde (na secretaria de uma escola estadual).