Jornal Estado de Minas

Córregos da Grande BH contém mais coliformes fecais que o aceitável

Estudo para realização de obra do Rodoanel revela que o Córrego Sujo contém 2.240% mais coliformes fecais do que o preconizado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama)

Mateus Parreiras
O Córrego Sujo, em Vespasiano, na Grande BH, que está na área de abrangência do Rodoanel, contém 2.240% mais coliformes fecais do que o preconizado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), segundo levantamentos químico do projeto da obra viária.
Esse tipo de bactéria é um indicativo claro de esgoto para especialistas, pois sobrevive no intestino de mamíferos e pode transmitir doenças infecciosas, como a febre tifoide, paratifoide, disenteria e cólera.


Morador da comunidade, o dono de oficina Luiz Lara, de 60 anos, diz que a poluição começou a ser sentida há pouco mais de 10 anos, com a expansão da comunidade de Morro Alto, em Vespasiano. “Não foi feita rede de esgoto ou urbanização. Com isso, o esgoto veio jorrando direto das casas para uma porção de córregos, vindo parar no Córrego Sujo. A Copasa até fez uma rede de coleta, mas parece que os moradores não fazem a ligação para não pagar esgoto”, afirma. Para ele, o pior seria deixar a região. “Se o Rodoanel chegar mesmo, não vamos ter escapatória, porque o trevo que será feito entre a estrada e a MG-010 será enorme. A gente não gosta nem de pensar nisso.

Nasci aqui, meus filhos também. Meus melhores amigos e a família estão aqui. É triste ter visto tudo acabando e depois ter de ir embora”, lamenta.


A situação mais degradante, no entanto, é a do Ribeirão das Areias. A expansão imobiliária no local é tão intensa que praticamente não há mais espaços para serem ocupados nas margens entre os três municípios que o manancial corta (Ribeirão das Neves, Vespasiano e Pedro Leopoldo). A concentração de poluentes é tão alta que as pequenas corredeiras produzem crostas de espuma que flutuam curso abaixo como se fossem ilhas brancas e indicam, sobretudo, os lançamentos domésticos de detergentes. Não existem mais peixes no local e o odor de esgoto sufoca as áreas próximas.

A análise do empreendimento é clara: “O rio foi morto”, mas ainda poderia ser recuperado com coleta sanitária e outras políticas ambientais. “Esse é um retrato das periferias da Grande BH, mas que tem mostrado uma grande falta de política dos governos. Isso porque a expansão de invasões e de ocupações tem sido muito menor do que no passado, dando tempo para terem sido feitas políticas de infraestrutura habitacional e sanitária”, afirma o especialista em análise ambiental e modelagens de sistemas ambientais Paulo Eduardo Borges.

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