Itapecerica – Picolés de limão cremoso, coco branco e chocolate. Essas e outras delícias geladas são vendidas de forma bem especial em Itapecerica, na Região Centro-Oeste de Minas, a 178 quilômetros de Belo Horizonte. Na direção de um triciclo com motor de 125 cilindradas, José Paulo Alves, de 39 anos, percorre as ruas da cidade distribuindo simpatia e conquistando grande número de fregueses. Quando o Zé Paulo do Picolé, como é conhecido, aponta nas esquinas, “chove” de gente querendo garantir seu produto ou apenas bater um papo rápido com o vendedor. “Sou uma pessoa feliz, e a minha mensagem para hoje é: a vida vale a pena”, afirma, com um sorriso.
Com as pernas atrofiadas de nascença, o que limita sua locomoção, Zé Paulo do Picolé tem muitas histórias para contar – aliás, o que mais cativa moradores e visitantes é o bom humor e a fé em Deus demonstrados em gestos e palavras. “Deus é tão perfeito que não nos daria algo que não pudéssemos suportar. Tenho as pernas assim, mas nunca culpei ninguém. Nem meus pais nem Ele.
A infância na roça passou longe de ser um rosário de dificuldades e queixas. “Só fui ter uma cadeira de rodas com 13 anos, em 1988, mas nunca parei quieto. Meus amigos jogavam bola – e acha que eu ficava triste? Ficava lá, na beirada do campo, olhando e aplaudindo!”, diverte-se. Para visitar o pai, que trabalhava em uma carvoaria, José Paulo encontrava uma forma de locomoção inusitada e rápida. “Eu ia rolando pelo chão, morro abaixo, em um trajeto de mais de dois quilômetros. Passava no meio do pasto, de cobras, do mato... Não machucava nem nada e chegava em casa inteirinho”, recorda-se. Para retornar, o jeito era pegar carona no carro de boi.
Os obstáculos rotineiros não impediram que o menino aprendesse a ler e a escrever. “Minha irmã Gevanilda chegava da escola com os cadernos e me ensinava. Bem mais tarde, com 22 anos e já morando aqui na cidade, é que me matriculei numa escola e fiz o primeiro grau (ensino fundamental)”, conta. Para ganhar a vida e ajudar a família, com quem mora, o vendedor, solteiro, fez serviços diversos, entre eles produção de gaiolas de passarinho.
FIADO, sim Há sete anos, José Paulo começou a trabalhar como vendedor terceirizado de picolé e, para facilitar a movimentação, mandou fazer o triciclo. Por medida de segurança e a fim de dar mais estabilidade, o veículo tem duas rodas na frente e uma atrás.
Quem visita Itapecerica pode ver o vendedor circulando de segunda a segunda, das 11h às 18h. Dependendo do tempo que ele tiver, é possível conversar e ouvir frases inesquecíveis, que valem como lições de vida: “É a mente que me move, não o físico. Não deixo de fazer nada devido à limitação e tenho razões de sobra para trabalhar, ser feliz”. Satisfeito? Então, compre um picolé e conheça o belo patrimônio cultural da cidade, nascida nos tempos coloniais.