Novos tempos para a turística Tiradentes, na Região do Campo das Vertentes, uma das cidades coloniais de Minas mais visitadas e sempre com boa programação cultural em cartaz. A partir das 8h de amanhã e até meia-noite de domingo, o Centro Histórico será fechado a automóveis e motos, numa iniciativa da prefeitura local que se repetirá, de agora em diante, em todos os fins de semana e feriados. O objetivo, segundo o prefeito Ralph Justino, é proteger o patrimônio datado dos séculos 18 e 19 e proporcionar a quem chega o prazer de conhecer, a pé, igrejas, museus, casario antigo, ruas pavimentadas de pedras, comércio charmoso e restaurantes que fazem a festa para olhos e paladar. Tiradentes é a primeira no estado a adotar tal medida e a segunda no país, pioneirismo que cabe a Paraty (RJ).
A proposta de impedir o trânsito de automóveis no Centro Histórico surgiu há mais de cino anos, quando também começaram os debates para avaliar impactos, efeitos e outras questões. A atual decisão de restringir a circulação veio precedida de discussão com a comunidade e entendimentos com diversas instituições, a exemplo da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, explica o prefeito, que lançou a campanha “Viva a história a pé”. O perímetro fechado fica entre as ruas Direita e Padre Toledo (sentido horizontal) e Largo do Sol e Rua da Câmara (vertical). O Largo das Forras, um dos pontos de grande movimento, não está na área vedada aos carros, e o acesso ao núcleo histórico será sempre pela Rua da Cadeia.
A ideia é que, sem o barulho dos motores, o som estridente das buzinas e carros para todo lado, a visita à cidade será realmente “sem atropelos e com mais espaço para caminhar”, diz o prefeito. “Queremos que o passeio seja bem agradável. As pessoas poderão ver os monumentos com calma, admirar os detalhes das construções históricas e curtir melhor a viagem”, defende. Ralph destaca locais importantes que estão na área fechada, entre eles a Matriz de Santo Antônio, uma das joias do barroco, com seu relógio de sol no adro, as igrejas do Rosário e São João Evangelista, os prédios da Cãmara e do Quatro Cantos, e os museus de Padre Toledo, de Sant’Ana e da Liturgia.
Credencial
Nos fins de semana, o Centro Histórico de Tiradentes costuma receber em torno de 600 veículos, volume que atrapalha a circulação dos pedestres e polui a paisagem urbana. Mesmo com a proibição, moradores e visitantes não terão seu sagrado direito de ir e vir limitado. Para quem residente na área, é proprietário de lojas, restaurantes e bares, por exemplo, ou trabalha num desses estabelecimentos comerciais, o acesso é livre, devendo o motorista ter uma credencial concedida pela prefeitura. Idosos e pessoas com mobilidade reduzida, incluindo cadeirantes, também poderão circular livremente, assim como táxis e as charretes de passeio, uma tradição da cidade.
Os turistas, no entanto, deverão prestar atenção a alguns detalhes para evitar surpresas. Ao fazer a reserva, para fins de semana ou feriados, em pousada localizada na área fechada, o hóspede deverá manter consigo a confirmação ou voucher emitido pelo estabelecimento a fim de apresentá-la ao fiscal, na entrada da cidade. Na hora do check-in na pousada, ele receberá a credencial, com a qual poderá circular na cidade ou visitar lugares distantes. “Se a pessoa for a Bichinhos, por exemplo, poderá ir e retornar a Tiradentes sem problemas, bastando mostrar o documento ao fiscal”, explica a secretária de Cultura e Turismo, M ônica Cardoso.
Para quem ficar em outras áreas e for passear no Centro Histórico, há cinco estacionamentos particulares (veja o mapa) no entorno da região, alguns situados na Avenida Ministro Gabriel Passos. Como parte da campanha, a prefeitura pede aos visitantes que verifiquem nas pousadas e restaurantes a promoção dos serviços de táxi: há uma tarifa promocional válida para uma corrida saindo de pousadas localizadas na zona urbana até o Centro Histórico da cidade (perímetro de fechamento às sextas, sábados, domingos e feriados) e vice-versa.
A superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Célia Corsino, afirma que supressão da circulação de veículos nos centros históricos é sempre bem-vinda. “Acho que ganham todos: os turistas e a cidade”, afirma a museóloga Célia, lembrando que cidades como Tiradentes “não foram feitas para andar de carro”.
Revitalização do piso começa mês que vem
Em maio, Tiradentes será alvo de uma intervenção urbanística para valorizar ainda mais o patrimônio cultural. Com recursos no valor de R$ 5 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES e do governo de Minas, será feita a revitalização do piso de pedras da área agora fechada ao trânsito de automóveis e outros locais, como o Largo das Forras e imediações da Igreja da Santíssima Trindade.
A expectativa é que a obra dure um ano e meio, com acompanhamento de especialistas do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). “Vamos fazer a obra quarteirão por quarteirão a fim de evitar problemas para moradores e comerciantes. A estação seca, que começa agora, vai permitir que o serviço deslanche”, diz o chefe do Executivo. “O projeto provocará maior harmonia na paisagem. As pedras serão retiradas e, na sequência, feita a compactação do solo para posterior reassentamento das pedras e nivelamento”, explica.
Outra iniciativa fundamental para ordenar o crescimento de Tiradentes e proteger o patrimônio é a elaboração do Plano Diretor do Município, que está pronto e foi feito por equipe da Fundação João Pinheiro. “Com ele, poderemos planejar a cidade para os próximos 10, 15 anos”, afirma o prefeito, que sancionará a lei do Plano Diretor amanhã, no Largo do Ó, durante a solenidade que dá início à Semana da Inconfidência – o ponto alto será na terça-feira, em Ouro Preto, na data (21 de abril) consagrada a Joaquim José da Silva Xavier (1746 a 1792), o Tiradentes. Ainda amanhã, a prefeitura receberá um caminhão de bombeiros adaptado para combate ao fogo no Centro Histórico.