Mais três viadutos da Avenida Pedro I, entre as regiões Norte, Pampulha e Venda Nova, em Belo Horizonte, projetados pela empresa Consol Engenheiros Consultores e erguidos pela Construtora Cowan, estão na mira de intervenções da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap). Com a necessidade de adequações nos elevados Oscar Niemeyer, Monte Castelo e João Samaha aumenta para seis a lista de estruturas com algum tipo de problema na avenida. Isso significa que todos os elevados que foram construídos do zero na Meta 2 do BRT Antônio Carlos/Pedro I, fase denominada “Alargamento da Avenida Pedro I”, tiveram falhas.
Dentro do pacote da chamada Meta 2, apenas o elevado da barragem da Pampulha, que já existia e passou por ampliação, não teve, até agora, necessidade de ajustes. Entre os viadutos da Pedro I, o caso mais grave envolveu a alça sul do Batalha dos Guararapes, que desabou em julho do ano passado matando duas pessoas e ferindo 23. Antes disso, em fevereiro de 2014, o Viaduto Montese já havia apresentado deslocamento lateral de 27 centímetros, levando nove meses para ser liberado. O problema mais recente foi detectado no Viaduto Gil Nogueira, na Avenida Portugal. Um erro no posicionamento de estruturas de apoio demandou a instalação de seis novas peças, durante o feriado da semana santa.
Por último, a Sudecap informou que as empresas CGP e RCK – contratadas para analisar os projetos e vistoriar as obras dos viadutos da Pedro I e que já tinham apontado o erro do Gil Nogueira – também sugeriram a adoção de medidas preventivas nos três elevados restantes. O objetivo é aumentar a vida útil das estruturas, segundo nota. A superintendência responsável por gerir as obras da cidade não detalhou quais são as intervenções necessárias, dizendo apenas que as providências estão sendo estudadas.
“O início e o custo das intervenções serão estabelecidos após a conclusão dos projetos executivos, cujo prazo previsto é de 180 dias. A prefeitura contratará a execução das medidas preventivas. Uma vez apuradas as responsabilidades, o município cobrará o ressarcimento de despesas e eventuais prejuízos”, diz texto encaminhado pela assessoria da Sudecap. O Viaduto Oscar Niemeyer faz dupla com o Gil Nogueira, onde houve a obra mais recente. A estrutura liga os bairros Itapoã e Santa Amélia, na Região da Pampulha, pela Avenida Portugal, mas no sentido oposto.
Apesar da sugestão de providências nos três elevados, o prefeito em exercício, Délio Malheiros, disse ontem, durante visita ao Centro de Operações da Prefeitura de Belo Horizonte, que não há risco para as estruturas dos viadutos e que eles continuam operando normalmente. “O viaduto que desabou no ano passado foi um caso excepcionalíssimo, de uma sequência de falhas que ainda estão sendo apuradas”, afirma. Segundo ele, existe uma legislação complexa no Brasil, que exige que seja feita licitação do projeto, abrindo oportunidade para participação de várias empresas. “Quando acontece um caso como aquele, às vezes uma empresa fica jogando a culpa na outra. Mas o poder público não pode ser prejudicado e deve ser ressarcido em caso de falha. Nossa obrigação é cobrar até na Justiça o ressarcimento do prejuízo”, acrescentou.
Ainda de acordo com Malheiros, as obras têm garantia de no mínimo 20 anos e quem errou vai pagar a conta. “Se a empresa executou de forma diferente o projeto, ela vai ter que fazer o reparo. Se a empresa reiteradamente errar, ela pode ser excluída das licitações”, alertou. O promotor Eduardo Nepomuceno, da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público, informou ontem que ainda não sabia quais seriam as novas falhas apontadas no complexo, mas que a consultoria CGP/RCK teria indicado a necessidade de ajustes. “Não há risco para a estabilidade da estrutura, mas será adotada medida corretiva para aumentar a durabilidade da construção”, afirmou.
Ontem, a equipe do Estado de Minas verificou deslocamentos das juntas de dilatação dos viadutos Monte Castelo e Oscar Niemeyer. No Monte Castelo, o afastamento das estruturas era tanto que as borrachas que preenchem a fenda, na pista de rolamento, estavam soltas. “O pessoal da prefeitura sempre vem aqui com aparelhos para fazer medições. Isso preocupa qualquer um que passa debaixo do viaduto”, disse o vendedor Aldo Luige Ercole, de 36 anos. No João Samaha, o cimento no entorno da junta de dilatação também está se soltando. “Tenho medo de passar debaixo. Não tem como ficar tranquila”, disse a faxineira Flávia Dayane de Oliveira, de 27.
OUTRO LADO As firmas responsáveis pelos projetos obras dos três viadutos dizem desconhecer quais as ações a serem implementadas. O diretor-presidente da Consol, Maurício de Lana, afirmou que recebeu relatórios da PBH questionando alguns cálculos usados para projetar os elevados da Pedro I. “O que eu fiz foi responder os relatórios esclarecendo os cálculos. Não há problema algum naqueles três viadutos. Desconheço qualquer intervenção que será realizada”, afirmou.
Em nota, a Construtora Cowan, responsável pelas obras, informou apenas que foi acionada pela PBH para providenciar as obras de reparo do Viaduto Gil Nogueira, que ocorreram durante o feriado da semana santa. “Até a presente data nenhum representante da Cowan foi convocado pela Prefeitura de Belo Horizonte para tratar de outros viadutos”, informou. O EM tentou contato com as empresas RCK e CGP, envolvidas na análise de obras e projetos dos viadutos da Avenida Pedro I, que orientaram procurar a Sudecap, que, por sua vez não esclareceu as intervenções.