Jornal Estado de Minas

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Público que nunca foi ao cinema se encanta com exibição de filme no Norte de MG

Experiência também reacende emoções de quem já viveu a experiência no município de Patis

Luiz Ribeiro

As cadeiras colocadas ao ar livre foram ocupadas por cerca de 700 pessoas - Foto: Jair Amaral/EM


Patis
- Uma movimentação diferente tomou conta da praça principal de Patis, cidade com cerca de 5,5 mil habitantes, no Norte de Minas, na noite de sexta-feira. Em vez das tradicionais conversas dos amigos depois de uma semana de trabalho ou dos casais de namorados sentados nos bancos trocando carinhos e segredos, cerca de 700 moradores do pequeno município se reuniram para assistir a um filme, projetado numa tela grande, como nas salas de exibição abundantes nas grandes cidades.

Para muita gente, a projeção do filme brasileiro Cine Holliúdy (produção cearense do diretor Halder Gomes) foi o primeiro contato com o cinema, caso da dona de casa Maria Nilda Ribeiro Souza, de 48 anos. Com uma certa timidez, ela não escondeu a emoção de ver a comédia nacional em uma tela grande. “Achei muito bom. Se tiver outra exibição de filme aqui, não vou perder”, disse Maria Nilda. Ela estava acompanhada do marido, o professor Willian Souza Silva, de 47, que pela segunda vez assistia a um filme numa “tela de cinema”.

Outro que também nunca tinha visto uma exibição cinematográfica “de verdade” foi o motorista Marcelo Fernandes, de 26. “Esse tipo de coisa é muito bom para a nossa cidade”, afirmou Marcelo, que assistiu ao filme sentado em um bar no Calçadão de Patis, ao lado da mulher, a professora Juliana Lopes Maia, de 36, e dos dois filhos do casal, Nicole, de 7, e Felipe, de 4, que dormiu o tempo todo no colo do pai.

NOVIDADE DIVULGADA

Juliana contou que já havia ido ao cinema em Montes Claros (a 96 quilômetros de Patis), mas que foram poucas vezes. Ela disse que fez questão de divulgar a “novidade da chegada do cinema” para seus alunos na escola do ensino infantil em Patis.
“Pedi que eles viessem porque o cinema é uma coisa muito boa para aumentar a cultura das pessoas”, disse a professora, acrescentando que a maioria dos alunos demonstrou interesse e aceitou o convite.
O adolescente Erick Tadeu Pereira Leite, de 16, também demonstrou contentamento pelo primeiro contato com uma tela de cinema. “Fiquei apaixonado. A visão que a gente tem do filme é muito maior. É uma coisa de impacto mesmo”, disse.
A exibição de Cine Holliúdy também movimentou o comércio de Patis. Eduardo Silva, de 30, dono de um bar localizado em frente ao calçadão de Patis, onde foi montada a estrutura para a exibição do filme – com cerca de 700 cadeiras, ao ar livre, gostou da iniciativa. “É preciso trazer mais esse tipo de diversão para o povo”, afirmou. Ele disse que já assistiu a filme em um cinema. , “Mas faz algum tempo, quando eu morei em São Paulo”, acrescentou.

Iniciativa completa 14 anos

A chance para que moradores de pequenas cidades do interior possam assistir a filmes numa grande tela, ainda que nos lugares onde moram não existam sala de exibição, é uma iniciativa do projeto Cine Sesi Cultural, que neste ano vai visitar 32 municípios mineiros, dos quais 18 já receberam a programação. Desenvolvido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), com o apoio das prefeituras, o projeto já está no 14º ano consecutivo, promovendo as exibições em locais públicos abertos, normalmente a praça principal da cidade.

Além de oferecer entretenimento à população, o projeto visa incentivar a abertura ou reabertura de salas de projeção nesses pequenos municípios. Nas décadas de 1970 e 1980, o interior foi altamente afetado pelo fechamento de cinemas, que não tiveram como se manter devido à queda de bilheteria, consequência da exibição das produções na televisão aberta e do aluguel de filmes em locadoras.

O fenômeno também contribuiu para que muitos moradores dos lugarejos não conhecessem o cinema. Produtora do projeto, Carluccia Carrazza Gambogi explica que são mostrados filmes com linguagem mais simples, de fácil compreensão. “Pois nosso objetivo é despertar o interesse das pessoas pelo cinema”, comenta. “Observamos que o público fica satisfeito e admirado quando tem contato com o cinema pela primeira vez”, conta Carlúccia, que, antes das exibições, faz o trabalho de divulgação na comunidade.

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