Almenara - Uma cidade dividida, com seus moradores sacrificados. Essa é a situação de Almenara – de 38,7 mil habitantes, a 788 quilômetros de Belo Horizonte, no Vale do Jequitinhonha. Em 10 de janeiro, a ponte no Rio Jequitinhonha, na área urbana do município, foi interditada depois que sua estrutura foi abalada pelo excesso de peso de duas carretas bitrem carregadas com blocos de granito. Desde então, a população local passou a enfrentar uma série de transtornos quando precisa se deslocar até o outro lado do rio, seja para fazer compras, levar o filho à escola ou buscar atendimento médico no hospital. A travessia é feita de balsa ou em uma passarela improvisada, que somente pode ser usada por pedestres
A ponte, que teve o topo de um dos seus pilares parcialmente esmagado pelo peso das carretas, está sendo recuperada por uma empreiteira contratada pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER-MG), que também providenciou a instalação da passarela improvisada. A previsão é de que o serviço de recuperação do pontilhão seja concluído no próximo mês.
Por essa razão, muitos moradores preferem deixar seus veículos estacionados de um lado do rio e fazer a travessia a pé, usando a passarela improvisada. Ao chegar ao outro lado, continua a caminhada, pega um táxi ou recorre a veículos de amigos ou parentes.
O sacrifício é encarado pelo técnico em telefonia Ueden José Silva Ferraz, morador do Bairro Cidade Nova, situado no lado oposto ao Centro da cidade. Recentemente, Ueden fraturou o pé esquerdo quando jogava uma partida de futebol. Para ir até o hospital, ele vai até a beira do rio, na garupa de uma moto. Depois, é obrigado a caminhar de muletas pelos mais de 100 metros da passarela. “Ligo para amigos meus que me apanham de carro do outro lado para que eu possa chegar ao hospital”, conta o técnico em telefonia.
A ambulante Enói Pinto Alves dos Santos, que vende água mineral e lanches próximo à passarela no Rio Jequitinhonha, conta que já testemunhou dramas piores que o de Ueden. “Já vi idosos e doentes sendo carregados de maca na travessia do rio. Vi até caixão passando por essa passarela, sendo acompanhado por um tanto de gente para o enterro”, relata. Ele diz que mesmo lucrando com a situação, deseja que a ponte seja recuperada logo e que a vida na cidade volte ao normal. “É muito sofrimento para todo mundo. Não quero isso para as pessoas não”, comenta.
Também morador da Cidade Nova, o funcionário público Yure Moraes teve que mudar a rotina para levar a filha Ana Laura, de 8 anos à escola, desde que o ano letivo começou, quando a ponte já estava interditada. Ele vai de carro até o rio e deixa seu carro estacionado. Ele e a menina atravessam a passarela e do outro lado usam o veículo de uma parente. Só desse jeito a menina consegue frequentar a escola, no Centro da cidade. “Realmente, é muita complicação”, lamenta Yure.
A interrupção do tráfego na ponte de Almenara também com plica a vida de quem precisa viajar de ônibus. A rodoviária fica situada no Centro da cidade. Com a interdição, os ônibus não podem entrar na cidade e a rodoviária ficou completamente abandonada, enquanto os moradores são obrigados a fazer a travessia a pé e usar um posto de gasolina às margens da BR-367 como ponto de embarque e desembarque.
Gerente do escritório de uma empresa de ônibus em Almenara, Vanderlei Santos revela que a viação teve um grande prejuízo em decorrência do problema na ponte. “Os custos aumentaram muito. Tínhamos uma garagem no Centro da cidade e fomos obrigados a alugar outra garagem e um cômodo para o guichê da venda de passagens do outro lado do rio”, informou Vanderlei. Em 15 de janeiro, poucos dias depois da interdição da ponte, um menor de 16 anos morreu afogado no Rio Jequitinhonha. Ele e um colega deixaram o serviço e decidiram atravessar o rio, já que a passarela ainda não havia sido construída. Durante a travessia, o adolescente foi arrastado pela correnteza e desapareceu no rio. Seu amigo não conseguiu salvá-lo. O corpo foi localizado dias depois.