Longe da festa que rola no gramado da Arena Independência, uma lista de problemas se estende do lado de fora do chamado Gigante do Horto, na Região Leste de Belo Horizonte. Vizinhos do estádio, associações comunitárias e até mesmo os próprios torcedores cobram da Prefeitura de BH e de outros órgãos soluções para os incômodos que resultam da intensa movimentação de pessoas nos dias de jogos e eventos. O xixi na rua lidera as queixas, diante da falta de banheiros químicos. Há ainda reclamações sobre sujeira, avanço da atuação de flanelinhas – que achacam motoristas e cobram preços altos para estacionar na rua –, além de confusão no trânsito e congestionamentos no bairro, considerado tranquilo em dias normais.
Apesar de muitas regras terem sido discutidas e aprovadas pela comunidade antes do início da operação da Arena, o que os vizinhos alegam é que as medidas de controle não vêm sendo tomadas de maneira suficiente para evitar transtornos. A instalação de banheiros químicos, por exemplo, já foi assunto de reuniões da Comissão Facilitadora da Participação da Sociedade Civil – formada por moradores, governo estadual, Arena Independência e a empresa Ambiente, de ações socioambientais. Ainda assim, não há medidas práticas implantadas, nem sequer definição sobre a quem cabe a responsabilidade de instalar os sanitários móveis em dias de eventos.
Diretor de Relações Institucionais da Associação dos Amigos do Entorno do Estádio Independência e Adjacências (Aameia), Adelmo Gabriel Marques explica que todos os fatores de impacto relacionados à realização de jogos e eventos foram tratados durante a reforma do estádio. “Mas a instalação dos banheiros nunca foi resolvida”, afirma. Com isso, são frequentes as reclamações que chegam à associação, segundo ele. “O torcedor vem ao jogo, não tem lugar para fazer xixi e acaba fazendo na rua. As portas de residência viram verdadeiros banheiros a céu aberto”, afirma. O economista Alfredo Mello é um dos afetados pelo problema. Vizinho à Arena, ele conta que precisa lavar o portão, a garagem e a frente da casa a cada partida no estádio. “Pessoas urinam e até defecam aqui. Sem contar o incômodo de abrir o portão e se deparar com uma pessoa seminua na rua”, diz.
O DIA SEGUINTE O motorista José Emídio Coelho, de 51 anos, morador da Rua Genoveva de Souza, vizinha à arena, considera o dia seguinte às partidas o maior problema. “Quando saio para trabalhar, às 6h30, a entrada de minha casa fede a urina. E não adianta jogar água”, reclama Coelho. O microempresário Helvécio Menezes Martins, de 44, morador da mesma rua, aponta outros problemas relacionados à limpeza. “Depois dos jogos não têm nenhum esquema de limpeza, só no dia seguinte. Além do mau cheiro, as ruas amanhecem cheias de lixo.”
A tranquilidade, uma das principais marcas do Horto e do vizinho Sagrada Família, também é colocada à prova nos dias de partidas no Independência. De acordo com um empresário de 50 anos, que prefere não se identificar, os congestionamentos são frequentes e moradores sempre enfrentam dificuldade para entrar ou sair de casa. A queixa é endossada por Helvécio Martins. “Em dias de jogos, não dá para receber visitas. Os moradores preferem deixar os carros na rua, pois fica mais fácil para sair”, explicou.
Na quarta-feira, dia de confronto entre Atlético Mineiro e Colo Colo do Chile, pela Copa Libertadores, os problemas se repetiram. A bancária Cristiane Soares, de 34, contou que passou 40 minutos a mais dentro do ônibus, preso em um engarrafamento nas imediações do estádio. Ele afirma que não se sente incomodada em ser vizinha da arena, mas admite que para chegar em casa em dias de jogos é complicado. “Dá para suportar, porque não é todo dia”, afirmou.
Já o empresário Francisco Pedro da Silva, de 56, depois de ficar preso no congestionamento, demonstrou indignação ao ter que convencer policiais militares para poder parar rapidamente em uma vaga na calçada, que em dias normais é liberada. “Disseram que depois de dois minutos iriam me multar. Moro há 30 anos no bairro e ainda tenho que considerar que estão me fazendo um favor ao deixar parar em uma vaga para ir comprar algo antes de ir para casa. Esse é um país sem governo em que o cidadão é sempre desrespeitado. Mas não sou contra o futebol, pois é o que sobrou para as pessoas”, desabafou.
Vander Luiz Paiva, de 33, encarregado de um sacolão na esquina das ruas São Lucas e Pitangui, critica a falta de planejamento da fiscalização. “Nos dias de jogos, amargamos queda de 80% nas vendas. Mesmo que a partida seja à noite, a BHTtrans coloca cavaletes ao meio-dia proibindo estacionar. Clientes que param para uma compra rápida são multados.” Vander também sofre com a falta limpeza logo depois dos jogos. “Como podemos abrir a loja, que vende alimentos, em meio a tanta sujeira? Até sujeira de cavalo já tivemos que limpar”, protestou.
POLÍCIA De acordo com o Major Ronaldo Moreira, Comandante da 20ª Companhia da Polícia Militar, o policiamento nos dias de jogo é reforçado para garantir o acesso do torcedor ao estádio, resguardar o patrimônio e orientar a circulação de veículos. Sobre os guardadores de carro ele afirmou que a pessoa que se sentir extorquida deve acionar o 190 da Polícia Militar.
Gerente operacional da Arena Independência, Helber Gurgel informou que a comunidade foi ouvida em reuniões da Comissão Facilitadora, antes mesmo da reforma do estádio e que, qualquer demanda pode ser levada às associações de bairro para ser discutida nas reuniões mensais do grupo.