Junia Oliveira e Márcia Maria Cruz
Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), na Região Central do estado, estudantes acreditam que a dificuldade na seleção de novos beneficiários e na renovação de quem já conta com a assistência é uma manobra para driblar o contingenciamento de verbas. Eles cobram transparência no processo e clareza de regras.
Aluno do 1º período de letras da Ufop, Luiz Renato Gomes, de 33 anos, não teve dúvidas quando foi convocado em terceira chamada para estudar no câmpus da cidade de Mariana. Largou emprego e casa em Belo Horizonte e se mudou no fim de fevereiro, na expectativa de ser contemplado com bolsas que garantiriam sua permanência, moradia e alimentação. Mas, até hoje, o único retorno foi a exigência de documentos e mais documentos que precisou apresentar.
O núcleo familiar é a queixa comum de quem pleiteia o benefício pela primeira vez e mesmo de quem tenta renová-lo. Alunos que se sentem prejudicados pretendem fazer uma carta aberta pedindo explicações sobre essas regras e relatando a situação deles, além de convocar outros estudantes em situação semelhante. Pela Constituição, fazem parte do grupo familiar aqueles que residem sob o mesmo teto.
REVOLTA Estudante do 2º período de história, Dâmaris Starling, de 25, também está revoltada. “Não aprovam as bolsas justamente de quem é mais vulnerável, ou seja, aqueles alunos sem qualquer vínculo financeiro ou até emocional com a família. Não é todo mundo que tem relação familiar estável, e as assistentes sociais não querem entender isso”, diz. No caso de Dâmaris, está na corda bamba a namorada dela, que não tem parentes e teve recusado o contrato de união estável entre as duas – uma comprovação de quem é seu efetivo grupo familiar. “Com as cotas, está vindo gente mais necessitada para a universidade, que não está sabendo lidar com isso. Em vez de atender a demanda, está excluindo.”
O pró-reitor de Assuntos Estudantis da Ufop, Rafael Madalena, afirmou que ainda não ocorreram cortes nos programas de assistência estudantil em função do contingenciamento dos recursos federais. “Estamos mantendo o padrão de bolsas”, garantiu. A coordenadora de Assuntos Estudantis da universidade, Carmélia Vaz Penna, afirmou que, muitas vezes, os estudantes consideram que têm o perfil para receber a bolsa, mas não atendem aos critérios da política da universidade. Segundo ela, desde 2012, foram feitas adequações para a redistribuição dos recursos entre as faixas socioeconômicas – escala que vai de A a D. Ela garante que as alterações não têm o objetivo de tornar mais difícil a concessão das bolsas e que, ao contrário, os métodos estão sendo aprimorados para facilitar o acesso. Carmélia afirma que, em caso de discordâncias com as análises, há uma comissão que recebe os alunos para prestar todos os esclarecimentos.