Jornal Estado de Minas

Polícia terá dificuldades de comprovar se motorista de BMW estava alcoolizado

Polícia investigará militares suspeitos de liberar motorista que bateu BMW na Praça da Liberdade e feriu seis pessoas. Condutor se apresenta e nega que estivesse bêbado

Guilherme Paranaiba

O empresário bateu seu veículo em outro carro e também em um poste na Praça da Liberdade, deixando seis pessoas feridas - Foto: Cristina Horta/EM/D.A Press

A Corregedoria Geral da Polícia Militar vai apurar a conduta dos militares que trabalharam no acidente causado pelo empresário Célio Brasil Júnior, de 23 anos, que bateu uma BMW na madrugada de domingo na Praça da Liberdade, Centro-Sul de Belo Horizonte, ferindo seis pessoas. Testemunhas informaram que ele apresentava sinais de embriaguez e abandonou o local do acidente, mesmo com a presença de policiais militares. Como havia a suspeita de que ele bebeu antes de dirigir, a conduta correta seria prendê-lo e apresentá-lo a um delegado de plantão, que avaliaria o caso. Como isso não aconteceu, Célio escapou do flagrante e por isso a Polícia Civil terá dificuldades de comprovar que ele estava alcoolizado, segundo especialistas. A Ouvidoria de Polícia do Estado de Minas Gerais também encaminhou um pedido de investigação à corregedoria. Ontem, Célio se apresentou à polícia e, em depoimento, admitiu que era o motorista da BMW, mas disse que não bebeu e fugiu porque ficou atordoado com a situação.

“O que aconteceu tem que ser investigado. Todas as pessoas que se envolveram nessa ocorrência têm que ser ouvidas para entender se os policiais agiram da maneira correta”, diz o ouvidor de polícia, Paulo Alkmim.

Ele explica que a ouvidoria será informada do resultado das investigações e que vai acompanhar o caso de perto. “Eu recebi três telefonemas de cidadãos, mas já estava previsto pedir essa investigação para a corregedoria por conta da repercussão do caso”, completa. Ele esclarece que o objetivo é que a corregedoria investigue a atuação de todos os militares que atuaram na ocorrência. No caso dos policiais da 4ª Companhia do 1º Batalhão, a suspeita é que eles teriam deixado o motorista ir embora. Já os homens do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) não teriam se empenhado em tentar rastrear o condutor pela placa do veículo e demoraram três horas e meia para chegar à Praça da Liberdade.

Célio Brasil Júnior procurou a delegacia e chorou muito durante o depoimento - Foto: Euler Junior/EM/D.A PressINQUÉRITO POLICIAL Quem também vai investigar o caso é o delegado Pedro Ribeiro, da Delegacia Especializada de Acidentes de Veículos. Ontem, ele pegou o primeiro depoimento do caso, do próprio Célio Brasil, que se apresentou à polícia mais de dois dias depois da batida. Ele esteve acompanhado dos advogados Marcos Eugênio Dornas e Helena Latalisa e chorou bastante, segundo a polícia. Na saída, ele não quis dar declarações. “Ele assumiu realmente que estava dirigindo e disse também que não bebeu. Falou que saiu do local sem o contato com a PM e que foi embora porque ficou atordoado”, afirma o delegado. Cerca de 15 pessoas, entre militares e testemunhas, ainda devem ser ouvidas. Se ficar comprovado que houve conivência da PM, os envolvidos podem incorrer em uma situação que pode variar entre prevaricação e corrupção, dependendo do que a polícia concluir.

Apesar das declarações de Célio ao delegado, uma das jovens que estava na BMW junto com ele disse ao Estado de Minas no domingo que o grupo de cinco pessoas (duas moças e três rapazes) se conheceu horas antes da batida em uma boate no Bairro Buritis, Região Oeste de BH.
Segundo a testemunha, todos beberam e as duas garotas estavam com os três amigos pegando uma carona de volta para casa. Um frasco cheio semelhante a um tubo de lança-perfume foi encontrado no veículo e foi apreendido pela polícia. “Entre afirmar e a situação ser daquele jeito é muito diferente. Ele saiu do local diante da comoção do acontecimento”, diz o advogado Marcos Eugênio Dornas, que representa Célio.

A princípio, o delegado Pedro Ribeiro explica que os crimes que serão atribuídos são a lesão corporal e o abandono do local. As investigações também podem levar a um indiciamento por embriaguez, mas, sem flagrante, o trabalho da polícia fica prejudicado, conforme acredita o professor de direito processual penal da UFMG, Felipe Martins Pinto. “Fica praticamente impossível provar essa embriaguez. A grande evidência da embriaguez é quando você pega os sintomas no próprio condutor. É difícil que as testemunhas atestem essa questão”, completa.

Entenda o caso

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