Jornal Estado de Minas

Pesquisa do IBGE revela que sexagenários brasileiros estão cada vez mais conectados

Em 2013, 12,6% de pessoas com mais de 60 anos já acessavam a internet regularmente

Márcia Maria Cruz
Deomar Santana, a dona Dedé, optou por um computador de mesa, mas não abre mão do smartphone - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Uma cadeira de balanço, chinelos felpudos nos pés e xales de tricô sobre os ombros. Se essa imagem faz você se lembrar de pessoas com mais de 60 anos, esqueça tudo o que você sabe sobre os sexagenários. O suplemento especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstrou um aumenta no número de idosos high-tech em todo o Brasil. Em 2008, 5,7% de pessoas com mais de 60 anos acessavam a rede mundial de computadores, passando para 12,6% em 2013.  No Sudeste, o percentual é ainda  maior. Em 2008, 7,7% de pessoas com mais de 60 anos acessaram a internet nos três meses de referência daquele ano. Em 2013, esse número mais que dobrou, passando para 17,1%.

Os novos velhos têm nas mãos celulares de última geração, estão conectados pelas mídias sociais e muitos até se arriscam nos videogames. Muitos deles ainda são trabalhadores ativos e estão cada vez mais conectados com o mundo, vivem uma vida autônoma e não estão assim tão distantes da geração Y.
São os casos do casal Deomar Santana Belo, de 81 anos, e Waldemiro Amaral Belo, de 82, a artista plástica Juçara Costa, de 63, e a professora Selmi Escobar Lenoir, de 62, que navegam pelas mídias sociais e são usuários ativos do Whatsapp. “Usamos desde os anos 2000, quando nossa filha comprou para nós um computador”, conta Deomar. Dona Dedé, como é conhecida, fica em média duas horas conectadas e se revesa com o marido no acesso ao computador . “Não abuso. Entro, vejo o que tenho que fazer e respondo às mensagens”, diz. Por causa da limitações na visão advindas com a idade, o casal optou por um computador de mesa com a tela grande. “A maior parte dos idosos não sabe usar, mas está aumentando o interesse. Além de ser uma distração, mantém a nossa mente ativa”, pontua.

- Foto: Juçara Costa acredita que as novas ferramentas ajudem as pessoas a envelhecer de uma forma saudável

Como não estão entre os nativos digitais, quem tem mais de 60 anos se aproxima com cuidado da tecnologia. Selmi temia fazer algo errado quando acessava o computador do marido e das filhas. “A palavra deletar me assustava. Tinha medo de apagar algo importante”, lembra. Aos poucos, percebeu que os riscos eram bem menores do que imaginava.
Se familiarizou com as mídias sociais e, hoje, além de se comunicar com familiares, usa a rede de computadores para mostrar o trabalho de criação que faz. O nível de conhecimento aumentou e ela, inclusive, manuseia programas de edição de imagem com destreza. “No Facebook, tenho muitos amigos, parentes que não via há anos. Também procuro colocar de forma educada meu posicionamento sobre as questões”, diz. Tudo isso sem perder a privacidade. Selmi evita se expor e não coloca informações nem fotos da família.


De um tatear temeroso ao universo tecnológico, Juçara Costa passou a usar, de forma habilidosa, as ferramentas digitais para divulgar o seu trabalho. Ela tomou coragem por incentivo de sua mãe. “Quando ela ficou viúva comprou um computador, frequentou aulas e passou a comunicar com todos. Minha irmã morava na Itália e ela usava o skype para se falarem. Recebeu até pessoas vindas do Canadá.

O computador foi a alegria dela no final da vida. Quando ela morreu, há 7 anos, herdei o computador”, recorda. Juçara acredita que se modernizar é uma maneira de envelhecer melhor. “Depois que passei a interagir no Facebook posso estar em vários lugares.” Ela acessa pela manhã, depois de tomar café e fazer a meditação, para saber o que está ocorrendo no mundo, parabenizar os amigos que fazem aniversário no dia. Também usa as mídias sociais para divulgar o seu trabalho, informando a programação de seu ateliê. O smartphone virou o escritório virtual. “Respondo a todo mundo. Levo as mídias sociais muito a sério. É como se fossem minha sala de visita, onde eu recebo as pessoas”, afirma.

Waldemiro Belo se adaptou rápido às novidades tecnológicas - Foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press

CURSO
Se para muitos jovens não há mistério ao lidar com a tecnologia da informação e comunicação, para quem passou dos 60 anos, muitas vezes é necessário uma ajudinha. Há cursos para que eles possam ter noções básicas sobre programas de edição de texto e também para que possam usar e-mails, usar as mídias sociais e comunicadores instantâneos. “A ideia de oferecer o curso para os idosos foi minha, por causa de meus pais que quiseram aprender”, afirmou Moema Belo, diretora executiva do Colégio Técnico e Faculdade Cotemig. No ano passado, inicialmente foram ofertadas 50 vagas na unidade do Bairro Barroca e 50 vagas na unidade do Floresta. No entanto, a procura foi tamanha, que tiveram de abrir um terceira turma. Para este ano, está prevista o início das aulas para setembro. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (31) 3313-6501.

Jovens invadem a rede mundial


Embora o acesso tenha crescido entre os idosos, os usuários jovens, com maior escolaridade e renda, estão entre os que mais acessam a internet no Brasil, de acordo com a Pnad 2013. Entre as pessoas de 10 a 39 anos, o uso da internet ultrapassa os 50%. Em termos de anos de estudo, os brasileiros com pelo menos o ensino superior completo (15 anos ou mais de estudo) sustentam os maiores índices de uso da internet (89,8%).


Em relação à renda, o avanço do acesso à internet ocorreu principalmente entre as faixas mais baixas, embora o alcance da tecnologia continue sendo maior nas famílias mais ricas. De acordo com o órgão, 23,9% das pessoas com renda domiciliar per capita entre zero e um quarto de salário mínimo tinham acesso à rede em 2013. Essa fatia aumenta quanto maior é a renda, chegando ao pico de 89,9% de frequência na faixa de renda per capita acima de 10 salários mínimos. Segundo o IBGE, o rendimento médio mensal per capita de quem possuía, em 2013, um computador ou tablet era de R$ 1.572, mais que o dobro dos R$ 687 de quem não tinha tais ferramentas para acessar a internet.


O microcomputador é o meio preferido pelos brasileiros para acessar a internet, seguido do telefone móvel celular e do tablet. Na média do país, 88,4% dos domicílios com acesso à internet usam o microcomputador. Na sequência aparecem o telefone celular (53,6%), o tablet (17,2%), a televisão (2,7%) e outros equipamentos, incluindo videogames (0,7%). No Sudeste e no Centro-Oeste, o microcomputador continua sendo o protagonista, mas cada vez mais dividi espaço: aproximadamente um a cada dez domicílios nessas regiões possui tablet, e o uso desse equipamento para acessar a internet também está entre os mais elevados do País. O porcentual de domicílios que recorre ao tablet para acessar a internet ficou em 19,2% no Sudeste.

.