A Praça Rui Barbosa, mais conhecida como Praça da Estação, portal emblemático da construção de Belo Horizonte, está com as fontes desativadas e tem cavaletes improvisados para sinalizar estragos no chão. A falta de parte do gradil sobre as águas é um risco para os pedestres e se repete em pelo menos três trechos do espaço público em frente ao Museu de Artes e Ofícios. Outros sinais de degradação no ponto turístico da Região Central são garrafas, tampinhas, latas, sacos plásticos, guimbas de cigarro e restos de chicletes espalhados pelo quadrante.
Para Júlio Sobrinho, de 74 anos, pior que a “feiura” é o risco de proliferação do mosquito da dengue com a água esverdeada, parada sob o piso do largo. “A falta de educação do cidadão não pode justificar o abandono do poder público. Não dá para dar sopa, assim, para o mosquito”, critica. O empresário lamenta a impressão que pode ficar para os visitantes que, segundo ele, vêm para conhecer um dos pontos mais bonitos da capital. “A gente fica triste. Uma praça tão bonita, com uma fonte maravilhosa, que quase nunca funciona. Este lugar precisa de mais cuidado”, diz.
A água empoçada não está apenas perto do Monumento à Civilização Mineira. Do outro lado da Avenida dos Andradas, as duas fontes também exibem aspecto de sujeira e falta de cuidado. Andressa Mariana de Souza, de 34, garante já ter visto “um monte de bichinhos” na água verde do lugar. “O ponto do meu ônibus é ali na frente e venho da Avenida Amazonas todos os dias pela praça. Já até falei com as minha colegas que esses bichinhos são larvas de mosquito. Eu nunca vi essa fonte funcionar”, afirma.
A amiga de Andressa, Luciana Soares, de 29, reclama da falta de educação das pessoas que “ficam jogando lixo e estragando o jardim”. Já Cleonice da Silva, de 37, propõe campanha de conscientização para que as pessoas aprendam a respeitar o patrimônio. A professora dos primeiros anos da educação fundamental, moradora da Região Central, não poupa o poder público. “A prefeitura está muito preocupada em quebrar as ruas para mudar o trânsito e esquece de cuidar das nossas praças”, critica.
Benedito Ferreira Santos, de 63, também reclama da falta de funcionamento das fontes. Para ele, “a prefeitura tem que cuidar mais e colocar para funcionar”. Segundo o aposentado, do jeito que está, “não é bom para ninguém”. “A fonte é mais beleza para a praça. É para chamar mais a atenção para a praça, que é uma das mais bonitas de Belo Horizonte. E essa água parada pode dar dengue. A gente é tão cobrado para cuidar na nossa casa e numa praça pública a água fica assim?”.
PREFEITURA Procurado pelo Estado de Minas, o Executivo municipal enviou nota sobre a praça: “A prefeitura, por meio da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), informa que os reparos na fonte da Praça da Estação já foram concluídos. Foi feita a impermeabilização dos tanques de água que ficam sob a praça, e todo o sistema elétrico e os motores foram substituídos”. A nota diz ainda que “a prefeitura avalia os critérios que adotará para o funcionamento da fonte, de forma a evitar que o mecanismo das bombas volte a ser danificado por objetos atirados na água, tais como latas de cerveja, guimbas de cigarro, preservativos e outros”
Memória - Manifestações populares
A Praça da Estação é espaço importante da cena política de Belo Horizonte. Entre as manifestações populares mais recentes, destaca-se o movimento Praia da Estação, que, desde 2010, promove ocupações pacíficas e bem-humoradas junto ao Monumento à Civilização Mineira. O decreto do prefeito Marcio Lacerda limitava a realização de eventos na praça e foi criticado pelos belo-horizontinos. O Praia da Estação luta contra a privatização do espaço público e ganhou a simpatia da maior parte dos artistas e intelectuais da cidade.