A postura da Polícia Militar de trabalhar com rondas para se fazer visível e receber denúncias de crimes mudou no câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A ordem agora, segundo o comandante do Policiamento Especializado (CPE), coronel Ricardo Garcia Machado, é para que a unidade responsável, a cavalaria, aborde e reviste pessoas em atitude suspeita de tráfico de drogas. A decisão foi tomada durante reuniões com a reitoria da UFMG, após as denúncias feitas em 27 de março pelo Estado de Minas de que traficantes, ladrões e arrombadores agiam na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). O maior problema foi detectado no Diretório Acadêmico (DA) Idalísio Soares Aranha Filho, que foi fechado pela diretoria. Além do câmpus Pampulha, a Faculdade de Direito, na Praça Afonso Arinos, na Região Central de BH, também enfrenta problemas com tráfico e violência.
A coordenação do policiamento da cavalaria levantou os espaços e rotas utilizadas por traficantes fora e dentro do câmpus. “Aumentamos também a segurança de quem circula pelas áreas externas. O crime é dinâmico e o policiamento também precisa ser, então cabe uma ação contínua de prevenção. O problema maior é o combate dentro dos edifícios, onde a PM não tem acesso. Mas as ações impedem a circulação e a chegada de entorpecentes”, afirmou o coronel Machado.
Além de fechar o Diretório Acadêmico da Fafich para revitalização (o DA funciona agora no primeiro andar), a UFMG ampliou a vigilância privada. Segundo o diretor da Fafich, Fernando Filgueiras, as medidas já deram resultado. “A tranquilidade voltou à faculdade e é perceptível para funcionários, professores e alunos. Agora, estamos acertando junto à reitoria a revitalização do DA, que deve demorar um pouco, mas acredito que ainda neste ano o espaço será mais uma vez aberto”, disse Filgueiras.
Nas outras faculdades, no entanto, essa melhora na segurança ainda não foi sentida. Uma funcionária ligada à direção da Faculdade de Farmácia, que preferiu não se identificar, disse que ainda existem “pessoas suspeitas” em áreas internas e nos arredores, o que faz com que estudantes e trabalhadores prefiram andar em grupos, sobretudo à noite. “Não percebi qualquer mudança. Acho que seria necessário mais investimento em segurança para que possamos ter tranquilidade nas atividades acadêmicas”, afirma.
DIREITO Em mais um capítulo da apropriação de espaços estudantis por traficantes, a Faculdade de Direito protocolou denúncia no Ministério Público Federal e estadual sobre a ação de vândalos, ladrões e traficantes na instituição, que funciona na Praça Afonso Arinos, no Centro. A faculdade tem cerca de 2.500 estudantes.
Os problemas começaram a se tornar aparentes há alguns meses. Traficantes e suspeitos de furtos são denunciados por alunos e professores, por ocuparem espaço no terceiro andar, conhecido como “território livre”, e coibindo assim a livre circulação de quem estuda e trabalha na faculdade.
Um aluno de 20 anos do 3º período de direito conta que os estudantes estão deixando de circular no local por medo. “Já roubaram mochilas e iPads nesse espaço. Vi outro dia um rapaz que não estuda na faculdade com um tijolo de maconha vendendo livremente a droga sem nenhum medo. Quebraram a nossa sinuca, roubaram as bolas e destruíram os tacos. No início, eram poucos. Agora, já contei 35 pessoas, com crianças e adolescentes entre eles”, relata.
De acordo com o estudante, um abaixo-assinado tem circulado para pedir providências às autoridades. “A diretoria e o Centro Acadêmico fazem vista grossa com discursos de liberdade, mas até um dos nossos símbolos de orgulho, que é a placa que homenageia o estudante José Carlos Mata Machado, assassinado pela ditadura, foi pichada”, reclama.
Por meio de nota da assessoria de imprensa, a Faculdade de Direito informou que recebeu as denúncias através da Ouvidoria e as remeteu ao Ministério Público. Isso porque “está além das competências outorgadas a essa diretoria, por se tratar de fato, em tese, prescrito na lei penal, razão pela qual se encaminha o fato ao conhecimento do Ministério Público para que, com as prerrogativas constitucionalmente outorgadas, adote o procedimento que entender pertinente”.
A faculdade ainda colocou-se à disposição para contribuir com as investigaçõess. A nota diz ainda que a diretoria da faculdade “vem estudando e debatendo, junto à comunidade acadêmica, possíveis ações para fortalecer a segurança na instituição, dentre elas a revitalização dos espaços de convivência, controle do ingresso ao prédio da faculdade e reforço no efetivo de segurança”.
ENTENDA A CRISE
Redução nos repasses do governo federal deixou a maior universidade de Minas em dificuldade
Novembro e dezembro de 2014
» A UFMG sofre corte orçamentário de R$ 30 milhões nos repasses feitos pelo governo federal. Pagamentos de contas de água e luz são suspensos e prestadores de serviços, demitidos. Pelo menos 80 seguranças foram dispensados, segundo funcionários do setor.
» Cerca de 250 trabalhadores da área de limpeza e portaria também foram demitidos, pelos cálculos dos servidores, que temiam mais 100 dispensas.
7 de janeiro
» Por determinação do Decreto Federal 8.389/2015, o valor disponível para execução orçamentária mensal de todos os órgãos e entidades ligados ao Poder Executivo federal, incluindo a UFMG, ficou restrito a 1/18 do total.
» A medida representa um contingenciamento de 33% do orçamento previsto para 2015, que duraria até a aprovação da lei orçamentária deste ano.
17 de março
» Lei do Orçamento Anual é aprovada, possibilitando, teoricamente, a retomada do escalonamento de repasse mensal de 1/12. Ainda assim, a regularização não garante a normalização imediata das atividades da universidade.
» Por causa dos compromissos atrasados, que devem ser quitados nos próximos meses, o plano emergencial de redução de custos se mantém.
» Não há previsão de regularização do défict de R$ 30 milhões. Apesar da votação do orçamento, a UFMG informa que os repasses ainda vêm sendo feitos na proporção de 1/18.
Dia 27 de março
» Denúncia de que traficantes de drogas agem livremente no DA da Fafich, na UFMG, foi publicada pelo Estado de Minas. A reportagem mostrou o medo da comunidade e a degradação do diretório, com venda livre de cocaína, LSD e maconha. Professores, servidores e alunos relatam casos de roubo, furto e assédio sexual na unidade.
Dia 28 de março
» O curso de história é suspenso por conta do problema de insegurança que, segundo nova reportagem do EM, não se restringe à Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Cortes no orçamento da União agravaram a crise, ao provocar medidas como a demissão de vigilantes, mas a reitoria decidiu reforçar as rondas no câmpus. Fontes policiais revelaram que a maior parte das drogas que chegam à universidade tem como origem a Vila Sumaré.
Dia 31 de março
» Congregação da Fafich anuncia 10 medidas, entre elas reforço da segurança e fechamento do DA para revitalização