Em meio ao concreto e ao corre-corre típico da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, um convite ao descanso, entretenimento e à convivência foi feito a quem passou na Rua Antônio de Albuquerque ontem. O projeto piloto do BH Parklet estacionou na via, no cruzamento com Rua Sergipe, apresentando à cidade a primeira versão das minipraças instaladas em vagas de estacionamento, como extensão da calçada. A robusta estrutura de madeira conta com mesas, bancos, cadeiras, jardim e bicicletário e é um conceito importada de São Francisco, nos Estados Unidos. No Brasil, já está presente em São Paulo, Fortaleza e Porto Alegre. Em BH, a iniciativa montada por um dia – entre as 22h de sexta-feira e o mesmo horário de ontem –, despertou curiosidade de quem passou no local. Também chamou atenção de comerciantes e moradores do entorno que não só aprovaram a ideia, bem como apoiaram a instalação dos parklets permanentes.
No dia da primeira aparição, teve oficina para apresentar a iniciativa à cidade e mesas de debate sobre a vivência do espaço urbano, com temas relacionados à mobilidade e o direito à cidade. “O que deseja é que os parklets sejam apropriados pela população, porque ele não é só um projeto de arquitetura. É uma construção coletiva”, afirmou uma das idealizadoras do projeto, a cientista socioambiental Flávia Vale Dornelas. Entre as possibilidades de uso da estrutura, estão encontros ao ar livre, espaço para leitura, para atividades escolares, reuniões de grupo, manifestações artísticas, áreas para uso de internet wifi, entre outros. O que se deseja, segundo Flávia, é que o espaço seja integrado ao dia a dia da cidade.
E logo na manhã de ontem, essa vontade já tinha sido alcançada. No início de forma meio tímida, mas aos poucos encantando quem passou pelo local. Bastou passar e ver a estrutura para a aposentada Bete Soares de Matos, de 75 anos, se encantar com a instalação. “Moro na Savassi há 40 anos e acho que todas as iniciativas para deixar a região mais charmosas são bem-vindas. A minipraça enobreceu o espaço e ficou muito melhor do que se tivesse dois carros parados na rua”, afirmou a moradora da Rua Antônio de Albuquerque. “Gostaria que fosse permanente”, frisou.
Se depender da vontada da empresária Nyres Edim, de 51 anos, que tem uma loja em frente ao local onde o parklet foi instalado ontem, o desejo de Bete vai se tornar realidade. A comerciante participou da oficina para conhecer melhor o projeto e disse ter interesse em cofinanciar a implantação. “Pode haver quem pense que são duas vagas a menos. Mas quem vem à Savassi já costuma vir de carona, de táxi ou para em estacionamentos pagos. Além disso, o benefício da estrutura é muito maior do que o ganho com dois carros parados”, afirmou Nyres.
Na capital mineira, pelo menos 15 projotes de parklets permanentes estão sendo desenvolvidos para vias do interior do perímetro da Contorno. De acordo com um dos idealizadores do projeto, o engenheiro agrônomo Luamã Gabriel Lacerda, já há empresas e comerciantes interessados em financiar a implantação das estruturas, que têm custo variável a depender do projeto. Estudos feitos em São Paulo mostram que o investimento para instalar a estrutura varia entre R$ 20 mil e R$ 80 mil, com permissão para permanência de três anos. Em BH, o prazo estabelecido pela prefeitura é de dois anos, conforme o decreto do prefeito Marcio Lacerda, publicado em 13 de março, não há necessidade de licitação para a instalação dos parklets, apenas autorização da prefeitura. “Como é possível usar materiais recicláveis, o curto pode ser ainda menor”, explica Luamã.
Ele destaca ainda que a iniciativa voltada para promoção da convivência na rua e ampliação da ofeta de espaços públicos pode ter prazo de permancência prorrogado no local onde for instalado. E lembrou: “O acesso é livre à toda a população. Mesmo quando financiado pela iniciativa privada, não é possível que o investidor se beneficie da exploração comercial”, disse Luamã. Nesses casos, quem quiser custear a implantação pode ter sua marca vinculada ao parklet naquele local.