Jornal Estado de Minas

Filhos declaram seu amor pelas mães em depoimentos emocionados

No dia delas, o EM convida filhos a abrir o jogo sobre o relacionamento e descobre: não tem bronca, sermão, aperto financeiro ou limitação física que as tornem menos que sensacionais

Sandra Kiefer - Especial para o EM
Walter com dona Dália: mensagem de amor que não depende de olhos ou ouvidos - Foto: Marcos Vieira/EM/DA Press

Do lado das mães, sobra insegurança: quando chega o dia delas, nunca sabem se estão realmente agradando aos filhos. E será que vem presente? Logo para ela, que vive discursando sobre a importância de dosar a despesa? Quem sabe vai merecer um cartão “maneiro” (se liga, mãe, ninguém mais fala “legal”)? O problema é que a data coincidiu com a semana de provas na escola. É aquela hora em que ela, todos sabem, pega no pé (ops, “fica na cola”) deles para estudar. Pensando bem, devem estar até com birra, pensa ela, depois de ser obrigada a cobrar, mandar dormir cedo, dar bronca.

Quer saber? Mãe: relaxa, be happy, tranquila. Se restar alguma dúvida em relação a possíveis demonstrações de amor neste dia especial, há uma dica simples e objetiva: basta perguntar diretamente a eles. O Estado de Minas fez o teste: em vez de pedir a opinião delas, resolveu ouvir logo os principais árbitros da questão. Longe delas, filhos foram estimulados a descrever as próprias mães, sem economizar adjetivos. Poderiam falar o que quisessem, abrir o jogo, soltar os cachorros...
Que nada: todos se derreteram.

Incrível, indescritível, modelo, guerreira, amiga, irmã... Foram apenas algumas das qualidades listadas pelos oito filhos ouvidos nesta reportagem – famosos ou anônimos, crianças ou adultos, vivendo perto ou distante, até morando em outra cidade. “Quer que eu fale sobre a minha mãe? Bem, ela se chama Dália, tem 95 anos. Não escuta e, de uns tempos para cá, começou também a não enxergar. Parece difícil, mas você precisa conhecer. É uma pessoa incrível, fora de série, sem nenhum defeito. Nenhum, mesmo”, atesta Walter Rodrigues de Araújo, de 75.

Tem toda a razão. É preciso ver de perto a história realmente incrível de dona Dália. Para se comunicar com os três filhos (o quarto já morreu), essa mãe foi capaz de criar uma espécie de linguagem própria para conseguir comandar a casa, com pulso firme. Com todas as dificuldades, até hoje ela lava a própria roupa, gosta de dançar e de cozinhar para a família, com o auxílio da filha Vilma. “Ela já havia ficado surda quando o glaucoma atacou os dois olhos. Mamãe foi perdendo a visão aos poucos. No início, desenvolvemos o sistema de escrever para ela em uma lousa, com pincel atômico.
À medida em que foi ficando cega, as letras tiveram que ir aumentando, até que ela abandonou a prancheta. Com isso, passamos a escrever as palavras na própria pele dela, usando a percepção do tato”, conta Walter. Para explicar melhor, ele desenha no braço da mãe a frase: “Gosto de você!”

Dona Dália leva algum tempo para entender. O filho mais velho repete o que disse, soletrando no braço da mãe. Em voz alta, ela revela o que acabou de “ler”. Os olhos imediatamente se iluminam, como se recebessem uma revelação. “Oh, obrigada! Eu também gosto muito dos meus filhos. São as minhas joias”, responde a mãe. “Venho toda semana aqui na casa da mamãe. Se deixar, a gente conversa por horas”, completa o administrador de empresas, comovido.
Esse exemplo de amor à flor da pele se repete com outros nomes, gestos e endereços, em cada depoimento de filhos colhido pelo Estado de Minas, que você conhece na próxima página.

Emocionante: filho explica como se comunica com a mãe, que tem deficiência auditiva e visual


Olhar de filho com as lentes do coração

Para celebrar o Dia das Mães, presentes simbólicos também têm grande valia. Vale flor roubada no quintal, uma simples tapioca no café da manhã, vale até um abraço. Mas tem de ser apertado, daqueles de urso. Respire fundo e se esqueça todo o resto, por dois ou três minutos. É preciso dar um tempo, até que a mãe seja capaz de processar o carinho. Com esses e outros agrados, os filhos ouvidos pelo Estado de Minas vão tornar concreta hoje a sua admiração, traduzida nos depoimentos nas palavras com que descreveram suas heroínas.

- Foto: Túlio Santos/EM/DA Press

A conectada

“Falo demais e não consigo definir minha mãe em uma única palavra. Ela é carinhosa, preocupada e dedicada demais a mim. Como sou filho único, nunca tive de dividir a atenção dela com mais ninguém”

André Correia, de 21 anos, universitário

O universitário André Correia já reservou a passagem na rodoviária e pretende almoçar hoje com a mãe, a dona de casa Valgdair Ferreira Costa Correia, de 60 anos, em Curvelo, a 171 quilômetros de Belo Horizonte. Antes mesmo de embarcar, o jovem derrete-se em lágrimas ao contatar a mãe via internet. “Te amo demais, mãe!”, declara o rapaz, com os olhos azuis inundados. Do outro lado da tela, a mãe também chora ao ver o filho único. A conexão entre os dois pode ser percebida logo. No dia marcado para a reportagem, já haviam conversado quatro vezes – duas via celular e duas por mensagens. Desde que passou no vestibular e veio estudar na capital, há quase três anos, o rapaz nunca deixou de conversar com a mãe. No ano passado, André a presenteou com um minitablet. “Fico conectada 24 horas, esperando ele me chamar. Até quando saio com meu marido meu filho vai junto, com o aparelho”, confessa ela, que não resistiu a adicionar todos os amigos virtuais do filho no Facebook, com a permissão dele. Os jovens costumam curtir as postagens da mãe do André antes mesmo de ele ver.

- Foto: Beto Novaes/EM/DA Press

A compreensiva

“Eu me espelho muito na minha mãe, que é uma mulher de fibra. Uma guerreira, que sempre vou levar comigo para onde quer que eu vá”

Tereza Brant, de 22 anos, modelo

“Minha mãe sempre me entendeu. Antes de me julgar, procurava conversar comigo. Desde cedo, notou que eu tinha um gosto meio diferente do padrão. Mesmo menina, gostava de usar roupas largadas e bermudas do tipo street. Ela olhava para mim e falava: ‘Você está linda!’. Já meu pai tentava me incentivar a usar vestidos. Mamãe virava para mim e dizia: ‘Sei que você não gostou, mas tente usar hoje, só para agradar ao seu pai!’.” Com um texto parecido com este, Tereza Brant, de 22 anos, pretende homenagear a mãe por intermédio do Instagram. Modelo e estudante de teatro, Brant tem status de celebridade na internet, com milhares de seguidores. Para quem ainda não conhece, o garoto descobriu, aos 7 anos, que havia nascido no corpo errado. Com o tempo, veio a se tornar filho único de Cleide. Hoje com barba e músculos bem definidos, confessa que está com saudades da mãe. Em janeiro passado, Cleide Borges, de 53 anos, mudou-se para Uberaba, no Triângulo Mineiro, com a missão de cuidar do pai doente. Desta vez, o cumprimento pelo Dia das Mães não poderá ser dado pessoalmente. Culpa das gravações do programa Ele ou Ela, que estreia na terça-feira, no YouTube.

- Foto: Arquivo pessoal

A famosa

“Às vezes ela te visita e, no mesmo dia, volta para o trabalho lá na outra cidade. Mas nunca trocaria minha mãe por nada. Para mim, ela é a mãe mais perfeita do mundo”

Nina Takai, de 11 anos

Nem sempre é fácil ter “mãe famosa”. Que o diga Nina, de 11 anos, filha da cantora Fernanda Takai, vocalista do Pato Fu e casada com o baixista da mesma banda, John Ulhôa. “Todo mundo acha que é tudo, mas quando uma turnê é lançada, aí a coisa complica”, conta a pré-adolescente, em uma redação escrita especialmente para Fernanda. Neste Dia das Mães, quase que as duas estiveram separadas pelo lançamento do último disco, cuja turnê começou na última sexta-feira, em Porto Alegre (RS). Para driblar as saudades doídas, como descreve Nina, mãe e filha colocam em prática o ensinamento contido no título do novo álbum: Não pare pra pensar. Nina chegou a participar com vocais no disco anterior da banda, Música de brinquedo, que mostra a releitura de canções adultas aos olhos das crianças. Devido ao sucesso das apresentações ao vivo, a turnê nunca acabou, sobrepondo-se à de inéditas. “Todos os dias aprendo uma coisa nova com minha mãe, que sempre foi muito gentil e atenciosa comigo. Quando arrumo encrenca, ela também fica brava, como toda mãe. No fundo, sei que é para o meu bem. Ela é um anjinho”, define Nina.

- Foto: Túlio Santos/EM/DA Press

Em dose dupla

“A minha mãe é legal, carinhosa e amorosa. E ela faz o melhor espaguete com molho branco que existe! E ainda põe
queijo ralado por cima...”

Rebecca Duque (E), de 7 anos

Depois de ter Daniel, hoje com 16 anos, Simone Duque, de 40, estava desistindo de dar uma irmãzinha para o filho, que havia nascido de um parto traumático, com direito a trombose e embolia pulmonar. Ela tentou engravidar por quase 10 anos, chegando a fazer inseminação artificial. Quando desistiu e entrou com processo de adoção, descobriu que estava grávida. Como resultado, Estér e Rebecca são praticamente irmãs gêmeas, embora uma delas seja biológica e a outra, filha do coração. Como já preparava o enxoval e o quarto para a filha adotiva, as roupas foram aproveitadas pela a segunda, que tem poucos meses de diferença – uma tem 8 anos e a outra, 7. Em conversa reservada, as meninas revelam que não existe a mínima distinção de tratamento entre elas. Só de gostos: “Somos muito diferentes. A Teté (Estér) gosta de judô e de filmes de terror. Eu prefiro balé”, revelou Rebecca. E se pudessem mudar alguma coisa em Simone? As irmãs chegam a responder juntas: “Ela é ótima no trabalho, mas bem que a gente preferia que ficasse o dia inteiro em casa. Às vezes, ela demora taaaanto a chegar”, reclamam.

- Foto: Jair Amaral/EM/DA Press

A batalhadora

“Cheguei a achar que não dependia dela até o dia em que mamãe adoeceu. Fiquei sem chão. Senti muita falta dela, que sempre me apoiou e foi minha melhor amiga”

Emanuelle Mendes Fialho (E), de 28 anos, educadora física

“Não sei falar as palavras difíceis, mas sempre cobrei o estudo das minhas filhas”, admite a feirante Geralda Mendes Fialho, de 52 anos, moradora de Ibirité, na Grande BH. Como trabalhava o dia inteiro para ajudar o marido, que ganhava pouco, deixava a caçula Gabrielle aos cuidados da irmã, Emanuelle, sob a supervisão da avó. Hoje com 22 e 28 anos, as duas atribuem à rigidez da mãe terem insistido até chegar à faculdade. “Lembro até hoje que, na única nota vermelha que tirei na vida, mamãe me obrigou a tomar aulas de reforço”, revela Gabi, que está cursando letras na UFMG. Formada em educação física, Manu dá aulas em academias de ginástica, além de participar de grupos de teatro e música na igreja. Depois de passar cerca de três anos em depressão, dona Geralda só aceitou se levantar da cama para acompanhar Emanuelle em uma viagem a Maceió. Ela conta que arranjou forças para ir quando a filha confessou que estava no fundo do poço, após o rompimento com um namorado. “Para mim, ser mãe é uma troca. A gente doa nosso tempo e nosso amor, mas acaba recebendo em dobro”, ensina, com a sabedoria dos mais vividos..