Jornal Estado de Minas

Motorista de carreta que causou acidente no Anel Rodoviário nega alta velocidade

Daniel Fabrício Faleiro, de 34 anos, disse para a polícia que acredita em falha mecânica no veículo

Cristiane Silva Luana Cruz

O motorista Daniel Fabrício Faleiro, de 34 anos, que provocou o acidente com morte no Anel Rodoviário na noite de quarta-feira, foi ouvido nesta quinta pela delegada Rosângela Souza Pereira Tulher, no Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG).

Ele negou que estivesse em alta velocidade e alegou falha mecânica na carreta. O teste do bafômetro mostrou que ele não estava embriagado ou sob influência de álcool.  

“Ele pensa que é falha uma técnica, tentou frear e não conseguiu. Assim que viu os carros parados tentou frear e viu que o caminhão estava desgovernado. Ele acredita que seja falha mecânica, muito embora tenha revisado o caminhão. Ele já tem 10 anos de estrada, tem experiência. Ele acha que teria sido falha mecânica porque o caminhão não respondeu ao comando e quando viu já havia batido no primeiro veiculo, ficando desgovernado.
Alega que estava por volta de 50 ou 60km/h”, disse a delegada, conforme as informações relatadas pelo motorista ao dar entrada na delegacia, quando foi ouvido informalmente.

Conforme a delegada, a perícia técnica mostrará em 30 dias os resultados de análise do tacógrafo do veículo, para confirmar a velocidade. Nesse mesmo prazo sairá o resultado dos exames toxicológicos de Daniel Fabrício.  O delegado Diego Fabiano Alves, responsável pela Delegacia Especializada de Acidentes de Veículos (DEAV), seguirá as apurações do caso. 

O Estado de Minas mostrou ontem que um radar quebrado no trecho de descida do Anel levava risco a motoristas, mas o delegado afasta a relação desse redutor de velocidade desligado com o acidente. “O acidente foi antes do local onde era este radar e ao que parece o trânsito já estava parado ali. Tendo radar ou não, a princípio, acredito que para esse caso especifico é irrelevante. A perícia que vai concluir. É claro que é um controle de fiscalização, ajuda os condutores a respeitarem a velocidade limite. Acredito que não foi determinante para o acidente. A princípio foi imprudência ou desatenção dele, mas vamos tentar entender a parte mecânica do caminhão”, afirma.

O delegado já adiantou que Daniel Fabrício não deve ficar preso porque colaborou com a polícia e não omitiu socorro. A polícia não trabalha com possibilidade de autuação por homicídio doloso, por isso não cabe prisão do motorista nem mesmo cobrança de fiança.

O advogado do caminhoneiro, Lucas Laire, disse que a empresa responsável pelo veículo vai apoiar as investigações. “O Daniel está tranquilo, vai prestar somente o depoimento formal.
A empresa vai colaborar, fornecer documentação necessária para a policia esclarecer o acidente. Ele não ingeriu bebida alcoólica, não fez uso de qualquer substância entorpecente. A gente vai aguardar resultados da perícia. Qualquer antecipação de julgamento ou mérito é precipitada e não responde às questão da Justiça, que é o que todos nós procurarmos esclarecer neste episodio”.

A carreta desgovernada desceu o trecho mais crítico do Anel Rodoviário, na Região Oeste de Belo Horizonte. Há quase três anos não ocorriam acidentes graves nos três quilômetros de descida entre os bairros Olhos D’água e Betânia. Um total de 11 veículos – dois deles de carga e nove carros de passeio – foram envolvidos. O motorista de um dos carros, Luiz André Alípio Araújo, morreu preso às ferragens e outras quatro pessoas foram socorridas com ferimentos. O corpo da vítima deve ser liberado do Instituto Médico Legal de BH na tarde desta quinta-feira.

Testemunhas

O fisioterapeuta Willian Washington Reis, de 37, foi o primeiro a ter seu Vectra atingido pela carreta desgovernada.
“Vim acompanhando a carreta desde a BR-040 na altura do Jardim Canadá. O motorista dirigia na faixa da direita e não estava em alta velocidade. Na entrada do Anel Rodoviário estava tudo normal, até que próximo ao radar. Eu estava na faixa do meio. Quando diminuí, vi que ele veio pela direita e me passou, indo para a terceira pista na esquerda. No radar, ele freou, mas a traseira da carreta rodou e me atingiu. Foi então que aconteceu a sequência de choques, com carros descontrolados batendo uns nos outros”, contou Reis.

Já o orçamentista Adalberto Santos, de 37, disse que percebeu o veículo de carga vindo em sua direção. “Em um período de 10 segundos, vi a carreta pelo retrovisor e o motorista piscava farol e buzinava. Eu estava na pista do meio e só comecei a jogar para a direita e a carreta passou raspando na lateral esquerda do meu carro e me jogou contra outro veículo.”

A descida entre os bairros Olhos D’água e Betânia é considerada o percurso mais perigoso do Anel Rodoviário. Entre os desastres no trecho, um dos mais graves ocorreu em janeiro de 2011, quando cinco pessoas morreram, entre elas Ana Flávia Gibosky, então com 2 anos. Ontem, o Estado de Minas mostrou que um dos radares que regulam a velocidade na ladeira está desligado há dois meses, depois de ser atingido por um veículo em uma batida. O aparelho fica poucos metros adiante do local onde a carreta parou, depois de percorrer 500 metros desgovernada.

(Com Landercy Hemerson).