Jornal Estado de Minas

Quantos ainda vão precisar morrer?

Nova tragédia deixa evidente o descaso no Anel Rodoviário de BH

Com a via mais movimentada de BH. Especialista adverte que obras na estrada estão pelo menos 10 anos atrasadas

Guilherme Paranaíba, Pedro Ferreira e Cristiane Silva
No local onde ainda havia destroços do acidente, carreta desce pela esquerda, em alta velocidade - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press

Imprudência, ausência de ações que amenizem acidentes, deficiências na operação da rodovia e nenhuma previsão para obras definitivas. As falhas que se eternizam e tiram vidas no Anel Rodoviário de Belo Horizonte ficaram mais uma vez evidentes depois que uma carreta atingiu 10 veículos, matando uma pessoa e ferindo outras quatro na noite de quarta-feira, no trecho mais perigoso da via, conhecido como descida do Betânia, na Região Oeste de BH. A Polícia Civil já começou a investigar o caso e a perícia vai verificar se o veículo de carga estava acima dos 60 km/h permitidos quando ficou desgovernado. Aos policiais, o motorista Daniel Fabrício Faleiro, de 34 anos, disse que uma falha mecânica causou o acidente. Especialistas afirmam que não dá mais para esperar pela sonhada reforma da estrada, cuja última vítima foi Luiz André Alípio Araújo, de 43, que trabalhava como restaurador de carros antigos. O problema é que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) afirma que neste ano não há chance de as máquinas começarem os trabalhos nos 26,5 quilômetros mais movimentados da capital mineira.


Anteontem, o Estado de Minas mostrou que um dos seis radares dos 5,3 quilômetros da descida do Bairro Betânia foi retirado há mais de dois meses, devido a avarias causadas por uma batida. Na tragédia da noite de quarta-feira, a carreta parou poucos metros antes do radar estragado. Para o coordenador do Departamento de Transportes da Fumec, Márcio Aguiar, problemas como a ausência do radar deixam evidente que as autoridades precisam melhorar a operação no Anel.

“Uma das coisas que podem ser feitas é reforçar a fiscalização com radares móveis, para acabar com a prática de motoristas diminuírem no radar e acelerarem fora dele”, afirma Aguiar, que também defende a criação de áreas de escape ao longo da rodovia. “Já passou muito da hora da revitalização completa do Anel. Com a passividade das nossas autoridades, quem está sendo castigado são os usuários da Grande BH”, afirma.


Para o coordenador do curso de engenharia de transportes do Cefet/MG, Guilherme Leiva, a requalificação do Anel Rodoviário, que eliminaria problemas como acessos precários e ausência de pistas marginais, está atrasada pelo menos 10 anos. “A ocupação que se tem no entorno do Anel não é compatível com o trânsito que circula por ele”, afirma o especialista. Ele lembra também que tão importante quanto reformar a via é criar o Rodoanel, para retirar de dentro da capital o fluxo de carga e de longas distâncias.


O superintendente do Dnit em Minas, Evandro Fonseca, afirma que técnicos do órgão estão trabalhando para finalizar o anteprojeto da reforma. O documento, afirma, leva em conta os estudos anteriores, mas descarta começar a obra apenas por trechos prioritários, como havia sido cogitado pela gestão anterior. “Estamos considerando todo o Anel Rodoviário. A obra será feita pelo Regime Diferenciado de Contratação Integrada, no qual a empresa vencedora será responsável também por detalhar as intervenções. Nossa expectativa é terminar esse documento até novembro”, informa. Sobre o início efetivo da obra, Fonseca afirma que essa decisão será tomada por Brasília.

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