Jornal Estado de Minas

Revigoradas, praças de BH viram locais de lazer e convivência

Espaços públicos em diversos bairros da capital fazem a alegria dos moradores e contribuem para humanização da cidade

Porteiro de um prédio em frente à Praça Cairo, Vicente de Paula cuida das plantas do local com muito carinho e garante que não desperdiça água no esforço que faz para manter os jardins bonitos e viçosos - Foto: Euler Junior/EM/D.A Press
Em uma Belo Horizonte cada vez mais verticalizada e com menos áreas verdes, a população está redescobrindo as pequenas praças públicas dos bairros como importantes espaços de convívio social. Nos últimos anos, esses locais foram sendo abandonados pelos belo-horizontinos, principalmente a partir da década de 1980, com a inauguração do primeiro grande shopping da cidade, mas agora a situação está mudando e as pessoas estão retornando para esses pequenos oásis, que são de grande importância no cotidiano urbano segundo a arquiteta da UFMG Natacha Rena. %u201CAntes, a diversão era frequentar espaços confinados, como praças de alimentação de shopping, mas a gente está assistindo novamente ao regresso da população para os espaços abertos da cidade%u201D, disse Natacha. Para ela, BH está vivendo um esgotamento dos espaços privados e crianças e adultos já não ficam mais tão confinadas em pilotis de prédios ou diante do computador o tempo todo. %u201CA praça possibilita a convivência com as diferenças e com pessoas de outras classes sociais que não são do seu ciclo fechado%u201D, comenta. Para a arquiteta, estudos comprovam que quanto mais as pessoas participam da cidade, mais a violência diminui. %u201CQuando você tem muita gente nesses espaços, cria uma sensação de segurança, de conforto%u201D, conclui. O Estado de Minas visitou oito praças das regiões Centro-Sul, Leste, Pampulha e Nordeste da capital e constatou que muitos moradores adotam as pracinhas como uma extensão das suas casas. A Praça Cairo fica no ponto mais alto do Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul, e é lá que todos os dias o engenheiro Marcelo Maia, de 71 anos, faz caminhada. %u201CEssa praça representa muito para os moradores do bairro.
Crianças, babás, idosos, animais de estimação. Aqui todo mundo se encontra%u201D, comenta Marcelo. A dentista aposentada Marlene Rios de Castro, de 75, mora em um prédio de frente para a praça e é ela quem cuida dos canteiros. %u201CAdotei essa praça há muitos anos, mas hoje todo mundo do prédio contribui. O dia todo tem movimento%u201D, diz Marlene. Porteiro de um prédio ao lado, Vicente de Paula Soares, de 55, se encarrega de regar as plantas da praça. Mas, diante da crise hídrica, segundo ele, os aspersores ficam ligados no máximo por sete minutos. Os frequentadores contribuem com a limpeza do espaço e não deixam sujeira no chão. %u201CDonos de cães sempre carregam sacolas plásticas para recolher as fezes dos animais. A praça é ponto de encontro de muitas senhoras do bairro. Há um clima de interior. É muito interessante essa relação dos vizinhos. Às vezes, você mora em um prédio e nem sabe quem mora no apartamento ao lado%u201D, disse Marcelo. %u201CPrecisamos criar o hábito de frequentar mais as pracinhas.
As pessoas estão muito individualistas%u201D, critica. O engenheiro conta que a Praça Cairo lembra a sua infância no Bairro Carlos Prates, na Região Noroeste de BH, onde todo fim de tarde as senhoras iam para as varandas e conversavam com as pessoas que passavam na rua. Algumas pracinhas ganham até %u201Cprefeito%u201D. É o caso da Praça Carlos Villani, no Bairro Prado, Região Oeste, onde um senhor idoso cuidava do espaço público, mas ele faleceu há três meses e o local já dá sinais de abandono. O mato cresceu, as lixeiras estão cheias e há sujeira por todo lado. Seu Brandão, como ele era conhecido, deixou de herança um oratório que ele mesmo construiu na pracinha, para abrigar as imagens da Sagrada Família. Muita gente passa pelo local e reza. Alguns deixam flores. Uma frondosa árvore da Carlos Villani ganhou abrigos para pássaros em seu tronco. São casinhas de madeira colorida, onde as aves fazem ninhos. %u201CDe vez em quando, músicos se reúnem na praça para tocar violão e cantar. Em feriados religiosos, as procissões dos bairros Prado e Calafate se encontram aqui.
Há muitos jovens, garotada namorando ou matando aula, mas nada incomoda a vizinhança%u201D, comenta o analista de sistemas Arnaldo Alvarenga, de 61, que mora em frente. A Praça Coronel José Persilva, em Santa Tereza, Região Leste, é ponto de encontro dos moradores às quintas e sábados. Nas manhãs de sábado, é realizada uma feirinha de hortigranjeiros pelos antigos comerciantes do Mercado Distrital do bairro. Nas noites de quinta, o movimento é maior, com uma feira de alimentos. O lugar é aconchegante e charmoso. Os bancos de cimento são revestidos com mosaicos coloridos. Os canteiros é que precisam de mais cuidado. Eles são pisoteados e não há grama. %u201CAs pessoas chegam e passam a manhã e a tarde sentadas na pracinha%u201D, conta a funcionária de uma banca de jornais, Dirlene Draher, de 30. A aposentada Célia Bastos, de 66, se considera uma privilegiada por morar perto de uma pracinha. %u201CDe vez em quando fico mais de meia hora esperando o ônibus e aproveito um pouco a praça. As árvores são antigas e muito bonitas%u201D, conta. CENÁRIO CINEMATOGRÁFICO Ainda na Região Leste, mas no Bairro Floresta, a Praça Comendador Otacílio Negrão de Lima também encanta pelo seu charme. O espaço já serviu de cenário para o filme O grande mentecapto, de Oswaldo Caldeira, com o ator Diogo Vilela. Atualmente, o sistema de irrigação do lugar passa por reparos e a expectativa dos frequentadores é que ela fique ainda mais bonita. %u201CFaço caminhadas todos os dias aqui. Ela fica lotada de manhã e à noite%u201D, conta a aposentada Graça Gomes, de 65. O fotógrafo Flávio Charchar, de 29, se diverte na praça com os seus dois cães, que ficam soltos e fazem a alegria da criançada. %u201CAcaba que fico amigo de donos de outros cães. A praça é o melhor lugar para você conhecer seus vizinhos%u201D, diz Flávio. A vendedora Sandra Vasconcelos, de 40, vai à praça todos os dias para tirar um cochilo no seu intervalo do almoço. %u201CMuito tranquila. Pouco barulho e as pessoas são agradáveis%u201D, comenta. O estudante Vitor Godinho Lopes, de 23, diz que a Praça Negrão de Lima o faz reviver um pouco sua cidade natal, Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, de onde saiu há três anos para estudar. Ele conta que não resiste quando volta do berçário com a filha Luíza, de oito meses, e leva a criança para brincar. %u201CEla põe os pés no chão, tem contato com a terra. Adora os cães. Para ela, a praça é diversão garantida%u201D, conta o pai. %u201CNo interior, as pessoas sempre conversam umas com as outras. Belo Horizonte é diferente. As pessoas nem se olham. Mas, sempre acabo fazendo amizades na pracinha. Ela cria uma certa intimidade%u201D, observa Vitor..