Prejuízo para as artes cênicas, a cultura de Belo Horizonte e o desenvolvimento de grupos e artistas de teatro, dança, música e artes plásticas. É desse modo que representantes da classe artística da capital avaliam a decisão do governo de Minas Gerais de desistir da implantação do Centro de Ensaio Aberto (Cena), que seria instalado no antigo prédio da Secretaria de Viação e Obras Públicas, na Praça da Liberdade, e a devolução do imóvel para o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), que vai usar o local como sede.
O arquiteto Fernando Maculan, responsável pelo desenvolvimento do projeto conceitual do centro, também lamenta a mudança de função do imóvel, que ele considera ideal para o que o Cena propõe. “Além de ser um edifício de importância enorme dentro do Circuito Cultural, o Prédio Verde tem uma característica única: sua dimensão. Não só o espaço total, mas as salas, maiores que as de outros prédios da praça”, disse.
Por isso, segundo Fernando, os cômodos são ideais para receber, com dinamismo e democracia, tanto artistas durante ensaios quanto a população, que poderia apreciar a arte em formação. “A criação do centro seria um grande benefício para BH, que tem uma cena artística efervescente e diversos grupos consolidados e também jovens iniciando carreira. Seria uma excelente oportunidade para troca de experiências e enriquecimento da cultura da capital e do estado.
DEMANDA SEM APOIO Se criado, o Cena poderia, segundo os representantes dos artistas ouvidos pelo Estado de Minas, suprir uma demanda ainda sem solução em BH: a falta de espaços para ensaios dos grupos de dança, teatro, música e outras manifestações artísticas “A atividade dos diversos grupos existentes na cidade demanda algumas especificidades e uma delas é o local para ensaios. Quando precisamos, temos que alugar”, afirma a atriz e presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões no Estado de Minas Gerais (Sated-MG), Madalena Rodrigues. Segundo ela, essa falta de infraestrutura freia o desenvolvimento de artistas iniciantes e dificulta a atividade daqueles que já estão em cena. “O que a gente lamenta é que os artistas nunca são vistos como uma categoria trabalhadora, que também precisa de apoio. Somos tratados no bojo da cultura de uma maneira geral e isso faz com que não tenhamos horizonte para continuar”, afirma.
Presidente do Sindicato dos Produtores de Artes Cênicas (Sinparc), Rômulo Duque também fala do quanto a efervescência cultural de Belo Horizonte pede um espaço como o Cena. “Temos histórias importantíssimas que precisam ser contadas, vividas e experimentadas. Os prédios do Circuito Cultural abrigam parte da cultura de Minas, mas não há por lá nenhum espaço destinado às artes cênicas, dança, música e demais manifestações artísticas”, avalia. Ele afirma ainda que o Prédio Verde tem todas as características para atender à demanda dos artistas e espera que a decisão de não implantar o Cena seja revista.
OPINIÃO DO EM
Inexplicável má vontade
Difícil acreditar que os atuais responsáveis pela gestão cultural de Minas Gerais tenham decidido, ainda que disfarçadamente, priorizar o desmonte do Circuito Cultural Praça da Liberdade. É claro que há necessidade de aprimoramentos e de eventuais reformas, mas o que não dá para entender é a evidente má vontade, demonstrada desde os primeiros dias do novo governo por meio de declarações estapafúrdias, com um projeto que deu certo e está totalmente integrado à rotina de Belo Horizonte – seja para seus moradores, seja para quem visita a cidade. Aliás, no momento em que os olhos do mundo inteiro se voltaram para a capital mineira, ao sediar jogos da Copa do Mundo, o Circuito se consolidou inclusive como referência internacional. O fechamento do Palácio da Liberdade ao público e a súbita mudança nos planos para o chamado Prédio Verde, um espaço tão esperado pela classe artística, são medidas que apontam para a tentativa de desintegração de uma iniciativa abraçada pela população. A real motivação da atitude açodada? Só os que detêm o poder no âmbito estadual poderão explicar. Se é que pretendem explicar.
Todas as artes contempladas
Espaço democrático para ensaios de grupos e artistas de teatro, dança, música, artes plásticas e multimídia, com estrutura física e apoio necessário para a realização de seus projetos. O Centro de Ensaio Aberto (Cena) na Praça da Liberdade, com cinco pavimentos, teria como destaque as salas de ensaio, algumas com arquibancadas retráteis, bem como áreas de convivência, dando continuidade ao percurso de circulação, vestiários, cantina, depósitos de materiais, setores administrativos e restaurante.
O projeto conceitual do prédio previa para o pavimento que fica no nível da Rua Sergipe duas grandes salas de ensaio para dança e teatro, com área de 161 metros quadrados (m2)), enquanto para o da Praça da Liberdade, principal espaço público da construção, quatro estúdios – dois medindo 168m2 e dois de 144 m2, também seriam destinados ao teatro e à dança.
No segundo andar seriam contemplados dança, teatro e música, com quatro estúdios – dois de 174m2 e dois de 144m2. Especificamente para os ensaios de música, seriam dois espaços de 56 m2 e quatro com 21m2. No terceiro, repetiriam-se os estúdios para dança e teatro, incluindo-se aí áreas administrativas e cantina para os artistas e técnicos.
Conforme a planta do último pavimento, haveria dois espaços de 174m2 e dois de 144m2 para dança e teatro, além do palco de 140m2 e dois estúdios de 56 m2 cada um, dedicados à música. Já a cobertura seria ocupada por terraço jardim, café e área de descanso.
Na concepção do Cena seriam preservados e mantidos os acessos pela Praça da Liberdade e ruas Sergipe e Gonçalves Dias, propondo-se novo acesso para carga e descarga pela praça, perto da área de divisa com o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Uma base metálica instalada próxima à edificação permitiria a carga e descarga no nível da carroceria dos caminhões. Os acessos pela Praça da Liberdade e Rua Sergipe seriam abertos ao público, enquanto os demais teriam caráter mais técnico, restrito, portanto, aos funcionários.