Jornal Estado de Minas

Com prolongamento das chuvas, Minas espera alívio na época de incêndios

Chuva além do período tido como normal leva o programa Previncêndio a prever cenário melhor do que o de 2014

Guilherme Paranaiba
Incêndio na Serra do Cipó foi uma das mais de 860 ocorrências registradas durante o ano passado - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press 15/10/14

Depois das chuvas de abril e maio e com uma previsão do tempo mais favorável para que o restante do ano acompanhe as médias históricas de precipitação, a expectativa da Diretoria de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio) de Minas Gerais é de que as queimadas em 2015 prejudiquem menos o estado em comparação com 2014. O diretor do Previncêndio, Rodrigo Belo, diz que o ano começou com uma perspectiva muito ruim, mas o cenário melhorou. “A partir de janeiro, previmos que o ano seria complicado, pelas poucas chuvas de dezembro e janeiro. Mas em abril e maio as chuvas estão acima do normal. Além disso, a previsão nos aponta uma tendência de o restante do ano acompanhar a média histórica”, afirma o diretor. Para ter condições de controlar as chamas do período seco, a Previncêndio lançou em março o edital para contratar temporariamente 408 brigadistas, 23% a mais do que os 330 de 2014. O contrato necessário para garantir a operação dos aviões modelo Air Tractor ainda não está assinado, mas o diretor garante que a estrutura estará à disposição no período mais crítico e será incrementada, com mais horas de voo e mais capacidade de carga das aeronaves.

No ano passado, o contrato assinado para disponibilizar as aeronaves garantiu a operação de até nove aviões ao mesmo tempo para o transporte de água até focos de incêndio. Somados, eles transportavam até 15 mil litros.
Neste ano, Rodrigo Belo diz que já há uma reserva orçamentária para a questão, mas o contrato ainda não foi assinado. A nova estrutura prevista aumenta a frota de nove para 10 aviões, cuja capacidade somada pode chegar a 20,5 mil litros. “O número de horas de voo contratadas também será maior”, garante o diretor, sem, no entanto, adiantar o montante. Perguntado sobre a chance de as queimadas começarem sem a estrutura dos aviões à disposição devido a trâmites burocráticos e de licitação, ele assegurou que não haverá problemas. “Normalmente, as aeronaves são usadas no período crítico, como o mês de setembro, porque o estado paga para deixá-las à disposição. No período mais tranquilo, usamos os helicópteros da Secretaria de Meio Ambiente (Semad) e também temos o apoio das aeronaves dos Bombeiros e das polícias, que podem ajudar”, acrescenta.

Em termos de efetivo para atuação nas queimadas, a Semad informa que já há 231 funcionários das unidades de conservação do estado treinados em 2014 que podem atuar como brigadistas voluntários, além do apoio de organizações não governamentais (ONGs) e de um efetivo de 1,5 mil militares do Corpo de Bombeiros. O major Sérgio Ferreira, que é comandante do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres (Bemad), diz que este ano será o primeiro período de seca totalmente coberto pela unidade especializada, que está instalada na Grande BH. “São 43 militares na unidade. Pode parecer pouco, mas não é. Com esse efetivo, eu tenho capacidade de articular dentro do próprio Corpo de Bombeiros e aumentar a qualidade do atendimento nas ocorrências”, afirma.

METEOROLOGIA Os meteorologistas apontam que a situação de 2015 sinaliza para um cenário um pouco melhor do que o de 2014, quando foram registradas 867 queimadas dentro e no entorno das 90 unidades de conservação do estado, consumindo mais de 78 mil hectares, o que equivale a 110 mil campos de futebol. O meteorologista Heriberto dos Anjos, do Centro de Climatologia TempoClima PUC Minas, lembra que ano passado foram registrados longos períodos sem chuva. “Neste momento, não temos configurado um grande período de estiagem, que já é comum para a época. Também temos bastante nebulosidade, o que não favorece altas temperaturas e joga um pouco para frente as queimadas”, afirma.
Nos primeiros 17 dias de maio do ano passado, por exemplo, o meteorologista diz que foram registrados 117 focos de calor pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No mesmo período deste ano foram 38 focos, queda de 77%.

“Em alguns lugares da Região Central, já choveu em maio três vezes acima da média histórica para todo o mês”, pontua Heriberto. Por fim, o especialista adverte que nos próximos meses a tendência é de que os focos aumentem, diante da seca, que vai ficar pior. “Mesmo que chova acima da média em meses como junho, julho e agosto, pelo fato da média desses períodos ser bem baixa, abaixo de 15 milímetros, são chuvas que podem não representar alívio em relação às queimadas”, completa..