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Estado de Minas

Exagero no uso de funções de smartphones ao dirigir aumenta risco de acidentes

Motoristas de BH admitem que, além de telefonar e mandar mensagens, usam o celular enquanto dirigem para tirar fotos e até acessar redes sociais. Especialistas alertam para alto risco de acidentes


postado em 26/05/2015 06:00 / atualizado em 26/05/2015 07:07

Flagra de motorista usando smartphone ontem na Nossa Senhora do Carmo: infração rende multa de R$ 85 e perda de quatro pontos na carteira(foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A PRESS )
Flagra de motorista usando smartphone ontem na Nossa Senhora do Carmo: infração rende multa de R$ 85 e perda de quatro pontos na carteira (foto: Fotos: Beto Novaes/EM/D.A PRESS )

A variedade de aplicativos e funções dos celulares amplia o perigo de acidentes no trânsito de Belo Horizonte. Como se não bastasse a distração provocada por ligações telefônicas e mensagens de texto, muitos motoristas da capital admitem que usam aparelhos para fazer quase de tudo enquanto dirigem: acessar programas, fazer imagens e até postar textos e fotos em redes sociais. O comportamento coincide com o constatado em pesquisa recente feita nos Estados Unidos por uma empresa de telefonia móvel, segundo a qual 70% dos mais de 2 mil entrevistados admitiram usar o celular enquanto dirigem. Desse grupo, 40% admitiram que alimentam redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram pelo aparelho, dividindo as atenções com o volante. Autoridades e especialistas alertam que esse tipo de uso aumenta o risco de acidentes.

O consultor imobiliário B.S.B., 26 anos, é um dos adeptos do celular e do volante de forma simultânea. Embora diga saber dos riscos, ele usa smartphone para fazer “de tudo” e admite que postar fotos em redes sociais é uma das principais atividades. "Às vezes você passa em algum lugar e vê uma coisa que pode render uma foto e manda para algum grupo de amigos”, conta. “Não vou ser hipócrita de falar que isso não aumenta a chance de acidentes. É um risco que você corre consciente", afirma. Como ele trabalha muito com o celular, o aparelho se tornou uma forma de comunicação rápida para resolver problemas de clientes que procuram imóveis. "Já houve casos em que desviei o olhar para o telefone e precisar dar uma freada brusca. Não tem jeito, é assim que eu ganho dinheiro", justifica.

O comerciante Alfo Castro, 35, já viu batidas de carro pela distração causada pelo celular, mas ainda assim continua usando o aparelho, sobretudo para mandar mensagens pelo Whatsapp. "Hoje, o aplicativo se tornou o maior meio de comunicação, com retorno rápido e gratuito. Às vezes uso até quando o carro está se movimentando devagar", reconhece. A advogada Andreísa Sanfins, 45, por sua vez, conta que atrapalhou o trânsito por não ter visto que o sinal havia aberto enquanto olhava para o celular em um cruzamento. "Com o sinal fechado acontece muito. Já teve uma vez que buzinaram para mim porque minha atenção estava no telefone e esqueci de andar na hora certa", diz. Casos de uso de celular são facilmente observados no trânsito de Belo Horizonte. Em 10 minutos, a reportagem do EM flagrou nove motoristas falando ou teclando no telefone  na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na altura do Supermercado Verdemar, no Bairro Sion.

A proliferação de aplicativos de táxis tem tirado a atenção até de motoristas profissionais na capital. O taxista Edinaldo da Silva, 40, reconhece que perde a concentração quando precisa responder a pedidos de corridas que chegam pelo celular, que fica acoplado ao painel. "Tenho de olhar para o aparelho para saber o destino e isso me tira a concentração no trânsito, onde devia estar focado. Também preciso levar o dedo até o celular e confirmar que estou aceitando a corrida”, afirma. “O aplicativo é bom para os taxistas, mas é perigoso por aumentar a chance de acidentes", acrescenta.

Risco ampliado

O comportamento de risco admitido por muitos motoristas em Belo Horizonte é condenado por especialistas. Frederico Rodrigues, doutor em engenharia de transportes pela UFRJ, considera que o uso de celular para acessar aplicativos e redes sociais aumenta exponencialmente a chance de acidentes. “Quando você usa o telefone apenas para ligação, perde a audição e parte da sua atenção. Já para lidar com redes sociais e navegar na internet, você perde a visão, que é o principal sentido do ato de dirigir”, diz. “Se as pessoas não criarem a consciência de que isso é errado, a fiscalização terá que atuar de forma pesada", completa. A opinião do especialista é compartilhada pelo analista da Gerência de Educação para a Mobilidade da BHTrans, Ronaro Ferreira. "Essa situação é preocupante porque o uso do celular é cada vez mais comum. Uma pesquisa no Canadá mostrou, por exemplo, que ao usar o celular apenas para falar o risco de acidentes já aumenta 400%. Na hora de escrever no aparelho, o motorista abaixa a cabeça e perde, inclusive, a visão periférica", alerta. Segundo ele, a BHTrans pretende abordar o assunto em campanhas educativas, mas ainda não há data prevista.

Usar telefone celular ao dirigir é infração considerada média pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), com multa prevista de R$ 85,13 e perda de quatro pontos na carteira. De janeiro a abril deste ano, 18.490 motoristas foram multados pela Guarda Municipal e Polícia Militar em Belo Horizonte, média de 154 por dia. No ano passado, a média foi ainda maior: 246 autuações diárias. A Guarda Municipal considera que os números são altos e que a prática de usar celular amplia o perigo no trânsito. A corporação afirma que orienta agentes a sair todos os dias às ruas para coibir esse tipo de comportamento. O Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) não comentou o assunto.

Mensagem de alerta


154

Média de multas por dia em BH por uso de celular ao volante, de janeiro a abril deste ano

40%


dos Entrevistados em pesquisa dos EUA que admitiram usar celular no trânsito disseram acessar redes sociai


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