Jornal Estado de Minas

Consol acusa Cowan de ter usado concreto vencido em viaduto que caiu na Avenida Pedro I

Empresas trocaram acusações em audiência pública de comissão da Assembleia Legislativa de Minas. Fiscalização da prefeitura em construção do Viaduto Batalha dos Guararapes também foi criticada

Viaduto Batalha dos Guararapes caiu, em junho do ano passado, matando duas pessoas e ferindo várias outras - Foto: Policia Civil/Divulgação
Representantes da Consol Engenharia e da Construtora Cowan trocaram acusações nesta terça-feira em audiência pública da Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia Legislativa de Minas, que discutiu as responsabilidades sobre a queda do Viaduto Batalha dos Guararapes, que estava em construção e desabou em julho do ano passado, na Avenida Pedro I, em Belo Horizonte, matando duas pessoas e ferindo várias outras. O diretor-presidente da Consol, Maurício de Lana, responsável pelo projeto técnico do viaduto, listou várias irregularidades que a Cowan teria cometido, segundo ele, como a retirada muito rápida do escoramento do viaduto e o uso de concreto vencido em uma parte do viaduto. Também criticou a falta de uma estrutura de fiscalização mais eficaz por parte da Prefeitura de Belo Horizonte. O diretor da Cowan, José Paulo Toller Mota, que executou o serviço, afirmou que houve erros de cálculo no projeto.

Segundo Maurício de Lana, a mudança no projeto que permitiu a abertura de 42 janelas no corpo do viaduto fragilizou sua estrutura e provocou a queda. Ele disse que a Cowan enviou correspondência à Consol para que avaliasse tecnicamente a possibilidade de abertura de duas janelas na laje superior do viaduto, o que não foi autorizado pela empresa projetista. “No entanto, a Cowan fez 42 janelas no viaduto. Todas essas mudanças não foram objeto da anuência da projetista. E eu desconheço se houve aprovação da Sudecap e do Crea”, afirmou Lana fazendo referência à necessidade de a autarquia da Prefeitura responsável pela obra – a Superintendência de Desenvolvimento da Capital - e do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais se manifestarem nesse caso.

Com uma maquete da parte do viaduto que se rompeu, o diretor da Construtora Cowan, José Paulo Toller Mota, rebateu as acusações do titular da Consol.
Sobre o uso de concreto vencido, ele disse que todo o concreto e o aço utilizados em todas as partes do projeto estavam de acordo com as especificações técnicas. Ele citou o laudo do diretor de Criminalística da Polícia civil, o qual aponta que a Cowan executou rigorosamente o projeto entregue pela Consol.

De acordo com Mota, o erro do projeto da Consol foi não ter dimensionado que a carga do bloco do pilar P3 pudesse ser transferida de modo uniforme para as 10 estacas que ficam em volta do viaduto. Pela análise dele, apenas duas dessas estacas foram sobrecarregadas, recebendo uma carga de 2500 toneladas, o que fez com que essas estruturas afundassem 7 metros no chão.

José Paulo Mota também rebateu as acusações da Consol de que a causa do acidente seriam às janelas feitas no viaduto. Ele respondeu que em obras similares ao Viaduto Batalha dos Guararapes, como o Viaduto B, Norte-Sul, construídos no período em que a Consol atuava na fiscalização, foram feitas várias janelas nessas edificações.

Mota explicou que, no viaduto inteiro, a Consol projetou apenas quatro janelas que não permitem que se entre embaixo do viaduto. Por isso, segundo ele, houve necessidade de se abrir novas janelas nas laterais da obra. Essas estruturas permitem, durante a obra, o trabalho com segurança dos operários e atendem a normas de engenharia civil; e após a conclusão, possibilitam a manutenção do viaduto, de modo que se possa entrar embaixo da laje para fazer verificações de rachaduras, infiltrações ou outras pequenas falhas na estrutura. Além disso, José Paulo disse que a Cowan contratou laudos que comprovaram que a abertura das janelas não comprometeria a estrutura nem provocaria qualquer rompimento.

O deputado Gilberto Abramo (PMDB), que solicitou a reunião, lamentou a ausência na reunião de representante da PBH. Ele anunciou que vai negociar na Câmara Municipal de Belo Horizonte a realização de audiência com a convocação da Prefeitura. Também considerou equivocado o sistema que permite que o contratante da obra seja o mesmo que a fiscaliza. “Acho que o Crea deveria desempenhar seu papel nessas situações, nomeando um engenheiro para fiscalizar essas grandes obras”, sugeriu..