A instalação de uma grade em parte do entorno do Bloco B do Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, no Bairro Santo Agostinho, Centro-Sul de Belo Horizonte, alterou a fachada do prédio, de frente para a Praça Raul Soares, um dos principais monumentos da história da capital. A divisória, que ainda não teve a pintura concluída, foi a solução que a administração do condomínio encontrou para afastar os moradores de rua do local, que, além de outros danos à estrutura do edifício – projetado por Oscar Niemeyer na década de 1950 –, provocava risco de incêndio.
O Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico Municipal foi consultado, por meio da Fundação Municipal Cultura (FMC), mas não informou se a colocação da grade foi autorizada. Desde 2009 o conjunto arquitetônico é considerado área de proteção pelo conselho. A administração do Conjunto JK também foi procurada, mas da mesma forma não atendeu à reportagem.
Um funcionário do Bloco B do JK disse que a cerca foi instalada há cerca de um mês. “A situação estava complicada. Os moradores de rua fizeram um verdadeiro abrigo. Durante todo o dia colocavam fogo em madeira para fazer comida, usavam drogas e praticavam sexo explícito. A gente às vezes jogava água na calçada, mas eles nos intimidavam”, contou o empregado, que preferiu não se identificar. Segundo ele, os moradores aprovaram a iniciativa e voltaram a usar uma área de convivência na entrada do prédio da Praça Raul Soares, que havia sido desativada devido à situação anterior.
ABRIGO O comerciante Elmano Elaoud é o único estabelecido no espaço cercado do prédio, que é de uso misto. Ele conta que há seis meses instalou sua loja de confecções e, desde então, a população de rua veio crescendo na área. “É um espaço de recuo da calçada para uso público, que se tornou abrigo de andarilhos. Quem antes passava por aqui, principalmente crianças e mulheres, sofria intimidação por parte deles. Eu sempre procurei conversar para evitar constrangimentos aos meus clientes”, explicou.
Os moradores que deixaram o local se abrigaram na Praça Raul Soares. O advogado Eduardo Teixeira da Costa, de 53 anos, lamentou a intervenção no patrimônio, mas reconheceu que foi necessária. “Passo aqui diariamente e, do jeito que estava, não tinha condições. Era um verdadeiro abrigo, sem qual quer lei.”