A suspeita de que a construtora Cowan usou concreto vencido na obra do Viaduto Batalha dos Guararapes, que desabou em julho do ano passado, matando duas pessoas e ferindo 23, na Avenida Pedro I, em Belo Horizonte, pode pesar nas investigações. Segundo o promotor Eduardo Nepomuceno, que apura lesão aos cofres públicos e eventual improbidade administrativa, a falha indicaria o descumprimento de procedimento técnico. “A empresa foi paga para usar o melhor produto naquele momento. Deixando de fazer esse emprego, certamente ela responde civilmente”, afirmou.
A acusação de uso de cimento vencido foi feita pela empresa Consol, responsável pelo projeto do viaduto, durante audiência na Assembleia Legislativa de Minas, na terça-feira. O diretor da construtora Cowan, José Paulo Toller Motta, alegou que o material estava em boas condições de uso. Ele disse que o concreto tinha passado do horário especificado em um item da norma, mas afirmou que a regra permite, através de uma avaliação visual, utilizar o concreto condicionado, que garantiria a resistência obrigatória no projeto. “Não posso concordar que isso foi motivo da queda do tabuleiro” disse Toller, um dos 19 indiciados no inquérito da Polícia Civil.
Na tarde desta quinta-feira, Nepomuceno e a promotora do 1º Tribunal do Júri, Denise Guerzoni Coelho, ouviram a ex-chefe do departamento de projetos da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) Maria Geralda de Castro Bahia, também indiciada. Segundo o MP, ela confirmou que a secretaria deu prosseguimento às obras do viaduto, mesmo com o alerta da empresa Consol para necessidade de revisão ampla em projetos. De acordo com o MP, as revisões foram sendo feitas apenas progressivamente, inclusive já com a obra em andamento.