O uso de areia em pontos de encontro do pilar do Viaduto Montese com a Avenida Pedro I pode ter sido o causador da movimentação de 30 centímetros que resultou na interdição da estrutura. A informação, que já havia sido levantada pelo Ministério Público (MP-MG), foi abordada novamente no depoimento do diretor de projetos da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Ricardo Aroeira, na tarde desta sexta-feira.
O erro de execução da obra, por parte da Construtora Cowan, a interrupção da interlocução com a Consol, empresa projetista, e a falta de revisão dos projetos podem ter sido os fatores que contribuíram decisivamente para a interdição do Montese, a queda do Guararapes e a investigação nas outras oito obras que compõe o sistema do BRT ao longo da avenida.
De acordo com o promotor Eduardo Nepomuceno, o MP já tinha a informação do uso da areia na execução da obra, resultando assim na instabilidade da estrutura. “Já sabíamos dessa situação e, no depoimento dele (Aroeira) nas apurações sobre a queda do Viaduto Batalha do Guararapes, foi relembrado o caso do Montese. Isso só reforça o descontrole de ordenação dentro da Sudecap, em relação às obras do BRT ao longo da Pedro I”, explicou.
Segundo Nepomuceno, Ricardo Aroeira disse que a Cowan foi autorizada a realizar projeto de ligação da estrutura, que não havia sido entregue pela Consol, e executar assim a obra. Após os erros de execução e a movimentação da estrutura, foi preciso uma intervenção da projetista, com uso de cimento e mudanças no aparelho de sustentação do pilar, para contornar a situação. “Fica claro que as empresas entre si tomaram decisões sem passar pela Sudecap”, pontuou.
DEPOIMENTO
O diretor de projetos da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Ricardo Aroeira, afirmou na tarde desta sexta-feira que não houve revisão dos projetos do viaduto Batalha dos Guararapes durante sua gestão. Ele foi ouvido pelo MP-MG e disse que os procedimentos foram feitos antes de outubro de 2013, na gestão de Maria Cristina Novais Araújo.
Segundo o promotor Eduardo Nepomuceno, que apura lesão aos cofres públicos e eventual improbidade administrativa, o depoimento de Ricardo tem divergências em relação ao da ex-diretora, que foi ouvida pelo Ministério Público no dia 19 deste mês.
Maria Cristina, que é uma das 19 indiciadas pela Polícia Civil pela queda do viaduto, afirmou que houve continuidade na revisão dos projetos, inclusive na atual gestão. Ricardo Aroeira afirma que se houve apresentação de novas pranchas, elas não passaram pela diretoria de projetos.
O diretor de projetos ainda afirmou que a Sudecap não tem um calculista. De acordo com o promotor, Aroeira disse que os projetos são conferidos, mas sem entrar na análise de cálculos. "Nós já sabíamos dessa situação. Os contratos da prefeitura tentam atribuir essa responsabilidade às empresas", diz o promotor.
INVESTIGAÇÃO
A promotoria de Defesa do Patrimônio Público está ouvindo os indiciados pela polícia e outros possíveis envolvidos. A questão criminal fica por parte do Ministério Público, que ainda não definiu um prazo para oferecer denúncia e para o encerramento dos depoimentos.
Nessa quinta-feira, o MP ouviu a ex-chefe do departamento de projetos da Sudecap. Maria Geralda de Castro Bahia, que está entre os indiciados pela Polícia Civil, confirmou que a secretaria deu prosseguimento às obras do viaduto, mesmo com o alerta da empresa Consol para necessidade de revisão ampla em projetos. De acordo com o MP, as revisões foram sendo feitas apenas progressivamente, inclusive já com a obra em andamento.
O viaduto Batalha dos Guararapes caiu no dia 3 de julho de 2014 matando duas pessoas e ferindo outras 23. Servidores da Sudecap, engenheiros da Consol - empresa que elaborou o projeto estrutural - e da Cowan - empresa que construiu o viaduto - também estão na lista de indiciados.