Não é todos os dias que se pode presenciar uma cena de choro em um abraço trocado entre dois caminhoneiros
Da primeira vez em que se viram, no último dia 20, coube a Pedrinho salvar Marco Túlio de ser queimado vivo dentro da c abine do próprio caminhão-tanque, onde havia ficado preso nas ferragensMarco foi surpreendido na contramão, na BR-040, em uma batida na qual cinco pessoas da mesma família morreram carbonizadas“Fiquei tão nervoso que não me lembro de quase nada, mas deste cara de cabelo grande eu não me esqueço, nãoNaquele dia, ele disse pra mim: ‘Não vou deixar você morrer’”, agradeceu Marco Túlio, o Bolinha, chamando o colega de anjo da guardaPedro Henrique, o Pedrinho, fez questão de dizer que não esteve sozinho na missão: “Sem o motorista da caminhonete Frontier preta, que ajudou a puxar o caminhão pelo cabo de aço, não teria conseguidoEle deu meia-volta e foi embora, enquanto meu caminhão ficou agarrado no congestionamento”.
A tragédia ocorreu na altura de ItabiritoSegundo relatos de testemunhas, uma família a bordo de uma caminhonete cabine dupla S-10 seguia para um velório em Itaobim, próximo a Montes Claros, na região do Norte de Minas
Católico, Bolinha calcula ter permanecido por alguns segundos em estado de torpor, até ter sido “acordado” pela Bíblia e pelo livro Ágape, do padre Marcelo Rossi, que despencaram sobre sua cabeça com o tombamento da cabine“Na hora pensei: É o meu sinalAquilo me acalmou e tive a ideia de começar a jogar as coisas pela janela”, dizFoi quando os outros motoristas retidos no engarrafamento, observando as colunas de fumaça que se formaram no céu, perceberam que havia um sobrevivente no caminhão“Eu tentava sair, mas havia ficado preso pelo impacto”, contaPedrinho explicou que umas cinco pessoas se esforçaram para mover a cabine, que não saía do lugar: “Uma mulher gritava: ‘Sai daí! Vai explodir tudo!’”.
Pedrinho já havia sido motorista de caminhão-tanqueLargou o serviço para acompanhar de perto a infância do filho, Pedro Paulo, hoje com 2 anos, também fascinado por motores de caminhão“No treinamento, a gente é ensinado que tanque cheio não explode fácilCorri até o meu caminhão, para ver se tinha um cabo de açoA firma tinha trocado o meu carro e eu nem sabia se tinha o equipamento”, revelou ele, que correu cerca de dois quilômetro, entre ida e volta, e voltou com o cabo nas mãosNessa momento, surgiu a outra alma boa, anônima, que prendeu o cabo ao reboque da sua caminhonete Frontier, ajudando a arrastar a cabine e a salvar Marco TúlioCom o impacto da batida, Bolinha teve fratura no quadrilHoje deve passar por cirurgia no tornozelo, mas não chegou a se queimar.
“Foi uma história terrível, que acabou bem para meu maridoEle nasceu de novo”, resumiu a professora Aparecida Victoretti, que está ao lado do marido desde o dia da tragédiaA mulher ajuda a receber a romaria de pessoas, amigos e parentes de CarandaíTodos querem se certificar de que ele realmente escapou do acidente com o combustível altamente inflamável, que chegou a destruir outro caminhãoJá Pedrinho aproveitou uma rara brecha na pesada rotina de transportador para conhecer melhor o companheiro – até então anônimo – que ajudou a salvarUm primeiro abraço, que pode transformar o encontro entre anjo da guarda e seu protegido em uma grande amizade.