Descuidos com saúde, seja na estrutura de atendimento ou nos hábitos das pessoas, ainda são um problema para muitos mineiros. Essa é uma das conclusões da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), encomendada pelo Ministério da Saúde e divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Relatos dos entrevistados apontam um sistema de saúde que ainda discrimina pacientes e não garante atendimento pleno e fornecimento de todos os medicamentos. O levantamento com pacientes também indica falta de investimentos em educação e campanhas de conscientização, o que leva ao autodiagnóstico, à automedicação e a problemas de higiene básica (veja quadro).
Pelos números, 11,1% dos mineiros já se sentiram maltratados nos hospitais e postos de saúde, superando a média da Região Sudeste, de 9,3%, e até a brasileira, de 10,6%. Para o presidente da Associação Médica de Minas Gerais, Lincoln Lopes Ferreira, a situação reflete a falta de estrutura nesses locais. “Talvez esse índice traduza melhor a situação da nossa saúde. É a falta de recursos humanos (médicos, enfermeiros, técnicos, atendentes), de instalações e de suprimentos. Isso provoca dificuldades e deixa tensas as relações (entre pacientes e profissionais)”, considera. A pesquisa fez entrevistas por amostragem em domicílios brasileiros em 2013.
A discriminação que muito pacientes sentem quando buscam atendimento pode ocorrer de diversas formas, de acordo com a analista do IBGE Luciene Longo. “Pode ser a forma como o atendimento foi feito ou o sentimento de ter sido tratado de forma pior por julgar que seu problema não é sério. Podem ser questões mais graves como sexo, situação econômica e raça”, enumera. De forma geral, os pacientes mineiros também voltaram para casa sem atendimento mais vezes que a média da Região Sudeste – 3,4% dos entrevistados em Minas disseram que procuraram atendimento nas duas semanas anteriores ao questionário e não conseguiram; o percentual no Sudeste foi de 2,6%.
“O SUS funciona bem na capital, mas no interior é um horror”, diz a dona de casa Neuza Cândida Diniz, de 48 anos, moradora do distrito de Alberto Isaacson, em Martinho Campos, na Região Centro-Oeste. Na tarde de ontem, a portadora de lúpus, diabetes e uma doença pulmonar grave recebeu atendimento na Santa Casa, na Região Hospitalar, e explicou que, na sua terra, receber o tratamento seria algo impossível. “Sou sozinha, só posso me valer do SUS. Em Alberto Isaacson, quase nunca tem médico no posto de saúde. E, quando tem, fica pouco tempo”, afirma. “Em Martinho Campos, a situação não é diferente, há poucos recursos médicos e o hospital nem tem maternidade”, acrescenta Neuza, que, para continuar o tratamento, tem que viajar 2h30 até a capital.
Demora Moradora do Vale do Rio São Francisco, Marta (nome fictício) acompanha a tia que fará uma cirurgia nos olhos. “O problema maior do SUS é a demora no atendimento. Na semana, ficamos esperando o momento da consulta das 6h30 às 11h. E hoje (ontem) ficamos das 8h às 13h. É muito tempo para quem é obrigado a enfrentar uma viagem de mais de três horas”, reclama Marta. “O cansaço para a paciente, de 75 anos, e acompanhantes é enorme. Na primeira consulta, entre deslocamento e espera, ficamos 24 horas em Belo Horizonte”, lamentou.
Um dado preocupante, na avaliação do presidente da Associação Médica, é a relação muito alta dos pacientes que afirmam ter tido dengue, mas que admitiram que esse diagnóstico não foi dado por um médico. “Nem todos os casos com sintomas de dengue são dengue. Quando temos sobrecarga e falta estrutura, os índices de subdiagnóstico e de diagnóstico tardio aumentam. A pessoa busca uma solução por ela mesma”, afirma. “Isso é do ser humano, mas abre caminho para uma situação perigosa como a da automedicação. Se uma pessoa que tem dengue se medica com AS (analgésico), por exemplo, pode prejudicar a própria saúde”, completa.
Outros problemas que o médico considera prejudiciais e que também foram mostrados pela pesquisa são a baixa consulta a dentistas e a coleta de lixo reduzida no estado, que ocorre em 89,8% dos domicílios mineiros pesquisados ante 95,7% dos brasileiros. “Não tenha dúvida de que o saneamento é um dos principais fatores para a saúde. Estamos (a categoria médica) lutando para o estabelecimento de uma legislação que exija responsabilidade sanitária dos municípios. A falta de recolhimento de lixo e de estruturação teve impacto catastrófico na proliferação dos mosquitos da dengue”, avalia Ferreira.
Pelos números, 11,1% dos mineiros já se sentiram maltratados nos hospitais e postos de saúde, superando a média da Região Sudeste, de 9,3%, e até a brasileira, de 10,6%. Para o presidente da Associação Médica de Minas Gerais, Lincoln Lopes Ferreira, a situação reflete a falta de estrutura nesses locais. “Talvez esse índice traduza melhor a situação da nossa saúde. É a falta de recursos humanos (médicos, enfermeiros, técnicos, atendentes), de instalações e de suprimentos. Isso provoca dificuldades e deixa tensas as relações (entre pacientes e profissionais)”, considera. A pesquisa fez entrevistas por amostragem em domicílios brasileiros em 2013.
A discriminação que muito pacientes sentem quando buscam atendimento pode ocorrer de diversas formas, de acordo com a analista do IBGE Luciene Longo. “Pode ser a forma como o atendimento foi feito ou o sentimento de ter sido tratado de forma pior por julgar que seu problema não é sério. Podem ser questões mais graves como sexo, situação econômica e raça”, enumera. De forma geral, os pacientes mineiros também voltaram para casa sem atendimento mais vezes que a média da Região Sudeste – 3,4% dos entrevistados em Minas disseram que procuraram atendimento nas duas semanas anteriores ao questionário e não conseguiram; o percentual no Sudeste foi de 2,6%.
“O SUS funciona bem na capital, mas no interior é um horror”, diz a dona de casa Neuza Cândida Diniz, de 48 anos, moradora do distrito de Alberto Isaacson, em Martinho Campos, na Região Centro-Oeste. Na tarde de ontem, a portadora de lúpus, diabetes e uma doença pulmonar grave recebeu atendimento na Santa Casa, na Região Hospitalar, e explicou que, na sua terra, receber o tratamento seria algo impossível. “Sou sozinha, só posso me valer do SUS. Em Alberto Isaacson, quase nunca tem médico no posto de saúde. E, quando tem, fica pouco tempo”, afirma. “Em Martinho Campos, a situação não é diferente, há poucos recursos médicos e o hospital nem tem maternidade”, acrescenta Neuza, que, para continuar o tratamento, tem que viajar 2h30 até a capital.
Demora Moradora do Vale do Rio São Francisco, Marta (nome fictício) acompanha a tia que fará uma cirurgia nos olhos. “O problema maior do SUS é a demora no atendimento. Na semana, ficamos esperando o momento da consulta das 6h30 às 11h. E hoje (ontem) ficamos das 8h às 13h. É muito tempo para quem é obrigado a enfrentar uma viagem de mais de três horas”, reclama Marta. “O cansaço para a paciente, de 75 anos, e acompanhantes é enorme. Na primeira consulta, entre deslocamento e espera, ficamos 24 horas em Belo Horizonte”, lamentou.
Um dado preocupante, na avaliação do presidente da Associação Médica, é a relação muito alta dos pacientes que afirmam ter tido dengue, mas que admitiram que esse diagnóstico não foi dado por um médico. “Nem todos os casos com sintomas de dengue são dengue. Quando temos sobrecarga e falta estrutura, os índices de subdiagnóstico e de diagnóstico tardio aumentam. A pessoa busca uma solução por ela mesma”, afirma. “Isso é do ser humano, mas abre caminho para uma situação perigosa como a da automedicação. Se uma pessoa que tem dengue se medica com AS (analgésico), por exemplo, pode prejudicar a própria saúde”, completa.
Outros problemas que o médico considera prejudiciais e que também foram mostrados pela pesquisa são a baixa consulta a dentistas e a coleta de lixo reduzida no estado, que ocorre em 89,8% dos domicílios mineiros pesquisados ante 95,7% dos brasileiros. “Não tenha dúvida de que o saneamento é um dos principais fatores para a saúde. Estamos (a categoria médica) lutando para o estabelecimento de uma legislação que exija responsabilidade sanitária dos municípios. A falta de recolhimento de lixo e de estruturação teve impacto catastrófico na proliferação dos mosquitos da dengue”, avalia Ferreira.