Jornal Estado de Minas

Médicos envolvidos em fraudes das próteses em Minas são afastados da Santa Casa

O prejuízo causado pelo grupo é estimado em R$ 5 milhões nos últimos cinco anos. Unidade de saúde de Montes Claros afirmou que profissionais foram substituídos

João Henrique do Vale
Médicos que trabalhavam na Santa Casa de Montes Claros, na Região Norte de Minas Gerais, e que acabaram presos por envolvimento fraudes para obtenção de próteses foram afastados pela unidade de saúde
Em comunicado divulgado nesta quarta-feira a Santa Casa informou que os investigados deixaram o corpo clínico e já foram substituídos por outros especialistas da áreaA operação da Polícia Federal (PF) terminou com sete pessoas presas, sendo cinco na cidade, uma em Belo Horizonte e outra no Rio de JaneiroO prejuízo causado pelo grupo é estimado em R$ 5 milhões nos últimos cinco anos

O esquema começou a ser investigado em julho de 2014Um médico foi preso e fez um acordo de delação premiadaDe acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o homem recebeu R$ 120 mil no golpe e devolveu R$ 60 milO procurador da república André Vasconcelos informou que o restante não pode ser devolvido, pois foi pago por pessoas particulares e por planos de saúdeA quantia entregue fazia parte do Sistema Único de Saúde (SUS)

Com as informações conseguidas na delação premiada, a PF montou a operação Desiderato deflagrada nesta terça-feiraAo todo, foram cumpridas 72 ordens judiciais em Montes Claros, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Santa Catarina
No Norte de Minas, foram cinco prisões, sendo três médicosNa capital mineira, um empresário também foi levado para a delegacia

A Santa Casa de Montes Claros informou, em nota, que os profissionais presos pela PF foram afastados“Os médicos envolvidos já estão afastados, definitivamente, do corpo clínico, e já foram substituídos por outros especialistas da área, que já assumiram o Serviço de HemodinâmicaOutras suspeitas de ocorrência de atos ilícitos envolvendo profissionais da instituição serão devidamente investigadas e coibidas, como afastamento imediato das atividades”, disse

A Provedoria lamentou o fato“Tais fraudes são geradoras de danos ao nome da instituição, causadoras de prejuízos ao SUS, aos cofres públicos, e diretamente responsáveis por colocar em risco a saúde e a vida dos pacientes que confiam na credibilidade e excelência na assistência à saúde prestada pela instituição”

Como era o esquema

As fraudes aconteciam através de duas empresasSegundo a PF, as próteses não utilizadas nos procedimentos simulados eram desviadas e usadas em cirurgias efetuadas nas clínicas de propriedade dos membros da organização criminosaOs médicos elaboravam dois laudos diferentes para um mesmo paciente: um era encaminhado ao SUS, a fim de justificar o pagamento, e o outro ao paciente
Os doentes não sabiam da fraude no processo

As investigações apontam que o SUS pagava pelo stent tradicional entre R$ 2 mil e R$ 3,5 milJá pelo stent farmacológico pagava R$ 11 milA empresa produtora da prótese pagava aos fraudadores grandes somas pela compra do equipamento, que, na maioria da vezes, sequer chegava a ser usada pelos pacientesOs médicos recebiam das empresas propinas que variavam de R$ 500 a R$ 1.000 por prótese

O grupo chegava a receber R$ 110.000 por mês e os valores pagos, somente por uma das empresas investigadas, chegou a R$ 1.429.902,57 em menos de três anosNos últimos cinco anos, de acordo com a PF, o prejuízo foi de R$ 5 milhõesO grupo criminoso usava uma empresa de fachada para lavar o dinheiro proveniente das atividades ilícitasA polícia investiga as mortes que ocorreram em virtude de procedimentos similares para saber se os pacientes mortos também teriam sido vítimas da organização criminosa

Os médicos, além de receber dinheiro do SUS, costumavam cobrar de pacientes pelos procedimentos executados e pagos pelo SUSPelo menos um doente, que morreu, pagou uma quantia de R$ 40.000 para ser atendido pelos médicos integrantes da organização criminosa