Jornal Estado de Minas

Queda de avião na Pampulha será investigada pela Aeronáutica

Bimotor cai e explode em garagem de casa pouco depois de partir do aeroporto em BH. Piloto, tripulante e policial que estavam a bordo morreram. Moradores escapam milagrosamente

Maria Clara Prates Sandra Kiefer - Especial para o EM Landercy Hemerson Fernanda Borges

Está nas mãos de peritos da Aeronáutica esclarecer se falha humana, mecânica ou combinação de fatores foi o que causou a morte de três pessoas, em acidente com o avião bimotor King Air prefixo PR-ABG, que caiu pouco depois de decolar, às 15h20, do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, na Pampulha, em Belo HorizonteEm uma dinâmica que intriga especialistas, a aeronave despencou sobre a casa de número 105 da Rua São Sebastião, no Bairro Minaslândia, Região Norte da capital, explodindo em seguidaSurpreendentemente, os dois moradores da residência escaparam ilesosEles estavam na horta do imóvel, cuidando de galinhas, quando tiveram a garagem destruída pelo avião em chamasUma mulher que estava nos fundos do imóvel vizinho, onde também funciona uma igreja evangélica, sofreu ferimentosDesde agosto de 2014, foi a sétima ocorrência de pouso forçado ou queda na Região Metropolitana de BH, a primeira com mortes.

De acordo com a Infraero, o bimotor turbo hélice fabricado pela Hawker Beechcraft, modelo C90GTi, tinha como destino a Fazenda Sequoia, em Setubinha, no Vale do MucuriEstavam a bordo dois tripulantes – o comandante Emerson Thomazine, de 43 anos, de São Paulo, e o copiloto Carlos Eduardo Abreu, de Piumhi, no Centro-Oeste mineiro – e um carona, o policial civil Gustavo de Toledo Guimarães, de 38De acordo com colegas que foram ao local, Toledo não estava a serviço, mas também era piloto e estava no hangar.

De acordo com o Registro Aeronáutico Brasileiro, o bimotor estava com a Inspeção Anual de Manutenção (IAM) e o Certificado de Aeronavegabilidade (CA) em diaO primeiro tinha data de validade de 30 de janeiro de 2016Já o CA tinha validade de 16 de julho de 2020O avião era operado pela Atlântica Exportação e Importação, empresa especializada em grãos de café cru

A empresa faz parte da Montesanto Tavares, uma holding mineira que já foi dona das marcas Café Três Corações e Sucos Mais – as duas foram vendidas para grupos internacionaisA propriedade da aeronave é de um banco.



PARAFUSO Por pouco o acidente não fez mais vítimasA aeronave caiu a apenas 50 metros do Centro de Referência de Assistência Social, conhecido como Campo da Providência, onde ocorria uma partida de futebol amador, com torcida formada por moradores do bairroA atenção dos jogadores e de outras testemunhas do acidente foi despertada antes mesmo de a aeronave bater no solo e se incendiarO barulho forte de motor falhando causou curiosidade dos que observavam a aeronave, que repentinamente iniciou uma queda rápida, em espiral.

“Eu moro exatamente de frente para a casa onde caiu o aviãoFoi um susto muito grande; custei acreditar no que via”, relatou Syllas Valadão“O avião começou a falhar e parece que o piloto tentou algo para estabilizar e não conseguiuEle caiu de ponta na garagem e explodiu”, contouSegundo ele, a explosão pôde ser sentida em várias casas da regiãoCom o tremor, telhas de residência próximas se desprenderam e voaram.

“Tinha gente na casa em que ele caiu, mas como ele acertou só a garagem, eles conseguiram sair
Alguns tentaram até voltar e entrar para salvar algo, mas foram impedidos por quem estava perto”, disse Syllas“Eu mesmo tentei me aproximar do fogo, mas não consegui, estava muito quenteInfelizmente, não dava para salvar ninguém ali”, lamentou.

- Foto: Arte Soraia Piva

MILAGRE Quem viu de perto a morte não acredita que tenha escapado ilesoO empresário Isael Franco, de 57 anos, morador da casa número 125, vizinha à residência atingida, diz que a mulher Rosângela da Rocha Diniz, de 50, e seu filho Vitor Hugo estavam em casa na hora em que o avião caiuCom o grande barulho e a intensidade da fumaça, eles deixaram o imóvel correndo, sem entender o que se passavaA casa foi interditada, mas teve apenas as vidraças quebradas, em razão do choque da aeronave no solo“Eu tinha ido buscar minha filha e um vizinho me avisou que o avião caiu ao lado da minha casaFiquei louco e avancei um sinal fechado na Avenida Cristiano Machado, porque não sabia como estavam minha mulher e meu filho”, contou.

Veja o depoimento dos moradores da casa atingida pela aeronave



Sem poder voltar para casa, que está interditada, Isael estava atônito e só conseguiu acolher a mulher e o filho em seu Fiat Uno, estacionado a poucos metros do local do acidente“Apesar do susto, estou feliz, porque meus vizinhos, Zezinho (José Maforte Knupp), aposentado da Aeronáutica, e Maria Geralda (Estanislau), que tiveram a casa atingida, escaparam ilesosEles estavam no fundo do quintal, cuidando da hortaO avião passou por cima deles e caiu na garagem”, conta, aliviado“Lamentamos mesmo só pela vida das pessoas que estavam dentro do avião”, conclui.

PÂNICO
O metalúrgico Gleyson Fernando, de 21, foi a primeira pessoa a entrar na casa atingida pela aeronave, acompanhado do filho dos moradores“Ele estava jogando bola e se desesperouComo tinha muito fogo na entrada, em razão da explosão, passamos pelo telhado e vimos que os dois estavam bem, no fundo do quintal” contaGleyson disse que a explosão provocou incêndio no interior da casa.

Adolescente foi o primeiro a entrar na casa depois do acidenteVeja: