Técnicos dos Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SERIPA III) estão na Rua São Sebastião, no Bairro Minaslândia, Região Norte de Belo Horizonte, onde o bimotor King Air prefixo PR-ABG caiu matando os três ocupantes na tarde de domingo. Os especialistas chegaram do Rio de Janeiro para iniciar as apurações. Eles coletam dados, destroços e fazem entrevistas com testemunhas para tentar determinar as causas da queda.
Do local, os técnicos devem seguir para o Aeroporto da Pampulha, de onde partiu o avião, para recolher informações da torre de controle. Câmeras da Infraero também podem ajudar nas investigações caso tenham registrado imagens da decolagem.
Cinco técnicos do Seripa III trabalham no local nesta manhã. Eles conseguiram resgatar a caixa-preta da aeronave, que será encaminhada ainda hoje para Brasília. Lá, as equipes vão tentar recuperar alguma gravação de voz da cabine. O trabalho terá que ser feito com todo cuidado, já que o equipamento foi muito danificado. As equipes continuam no local recolhendo todos os destroços da aeronave. As peças estão sendo colocadas na calçada e depois serão guardadas em uma empresa de manutenção no hangar do aeroporto da Pampulha. A análise vai apurar se algumas delas apresentava defeito.
De acordo com o major-aviador Raphael Vargas Vilar, chefe da Sessão de Investigação do Seripa III, a divisão vai coletar evidências e analisar os dados para, em uma terceira fase, divulgar o relatório. Ele ainda afirma que não é possível precisar com exatidão quando a investigação será concluída. Um dos fatores que pode levar à demora se deve à aeronave ter sido fabricada nos Estados Unidos e contar com motor canadense, o que pode demandar a ajuda de órgãos internacionais na apuração.
Até o momento, os técnicos só viram a imagem do avião caindo em parafuso, feita por um popular. Na análise de Vilar, tudo indica que o piloto perdeu o controle da aeronave e não teve como escolher o local do pouso. Os técnicos também vão levantar informações sobre as horas de voo do piloto e da documentação da aeronave. Os papeis que estavam nela foram queimados, assim, eles terão que buscar registros primários em empresas de manutenção.
A Polícia Civil informou que por enquanto só está auxiliando as investigações por meio da perícia, pois ainda não há nenhum indício de crime. Os peritos permaneceram no local do acidente até as 20h30 de domingo. O delegado Ramon Sandoli, chefe do Núcleo de Operações Aéreas da Polícia Civil, esteve no local do acidente ontem para acompanhar os trabalhos. O policial que morreu atuava no Núcleo.
Representantes da Atlântica Exportação e Importação, responsável pela aeronave, também estiveram no local hoje. A empresa é especializada em grãos de café cru e faz parte da Montesanto Tavares, uma holding mineira que já foi dona das marcas Café Três Corações e Sucos Mais.
De acordo com a Polícia Civil, os corpos dos três ocupantes da aeronave estão no Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte, onde esperam identificação. Como não foi possível fazer o reconhecimento facial das vítimas, elas devem ser identificadas por meio de exames da arcada dentária e das impressões digitais, informou a corporação.
MORADORES Toda a rua foi interditada, o que não impediu a aproximação de curiosos que acompanham os trabalhos do Seripa. Os donos da casa atingida pela aeronave, o suboficial da aeronáutica na reserva José Maforte Knupp, de 73 anos, a esposa dele, a enfermeira Maria Geralda Estanislau, de 55, passaram a noite na casa da nora e estão ansiosos para retornar. “Se Deus quiser”, diz Knupp, sobre a expectativa de voltar ao imóvel ainda hoje. “Estou querendo voltar assim que fizerem os procedimentos normais, voltar para limpar tudo”.
Veja a entrevista com o casal depois do acidente
O casal estava do lado de fora, cuidando de uma criação de galinhas, quando Knupp viu a aeronave descendo em parafuso na direção dele. O bimotor caiu na rampa e explodiu. Temendo uma segunda explosão, eles correram para o fundo do quintal e conseguiram sair depois que uma parede foi quebrada, a pedido da nora, que queria entrar no imóvel. “O susto meu foi menos do que se eu estivesse dentro de casa e não tivesse visto. Lá fora eu sabia o que ia acontecer”, relata o dono do imóvel.
O avião caiu pouco depois de decolar, às 15h20, do Aeroporto Carlos Drummond de Andrade, na Pampulha, em Belo Horizonte. Em uma dinâmica que intriga especialistas, a aeronave despencou sobre a casa de número 105 da Rua São Sebastião explodindo em seguida. Surpreendentemente, os dois moradores da residência escaparam ilesos. Eles estavam na horta do imóvel, cuidando de galinhas, quando tiveram a garagem destruída pelo avião em chamas. Uma mulher que estava nos fundos do imóvel vizinho, onde também funciona uma igreja evangélica, sofreu ferimentos.
Morreram no acidente, o piloto Emerson Thomazine, 43 anos, o copiloto Carlos Eduardo Abreu, e o policial civil Gustavo de Toledo Guimarães, 38 anos, que trabalhava no hangar da corporação e viajava de carona. Desde agosto de 2014, esta foi a sétima ocorrência de pouso forçado ou queda na Região Metropolitana de BH, a primeira com mortes.