Atrás de cercas altas e portões de metal vigiados por cães e câmeras, proprietários de sítios, bares, indústrias e clubes na orla da represa de Vargem das Flores escondem desmatamentos, lançamentos de esgotos clandestinos e captações que ajudam a sugar a água do manancial que se encontra em situação de restrição de uso, apresentando ontem 38,7% de seu volume útilÉ o que constatou uma operação de fiscalização da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), realizada desde a segunda-feiraDe acordo com os primeiros levantamentos, dos 50 imóveis identificados como alvos, pelo menos 40 (80%) tinham interferência na Área de Preservação Permanente (APP) do reservatório que fica entre Betim e Contagem e que contribui para abastecer a Grande BH.
Foram encontrados pelos fiscais sete captações de água feitas sem outorgasUma das tubulações sugava do manancial para abastecer uma mineradora que explora calcário e teve o maquinário lacradoOutra, que pertence a um sítio de luxo usado em fins de semana, tinha duas bombas que também foram interditadas e traziam água para um sistema de irrigação de jardinsOs demais usos não puderam ser imediatamente suspensos por se tratar de água para abastecimento humano e animal, o que a lei permite que, apesar de autuado, siga ocorrendo.
A água – que já é pouca – sofre ainda com a contaminação por lançamentos clandestinos de esgotos, que obrigam a Copasa a investir mais em tratamentoNo decorrer da operação, os fiscais identificaram dois pontos de poluiçãoUm deles numa oficina mecânica que lançava detritos, graxas, óleos, combustíveis e outros tipos de resíduos em um córrego que despeja suas águas no reservatórioO outro em uma propriedade particular usada para diversão e veraneio, os agentes da Semad localizaram duas fossas negras, que são perfurações em terra nua e sem qualquer tratamento que recebem os esgotos residenciais e contaminam lençóis freáticos que alimentam o lago.
A chamada “Operação vargem das Flores” começou reunindo informações de imagens de satélites para identificar intervenções nos arredores da lagoaParticiparam 50 pessoas entre fiscais da Semad e policiais militares de meio Ambiente
Mas, mesmo com a identificação dos alvos por satélite, a ação dos fiscais não é fácilO nível baixo do reservatório impede que todos os trechos sejam percorridos pelos barcos, que podem encalhar em bancos de areias, pedras, troncos, cercas antigas e outros obstáculos que estavam debaixo d’águaA área de preservação é um labirinto complexo de estradas vicinais com múltiplos entroncamentos e que muitas vezes terminam em porteiras trancadas sem ninguém para abrir os cadeados para os fiscais“Sem a presença dos proprietários para abrir as portas não há como entrar para verificar muitos dos imóveisPor isso, traçamos outras estratégias”, disse Filho.
JARDINS IRRIGADOS A reportagem do EM acompanhou os fiscais numa autuação em um sítio de luxo, com 2,5 hectares de área, usado para veraneio e pertencente a um empresário do ramo do transporte rodoviárioOs jardins de suntuosos paisagismos abrigam piscinas, área de churrasqueia, de esportes e de lazerNo local, os fiscais da Semad encontraram duas bombas de três cavalos de potência, cada uma capaz de sugar praticamente quatro litros por segundoO que mais espanta é que o uso da água escassa declarado pelo proprietário, que não tem outorga, é simplesmente a irrigação dos jardins