Estações do BRT/Move fechadas, centenas de ônibus parados, buzinaço de motoristas retidos no trânsito e revolta de passageiros prejudicados pela falta de transporte. A greve dos rodoviários iniciada na segunda-feira em Belo Horizonte teve o pior dia ontem. No fim da tarde, a categoria suspendeu a paralisação para aguardar reunião de negociação que será realizada hoje às 17h, entre o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) e o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Belo Horizonte e Região (STTRBH). O compromisso assumido pelos sindicatos é de que, até o resultado do encontro, o transporte coletivo da capital funcionará normalmente. Os rodoviários querem o pagamento da participação no lucro das empresas.
Na Estação Pampulha, o problema foi mais grave, porque passageiros foram hostis com manifestantes. “Toda forma de protesto é válida, mas tem de ter organização. Dessa forma, eles atrapalham a vida de quem quer trabalhar. Um grupo prejudica todo o coletivo”, reclamou o professor de artes Diego Stuart, de 27 anos. Ele e outras dezenas de usuários vaiaram os sindicalistas que impediam os motoristas que não aderiram à greve de circular.
Um passageiro mais exaltado, que não quis se identificar, foi detido temporariamente pela Polícia Militar quando se aproximou de forma agressiva dos manifestantes. Centenas de pessoas ocuparam as plataformas, enquanto os motoristas desceram dos ônibus. “Gostaria de saber o que eles estão reivindicando. Duvido que aquele grupo que segura as bandeiras saiba do que se trata o protesto”, completou Diego, que tinha que chegar à escola onde leciona às 8h. Ele ficou cerca de duas horas para conseguir embarcar.
O tempo de espera da auxiliar de serviços gerais Osvaldina Nogueira de Souza, de 40, foi ainda maior. Foram quatro horas em pé na plataforma da Estação Pampulha. “Estou morta de fome. Sou diabética e até agora estou sem café. Os manifestantes estão certos. É direito deles, mas a gente sai prejudicada. No meu trabalho, disseram para eu esperar até a estação ser liberada. Se não for trabalhar, eles vão cortar meu dia”, afirmou ela, que chegou à estação por volta de 6h e só conseguiu embarcar as 10h15, quando alguns ônibus começaram a circular.
Por mais de quatro horas, nenhum coletivo saiu do terminal, o que fez com que passageiros se revoltassem e até jogassem objetos nos sindicalistas. No momento em que os ânimos acirraram, um grupo de cerca de 30 pessoas iniciou uma discussão com o diretor do STTR, Paulo César da Silva. “Nosso movimento é legítimo. A população tem que estar ao lado do trabalhador, porque pedimos melhoria para todos, inclusive para eles. O sindicato não foi atendido nas reivindicações. Na última convenção coletiva, eles acordaram o pagamento da PLR, mas não cumpriram”, queixou-se. Diante do protesto de passageiros, os ônibus que estavam parados na Estação Pampulha seguiram para as garagens para evitar confronto mais sério, segundo Paulo César.
Na Estação Diamante, no Barreiro, muitos passageiros buscaram para chegar ao trabalho. Foi o caso das irmãs Jane Aparecida Corrêa, de 40, e Jucilene Márcia Corrêa, de 24. De acordo com elas, da estação até onde trabalham no Bairro Belvedere, deveriam pagar cerca de R$ 60. “A empresa nos autorizou a pegar o táxi e nos disse que pagará a corrida”, afirmou Jucilene. Elas aguardavam mais duas colegas para dividir o transporte.
A mesma sorte não teve Tâmara Rosa do Nascimento Minas da Cruz, de 23, que ficou mais de cinco horas aguardando um coletivo para ir ao trabalho no Bairro Bonfim. “Começo a trabalhar às 8h, mas me disseram que tenho que chegar lá até as 14h30. Tenho que mostrar para a empresa que eu quis trabalhar, senão eles cortam o meu dia”, disse. Como não há metrô na região, o táxi é muito caro, ela não tinha outra opção a não ser esperar um coletivo, e mesmo assim considerou justo o protesto. “Eles estão sem receber. Se fosse comigo, também iria me manifestar. É direito deles e eles avisaram que iriam fazer a greve”, afirmou.
A BHTrans divulgou um balanço da paralisação dos rodoviários às 17h30, informando que as Estações São Gabriel, Pampulha, Venda Nova já estavam com linhas troncais e alimentadoras operando. As Estações Vilarinho, Diamante e Barreiro continuavam fechadas.
Lojistas apontam prejuízo
A greve dos rodoviários afeta o comércio de Belo Horizonte às vésperas do Dia dos Namorados. Mesmo sem divulgar valores, o presidente do Sindicato do Comércio Lojista de Belo Horizonte, Nadim Donato Filho, disse que o movimento prejudica funcionários e lojistas e tira clientes do comércio. “O prejuízo foi parcial, pois grande parte dos trabalhadores conseguiu chegar para trabalhar, apesar do atraso. Essa situação é péssima para o próprio trabalhador, que sofre com o desgaste”, afirmou.
“Houve grande prejuízo para funcionários e clientes. A perda foi intensificada devido à proximidade do Dia dos Namorados, já que é uma data que aquece o comércio, e a greve causou o afastamento dos clientes”, avaliou Alessandro Runcini, da Câmara de Dirigentes Lojistas da Savassi.
O IMPASSE
Rodoviários cobram pagamento da participação no lucro das empresas
R$ 173
gratificação para quem recebe até R$ 1.188
R$ 347
gratificação para quem recebe acima de R$ 1.188
Servidores municipa voltam ao trabalho
Os servidores municipais de Belo Horizonte suspenderam a greve durante assembleia na Praça da Estação, no Centro, ontem, depois de 20 dias paralisação. De acordo com o sindicato da categoria, os servidores seguem mobilizados nas negociações com a prefeitura. A categoria reivindica reajuste salarial de 25% para ativos e aposentados, retroativo a 1º de janeiro, aumento do vale-refeição para R$ 30, extensivo a toda a categoria, reconhecimento dos cursos de educação a distância e tecnólogos para progressão de carreira, entre outros.