Jornal Estado de Minas

Amigos e músicos do Clube da Esquina se reúnem para adeus a Fernando Brant; saiba como foi

Márcia Maria Cruz Landercy Hemerson



O verso da canção Encontros e despedidas, de Fernando Brant e Milton Nascimento, ilustra bem a  reunião do Clube da Esquina para o velório e o enterro do compositor em BH.

O grupo de amigos e músicos deu fama à confluência das ruas Paraisópolis e Divinópolis, no Bairro Santa Tereza. Ontem, a esquina mudou de lugar. Transferiu-se para o Palácio das Artes, onde familiares, artistas e fãs se despediram de Fernando Brant, que morreu na noite de sexta-feira, aos 68 anos, em decorrência de complicações de um transplante de fígado.

O encontro foi comovente e marcado pela gratidão a quem fez diferença na vida de tantas pessoas. Milton Nascimento, Lô Borges, Tavinho Moura e Toninho Horta foram se encontrar pela última vez com o amigo e parceiro. “Fernando foi um dos meus primeiros parceiros. Fizemos composições que ficaram eternizadas. Era um cara extremamente afetivo e inspirado.
É um querido amigo, é um querido parceiro. É um momento de tristeza”, afirmou Lô. Ele se lembrou de sucessos que compuseram juntos, como Para Lennon e McCartney e Feira moderna.

O velório começou às 9h, quando a família começou a receber fãs e amigos, que prestaram as últimas homenagens. Os irmãos Moacyr, Paulo, Roberto e Lucy foram os primeiros a chegar. Aos poucos, muitos amigos, companheiros do mundo da música, políticos e admiradores foram chegando também. O clima era de muita tristeza, mas de reconhecimento pela importância artística de um ícone da música brasileira. “Ele eternizou que amigo é coisa para se guardar. Digo que irmão é coisa para se guardar. As pessoas o conhecem muito como músico, mas o melhor lado é humano”, disse Moacyr Brant. Fernando, como destacou o irmão, amava o Brasil e demonstrava isso em suas letras. “Era um ser humano extraordinário.”

A filha Ana Luísa Brant, de 39, contou que o pai estava otimistaem relação ao transplante de fígado. “Estávamos confiantes e ele também. Tinha certeza que iria dar certo.
Não imaginávamos que ele iria nos deixar”, lamentou. Para ela, o pai era uma pessoa muito sonhadora e engajada. “Não tenho ideia de como ser filha de outro cara. Um homem admirável, meu ídolo”, afirmou.

À tarde, foi celebrada uma missa de corpo presente. Estiveram juntos por todo tempo a mulher dele, Leise, e os três filhos, Ana Luísa, Isabel, de 37, e Diógenes, de 27. Os irmãos e sobrinhos de Brant também prestaram homenagens.

Muitos políticos também levaram o adeus ao compositor, como o governador Fernando Pimentel (PT), os senadores Aécio Neves e Antonio Anastasia e o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda. “Uma perda inestimável. Fernando Brant carregava consigo a alma mineira e a carregava por todo o Brasil na sua singeleza e profundidade. Era um homem público na dimensão maior que isso pode expressar”, afirmou Aécio. Amigo de Brant, o senador ressaltou que ele foi um dos conselheiros mais importantes de seu governo e teve papel fundamental para pensar o Circuito Cultural da Praça da Liberdade.

Pimentel destacou que Brant é homem de sua geração.
“Ele cresceu junto comigo. Tivemos os mesmos sonhos, as mesmas angústias, esperanças. Pessoa que representa muito o que fizemos da nossa juventude até hoje. Ele fez no campo da música uma das maiores revoluções da música brasileira, o advento do Clube da Esquina. Deixou um legado inestimável na arte e na música popular.” Já o prefeito Marcio Lacerda destacou as qualidades do compositor: “Sempre admirei a sua simplicidade, o seu jeito afável, equilibrado, a personalidade discreta, a voz serena que tanto nos ensinava.”

sepultamento Uma cerimônia discreta, simples, sincera, cercada de emoção, como era o próprio Fernando Brant. Assim foi o sepultamento do compositor no Cemitério do Bonfim, na Região Noroeste de BH. Entre os parceiros do Clube da Esquina, estavam Toninho Horta e Milton Nascimento. Parentes, amigos, muitos do meio musical, e fãs entoaram Canção da América, começando por “amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves... A clássica Travessia, falando da partida do amigo, e Menestrel das Alagoas, com a pergunta: “quem é esse viajante?”.

Muito emocionado, Milton ressaltou a homenagem ao amigo no cemitério, com músicas, como Brant merecia. Pouco antes das 16h, o corpo do compositor deixou o Palácio das Artes em direção ao cemitério, onde dezenas de pessoas foram dar o último adeus.



Milton, amparado por amigos, ficou próximo à cabeceira do túmulo. Com olhar sereno, parecia passar um filme em sua cabeça dos tantos momentos ao lado de Brant, dos quais surgiram tantas poesias, que encantaram gerações. Cantou com voz trêmula e quase imperceptível.

“Não sei falar (sobre a morte de Brant) mais porque é uma tristeza. Eu estava numa felicidade ontem (sexta-feira), antes de saber das coisas. E pensei que era alguém querendo passar um trote; não era, infelizmente. E hoje às 5h da manhã saí do Rio, viemos para cá, agora para saudar um grande amigo de sempre, um dos melhores amigos que a gente pode ter na vida. Não tenho palavras para descrever”, disse Milton, antes de deixar o cemitério.

“Viemos saudar um grande amigo de sempre, um dos melhores amigos que a gente pode ter na vida. Não tenho palavras para descrever”

Milton nascimento

“Fernando tinha uma utopia: queria entrar nas universidades para falar com os estudantes. Ele era muito engajado, queria o bem”

 Tavinho Moura

“Fernando, um dos intelectuais mais brilhantes do Brasil, partiu em seu voo pássaro. Escreveu pérolas que ficarão gravadas no inconsciente coletivo por toda a eternidade.”

 Lô Borges


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