Quase metade das pessoas assaltadas em Belo Horizonte entra para as estatísticas ao caminhar pela cidade. A Polícia Militar sustenta que 40% dos roubos praticados em Belo Horizonte são contra pedestres. Os outros 60% englobam casos como assaltos a residências, a estabelecimentos comerciais, roubos de veículos, de bicicletas e outros. Os ataques nas ruas são um dos dificultadores, segundo a Polícia Civil, para atuar e prender os ladrões, já que a ação é pulverizada e pontual, sem agrupamentos em quadrilhas, complicando a investigação. A rapidez com que os roubos são praticados inviabiliza, muitas vezes, que a vítima consiga até mesmo ver o autor do crime. Diante desse quadro, a população pede mais policiamento nas ruas, mas a PM afirma que não falta patrulhamento. Prova disso, argumenta a corporação, é a lotação das centrais de flagrantes, o que mostra que os criminosos têm sido presos.
Enquanto policiais listam suas dificuldades, a empresária Juliana Almada, de 25 anos, convive com o trauma de assaltos. Ela foi atacada duas vezes por bandidos armados, praticamente no mesmo lugar: nas imediações da Avenida Amazonas, limite entre Belo Horizonte e Contagem.
Na segunda vez, 13 dias depois, ela andava bem perto do local do primeiro assalto quando percebeu a aproximação de uma moto com dois homens. “Como já tinha sido assaltada, fiquei muito preocupada, mas eles mudaram a direção e continuei. Mais à frente, vi a dupla descendo a rua que eu estava subindo. Pararam do meu lado e um deles pediu meu celular apontando uma arma”, recorda.
Apavorada, Juliana correu para um lote vago, mas percebeu que havia tomado a atitude errada, se deitou no chão e o ladrão pegou o celular. “Ele perguntou se eu estava doida, para sair correndo. Estava com a arma apontada e depois percebi que poderia ter acontecido o pior. O que mais me chama a atenção é que os dois assaltos foram à luz do dia. Um às 10h e outro ao meio-dia. Não tem mais aquela história de horários mais perigosos. A qualquer hora, estamos à mercê dos bandidos”, reclama.
No fim do ano passado, o estudante Gabriel Lomasso, de 22, também foi surpreendido durante o dia. Ele caminhava pela Rua Carangola às 13h, quando dois homens o assaltaram. “Um colocou a mão na minha mochila e o outro ficou tampando a arma que estava encostada nas minhas costas. Levaram meu celular, mesmo com a rua bem movimentada”, conta o jovem.
O presidente da Associação dos Oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tenente-coronel Ailton Cirilo da Silva, diz que o ritmo de crescimento de assaltos está diminuindo. “Estamos cobrando do governo, que está sinalizando positivamente com aporte de recursos, terceirização da frota, aumento do efetivo e retorno dos aposentados em condições de trabalhar. Além disso, nossas viaturas ficam agarradas em delegacias por horas, devido ao colapso do sistema prisional”, avalia o militar.
Para Cláudia Marra, titular da delegacia que abrange o Hipercentro de BH, da Polícia Civil, existem empecilhos para o combate aos roubos. “Um dificultador é a rapidez com que acontecem os crimes. Muitas vezes, não há testemunhas e nem mesmo a vítima consegue informar algum elemento de identificação do autor. No caso de roubos a pedestres, o objeto roubado, que pode ser um celular, é trocado por droga e some de circulação muito rápido, sem muito o que fazer se não houver um flagrante”, afirma.