A cada 15 minutos, uma pessoa perde algum bem sob a mira de um revólver, de uma faca ou sendo intimidada por assaltantes nas ruas de Belo Horizonte. Apenas de janeiro a abril deste ano, mais de 12 mil pessoas foram vítimas de roubos na capital, o tipo de ocorrência em que há abordagem do criminoso e agressão ou ameaça. A média mensal de roubos em 2015 é de 3.184 ocorrências, 11% a mais do que a média mensal de 2014. Se a comparação retroceder até 2012, os números mostram que o crescimento desse tipo de delito é uma realidade há pelo menos três anos. A sensação entre moradores de BH é de que a situação está fugindo ao controle.
Em contrapartida, o número de furtos, quando normalmente um bem é retirado sem a percepção do dono e, consequentemente, sem violência, diminuiu entre 2013 e 2014 e também vem caindo na média mensal em 2015. Especialistas atribuem a situação a uma soma de problemas no sistema de segurança pública e no Judiciário que dão origem a um cenário de impunidade e alimentam a sensação de insegurança. Mas a falta de ações preventivas também tem impacto direto no problemal, de acordo com estudiosos da segurança pública. Segundo a Polícia Militar, 40% dos roubos em BH são praticados contra pedestres, o que a Polícia Civil aponta como dificultador para o sucesso do trabalho de investigação.
O consultor imobiliário Bernardo Teixeira, de 26 anos, trabalha em um escritório no Bairro Palmares, Região Nordeste de BH, onde outros funcionários listaram oito roubos apenas em maio.
Quando ele se virou para ver o que estava acontecendo, viu que o caso era sério. “O cara disse que tinha acabado de matar uma pessoa e precisava do meu carro para fugir, colocando a arma no meu peito”, conta. Assustado com as informações que recebe de outros casos, Bernardo não conseguiu mais encontrar o carro. Atualmente, usa um veículo emprestado. “Não sei dizer o que está acontecendo, mas a sensação que tenho é que está totalmente fora de controle. A falta de segurança é assustadora”, afirma.
ATROPELADO E ASSALTADO No fim do mês passado, o médico Thiago Carvalho Machado, de 33, passou por situação semelhante. No caso dele, a violência foi maior. “Eu estava treinando de bike, por volta das 5h da manhã, como faço normalmente. Quando passava na rotatória que divide o acesso entre a Avenida Nossa Senhora do Carmo e o Bairro Belvedere (Centro-Sul de BH), dois caras de moto passaram e um deles me jogou no chão”, conta o médico.
Os gritos de “perdeu, perdeu” se repetiram.
Não é difícil achar outros casos parecidos em Belo Horizonte. Em abril, o cuidador de idosos Breno Lincoln Batista, de 30, teve o pulmão perfurado e uma costela quebrada quando um ladrão arrancou seu celular em uma estação do Move da Avenida Antônio Carlos, no Bairro São Cristóvão, Noroeste de BH. As imagens das câmeras de segurança mostraram a brutalidade com que o assaltante golpeou a vítima com uma faca. Na ocasião, Breno desabafou: “A gente sai cedo todos os dias para trabalhar. Dá duro. Eram 6h e pouco da manhã quando tudo aconteceu.
Na opinião do coordenador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da PUC Minas, Robson Sávio Reis Souza, integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o problema dos roubos é generalizado no país, o que pode ser explicado por uma soma de problemas.
“A única forma de punir quem comete crime contra o patrimônio é o encarceramento. As medidas alternativas são pouco eficientes e mal fiscalizadas pelo poder público. Com isso, lotam-se os presídios. Se não há lugar mais nem para quem mata, imagine para quem comete os assaltos”, afirma o especialista.
Robson Sávio acrescenta que, por outro lado, a Justiça contribui consideravelmente para a impunidade. “A Justiça é lenta e seletiva. Não age de forma isonômica para todos os extratos sociais. As pessoas praticam os crimes porque sabem que a punição é aleatória e os custos para transgredir a lei são muito baixos”, critica.
O especialista lembra ainda que, no caso específico dos roubos, investir em um sistema de prevenção daria bons resultados, mas isso não ocorre em Minas Gerais. “Melhorar a prevenção significa atuar em várias frentes. Uma é a presença de agentes públicos nas ruas, que não precisam ser só policiais militares: podem ser guardas municipais ou fiscais do poder público trabalhando de forma a mostrar a presença do Estado. Outra vertente é melhorar a investigação e a análise criminal, e a terceira é resolver problemas de infraestrutura, como locais mal-iluminados ou cobertos por mato”, aconselha o professor.