Mais de 24 horas de tensão, espera, empenho, solidariedade, angústia e dor.
O desastre ocorreu por volta das 16h30 de terça-feira, mas a remoção dos corpos das três vítimas – o piloto Felipe Piroli, filho do sócio da HeliBH, empresa de aluguel de hangares; o empresário Roberto Queiroz, dono da empresa Lotear Empreendimentos Imobiliários Ltda., e o filho dele, Bruno Queiroz – somente ocorreu no fim da tarde de ontem. Como o local era de difícil acesso, o helicóptero dos Bombeiros foi usado para o resgate. Roberto e Bruno Queiroz serão velados em Conselheiro Lafaiete, na Região Central do estado. Já o corpo do piloto vai ser encaminhado diretamente para Belo Horizonte. Familiares e amigos das vítimas, que horas depois da queda já estavam no local, preferiram manter o silêncio.
O tenente Júlio César Teixeira, do Corpo de Bombeiros de Ouro Preto, disse que a corporação recebeu o chamado relativo à queda por volta das 19h.
EVIDÊNCIAS O chefe de Proteção do Seripa III, capitão Erick Cheve, não quis antecipar detalhes sobre as eventuais causas da queda ou sobre as hipóteses levantadas, como o tempo ruim ou falha mecânica. “O que nós fizemos foi recolher informações, evidências, a partir de equipamentos, posições encontradas da aeronave, fotos, para analisar as causas do acidente. O objetivo do Seripa não é apontar culpados, apenas investigar os motivos que levaram à ocorrência, para evitar novos desastres.”
O major Farley Rocha, subcomandante do 1º Batalhão dos Bombeiros e um dos comandantes do Helicóptero Arcanjo, ouviu de populares que na tarde de terça-feira um nevoeiro intenso tomou conta da Mata do Palmito, onde ocorreu a queda. “O piloto pode ter sido surpreendido e entrado inadvertidamente nessa área de mau tempo. Nesse caso, sem visibilidade, pode ter acontecido um choque com alguma montanha. A aeronave não é homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil para voar por instrumentos”, explicou o militar. A capacidade de operar apenas com contato visual inviabilizaria o voo dentro de uma nuvem.
SOLIDARIEDADE Desde a confirmação da queda do helicóptero, o distrito de Santa Rita de Ouro Preto, com cerca de 7 mil habitantes, teve sua rotina de tranquilidade quebrada. Nas ruas, normalmente desertas depois das 22h, podiam ser vistos até tarde pequenos grupos falando sobre a tragédia. Até o começo da madrugada as luzes das casas, normalmente apagadas bem cedo, continuvam acesas, à espera de notícias.
Em meio à tragédia, não faltou solidariedade por parte dos moradores. Na noite de terça e madrugada de ontem, pessoas da comunidade, além de providenciar lanches para parentes e amigos das vítimas, tentavam de alguma forma consolar o pai do piloto, identificado apenas como Henrique, que, desolado, se sentou próximo a uma igreja para buscar forças. Na hora do almoço, as irmãs Eizabeth Aparecida da Costa, de 34 anos, e Magna Crispi da Costa, de 38, e a prima delas Maria do Carmo Silva, de 38, se uniram para preparar comida não apenas para as pessoas próximas das vítimas, mas também para policiais, bombeiros e profissionais de imprensa, que, distantes nove quilômetros do restaurante mais próximo, não arredavam pé do local.
REPERCUSSÃO Um dia após o acidente, amigos e colegas de trabalho das vítimas continuaram prestando homenagens e oferecendo condolências aos familiares pelas redes sociais. Na página de um parente de Roberto e Bruno, amigos ofereceram consolo pela perda de pai e filho. “Queria poder te abraçar neste momento tão difícil. Que Deus conforte o coração de vocês”, dizia uma postagem. “Não existem palavras para dizer neste momento. Sei que nada se compara à sua dor. Que Deus, em sua infinita bondade, console seu coração e te dê muita força para suportá-la”, desejava outra publicação.
Nas próprias páginas, colegas de trabalho trocavam as suas fotos por uma fita de luto e demonstravam a dor pela perda de Felipe Piroli, piloto considerado experiente, com mais de mil horas de voo. “É com muita tristeza que vemos um amigo partir assim, tão jovem e de forma tão súbita.
Três perguntas para Gilmar Eurélio Santana, pedreiro que encontrou a aeronave
1 - Você viu o helicóptero antes da queda?
Não, só ouvi o som do motor, mas não parecia diferente. Depois, já não ouvi o motor, só um zumbido, parecendo uma turbina, e mais nada. Pensei que o helicóptero ou avião – não sabia o que era – tinha caído na mata.
2 - Qual foi sua reação?
Eu e outros moradores entramos na mata, mesmo sem noção de onde podia ter sido o acidente. Sentimos um cheiro forte, parecendo de querosene. E foi esse cheiro que serviu para nos guiar, pois já estava escuro e tínhamos apenas lanternas.
3 - Qual foi o sentimento quando você encontrou os destroços?
Tínhamos nos dividido em duplas. Depois de abrir caminho na mata fechada, quando vi o helicóptero fui logo correndo e gritando que tinha encontrado. Pensei que podia ajudar as pessoas feridas, mas pareciam mortas. Então ligamos para os Bombeiros.