Jornal Estado de Minas

Jovem tatua cadela e polícia instaura procedimento para apurar se houve maus-tratos

Dono diz que tatuou o animal por uma questão estética. Delegado ainda não vê indícios de crime porque jovem não quis causar sofrimento ao animal

Luiz Fernando Motta
Desenho foi feito na perna do animal, próximo à barriga - Foto: Reprodução/Instagram
Um jovem de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, vem causando polêmica nas redes sociais após postar uma foto de sua cadela da raça pit bull com um desenho tatuado na perna. O tatuador Jaykson Rockstok disse à polícia que resolveu submeter o animal ao procedimento por uma questão estética.

A Polícia Civil instaurou um procedimento para apurar se houve crime de maus-tratos. Segundo o delegado Washington Souza Filho, as informações preliminares não dão indícios que incriminam o jovem. De acordo com o policia, não houve dolo de causar sofrimento à cachorra. "O que sabemos por enquanto é que ele cuida bem do animal. A veterinária da cadela foi procurada pela polícia e disse que o animal recebe toda a atenção do dono", diz.

O tatuador fez um vídeo para se defender dos comentários. Durante a gravação, ele diz que o animal foi sedado antes de passar pelo procedimento. “Eles não sabem que o veterinário aplicou uma parada para ela dormir de boa", diz.
Em outro trecho do vídeo, o tatuador diz o que pensa sobre maus-tratos. "Maus-tratos é quando a pessoa mata o cachorro, deixa o cachorro sem comer, corta a orelha da cachorra. Gosto da minha cachorra demais para fazer isso aí", avalia.

Assista ao vídeo publicado pelo dono da cadela


A polícia ainda quer apurar sob quais circunstâncias o procedimento aconteceu. O delegado considera o caso curioso. “É a primeira vez que ouço falar desse tipo de procedimento em animais, por isso, demanda uma atenção especial”, diz. O inquérito deve ser concluído em 30 dias.

O delgado Washington comparou a situação aos casos em que o rabo do animal é cortado por estética. “Acredito que esse caso seja semelhante aos procedimentos em que a cauda do animal é cortada. O dono submete o animal a isso por questões estéticas”, diz o policial.

No entanto, práticas consideradas estéticas, como cortar o rabo e a orelha do animal já são proibidas pelo Conselho Nacional de Medicina Veterinária (CNMV). Uma resolução publicada no Diário Oficial da União em julho de 2013 tornou esse tipo de cirurgia ilegal. O médico veterinário que fizer esse tipo de intervenção cirúrgica pode ser investigado e até ter o registro do conselho cassado.

Veterinária condena a prática

A veterinária Edmeia Macedo Braga considera que a atitude do tatuador não foi adequada e ainda ressalta que o procedimento pode trazer problemas à saúde do animal. “Acho que o maior problema desse caso é o tipo de conduta do rapaz. O animal está passando por uma dor pela qual ele não optou. Quando fazemos uma tatuagem, sabemos por qual dor teremos que passar e optamos por isso pelo benefício estético.
Já o animal não teve essa opção", avalia

Segundo ela, a tinta usada para fazer uma tatuagem é feita para a pele humana. “O potencial hidrogeniônico (pH) da pele do animal é diferente da nossa. Ele pode ter uma dermatite”, diz Edmeia.

Além disso, a veterinária considera que o animal ainda possa estar sofrendo por causa da tatuagem. “O local pode infeccionar, ela pode ficar lambendo a perna, pode deitar ali e sentir o incomodo por vários dias. São várias as hipóteses”, avalia..