Domingo de manhã, céu nublado e muito frio. Quando muitos belo-horizontinos ainda estavam na cama, se aquecendo debaixo dos cobertores, grupos praticantes de ioga já estavam em parques públicos da capital mineira para exercitar as tradicionais disciplinas físicas e mentais originárias da Índia. E havia um motivo a mais para acordar cedo. Foi o primeiro Dia Internacional da Ioga, instituído no ano passado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que reuniu adeptos a prática ao redor do mundo. Somente em Nova Délhi, capital da Índia, mais de 35 mil pessoas se reuniram para celebrar a primeira jornada internacional. Em Belo Horizonte, aulas gratuitas foram dadas nos parques Rosinha Cadar e das Mangabeiras, na Região Centro-Sul, e no Parque Lagoa do Nado, na Pampulha. Para quem se interessa para descobrir a filosofia, não é tarde: muitos desses encontros ocorrem a cada fim de semana, como parte do projeto Ioga nos Parques 2015, promovido pela Prefeitura de BH.
No Parque das Mangabeiras houve aulas às 9h e às 10h. A bióloga Juliana Ordones, de 43 anos, pratica ioga há 20 anos. Está parada há dois, mas ontem aproveitou o evento para voltar à ativa. “A ioga nos proporciona mais serenidade. A gente melhora a qualidade de vida e também o sono. Diminui o estresse. É um momento de tranquilidade. Você sai da sua rotina, diminui o seu ritmo. E essa tranquilidade momentânea se reflete no dia a dia”, conclui a bióloga, que também faz meditação. “Já fiz curso de ioga até na Tailândia e a pratiquei na Ásia. Além de trazer harmonia, traz equilíbrio para o corpo. Tanto é que nem tomo remédios”, gabou-se. Além dos exercícios aeróbicos, a prática, segundo ela, trabalha a musculatura, sem exigir muito do corpo. “A ioga respeita os limites do corpo. Há um esforço, mas esse esforço não é um sacrifício”, conclui.
Clayde Pires Dellaretti é professora de hatta ioga integral e faz parte do projeto Ioga para Todos, da Associação Mineira de Ioga. Ontem, ela deu aulas gratuitas no Parque das Mangabeiras para iniciantes, ex-alunos e praticantes antigos. “A mente fica afiada, firme”, ensinou. Todos os participantes passaram por fases de relaxamento antes de começar os exercícios, deitados sobre tapetes. “Observem todo o movimento do seu diafragma. Visitem cada parte do seu corpo que está tocando o chão”, orientava a professora. “Movimentem seus pés suavemente, bem devagar. Agora, movimentem as mãos.” E assim as pessoas, de olhos fechados, iam obedecendo aos comandos. Mais de uma hora depois, a aula terminou ao som de mantras.
A professora de educação física Cynthia de Oliveira Diniz, de 31, começou a fazer ioga este ano. Ontem foi a primeira prática dela ao ar livre. “Adorei o contato com a natureza. Estou me sentindo mais leve, mais energizada. Já trabalho com atividade física, mas a ioga também nos permite uma paz interior”, disse.
Clayde Dellaretti lembra que as aulas gratuitas são ministradas todo terceiro domingo do mês no Parque das Mangabeiras, às 9h30. “São aulas abertas ao público de qualquer idade. O grau de dificuldade é menor, porque temos muitos idosos”, disse. Segundo ela, a prática milenar acalma, concentra e alinha a mente. “Traz muita paz e ainda tem um resultado chamado santosha – um contentamento, uma plenitude, serenidade e uma felicidade suprema que tomam conta das pessoas”, explicou. “São coisas fundamentais para esse ritmo de vida que a gente leva hoje. Com a ioga, a pessoa sai do caos externo e vai para o seu interior”, reforça a professora.
A Fundação Arte de Viver também levou dezenas de pessoas para o gramado do Parque das Mangabeiras e em várias outras capitais brasileiras. Em Belo Horizonte, a entidade esclareceu os ensinamentos e práticas de posturas que ajudam no relaxamento e bem-estar. Também ensinou técnicas de respiração e de meditação, lembrando, sempre, que a ioga não está ligada a nenhuma religião.
IOGA É uma atividade cujo objetivo é unir corpo, mente e espírito, com base na tradução do sânscrito para o português. Por meio de posições físicas que privilegiam a respiração, a ideia é levar a pessoa que pratica a se livrar de qualquer sofrimento. O adepto dessa prática pretende deixar a mente e o corpo mais serenos, com base em uma série de princípios que datam de mais de 2,5 mil anos, segundo estudiosos. As posições contribuem para favorecer a concentração e, de acordo com adeptos, estimulam o funcionamento das glândulas e também dão força à coluna vertebral. A origem da atividade é indiana e está associada a um exercício físico, muito procurado para melhorar a elasticidade e manter o corpo em forma.
"Nova era da paz" pelo mundo
O primeiro Dia Internacional da Ioga foi comemorado em cidades de todo o mundo, reunindo milhares de pessoas ao longo do planeta. A data foi celebrada pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, como “uma nova era de paz”. No início da manhã de ontem, 35 mil pessoas, incluindo trabalhadores, estudantes, soldados – e o próprio chefe de governo – realizaram várias posturas em uma sessão de ioga de 35 minutos ao ar livre, em uma avenida central de Nova Délhi (foto). Os organizadores esperam bater o recorde de maior concentração de participantes. De acordo com o Guinness, o recorde atual é de 29.973 estudantes em 2005, na cidade indiana de Gwalior. “A ioga é muito mais que a condição física. Não estamos celebrando apenas um dia, também estamos treinando a mente humana para iniciar uma nova era de paz”, disse Modi aos participantes reunidos na Avenida Rajpath, onde agradeceu a ONU pela adoção da ideia do Dia Mundial. Habitantes de 650 distritos indianos se uniram às celebrações, que estima-se terem sido organizadas em mais de 100 países.