Jornal Estado de Minas

Sem presença da PM, cresce número de motoristas que causam acidentes e fogem do local

Em três de quatro ocorrências, havia indícios de que o responsável pela batida ingeriu bebida alcoólica. Casos servem de alerta para a necessidade de ação rápida de equipes de plantão

Guilherme Paranaiba
Motorista de BMW causou acidente na Praça da Liberdade na madrugada de 26 de abril, fugiu e se apresentou dois dias depois à polícia - Foto: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS

Nos últimos dois meses, quatro casos de fuga de motoristas que causaram acidentes em Belo Horizonte chamaram a atenção da Polícia Civil para manobras que esses condutores usaram no trânsito. Em pelo menos três das quatro ocorrências, havia indícios de que o responsável pela batida ingeriu bebida alcoólica. Sem flagrante, os motoristas acreditam ter mais chances de escapar do crime de embriaguez.

A Polícia Civil diz ser plenamente possível investigar um caso de mistura de bebida alcoólica e direção mesmo sem a prisão do condutor, apesar de ser mais difícil levantar as provas de embriaguez sem o motorista ter sido submetido ao teste de bafômetro. A corporação entende que a presença ostensiva da Polícia Militar pode ser uma forma de minimizar o problema, já que os militares atendem a ocorrência primeiro, mas garante que pode fazer diligências no plantão para localizar fujões. Para isso, precisa ser comunicada das ocorrências em tempo real.

Depois que o empresário Célio Brasil Júnior, de 23 anos, bateu uma BMW X6 na madrugada de 26 de abril na Praça da Liberdade, após beber em uma boate, conforme informaram testemunhas, outros três casos semelhantes ocorreram na cidade. Célio entrou em um táxi e se apresentou mais de dois dias depois à Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos (DEAV), dizendo que estava dirigindo, mas que não bebeu e abandonou o local por ter ficado desorientado. A Corregedoria da PM abriu investigação, pois testemunhas informaram que o empresário foi embora mesmo com a presença de policiais no local.

Em 23 de maio, o jovem Bruno Rocha Resende, de 19, capotou um Gol branco na Rua Professora Bartira Mourão, no Bairro Buritis, Oeste de BH, e abandonou o local. Mas policiais militares o encontraram em casa e ele recusou o bafômetro.
Com sinais de ter ingerido bebida alcoólica, Bruno foi preso em flagrante e liberado após pagar fiança de R$ 1 mil. Ele foi indiciado por embriaguez, cuja pena varia entre seis meses e três anos de detenção.

Na noite da última quinta-feira, a PM informou que um casal que estava em um Fox abandonou o local de um acidente em um táxi, na esquina das avenidas Afonso Pena e Contorno, no Bairro Cruzeiro, Centro-Sul de BH, depois de causar uma batida que feriu duas pessoas que estavam em uma moto. Testemunhas informaram aos militares que a dupla estava alcoolizada. Ontem, o motorista Márcio Fernandes Guimarães Júnior, de 28, se apresentou espontaneamente à DEAV e as investigações atestarão se ele bebeu ou não, além de responsabilizá-lo pela fuga.

No mesmo dia, o educador físico Reinaldo Teles, de 33, morreu depois de bater sua moto em um carro no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste. Ele caiu no chão e foi atingido por um segundo motoqueiro, que foi embora sem prestar socorro. Um inquérito já foi aberto para investigar o caso. “Essa situação preocupa muito porque demonstra o desprezo dessas pessoas em cumprir a lei. Mas, por outro lado, a gente sabe que, embora as pessoas até consigam evadir em alguns casos, temos outros meios de investigar. De uma forma ou de outra, elas serão penalizadas, como já aconteceu várias vezes”, avalia a delegada Carla Vidal, titular da DEAV.

PRESENÇA DA PM NO LOCAL


“Quando chega com tudo pronto e o suspeito é conduzido é ótimo, mas nosso trabalho é investigar. No caso da BMW, por exemplo, tudo indica que o motorista será indiciado por embriaguez ao volante”, acrescenta a policial. O inquérito está esperando a expansão do prazo. A delegada ainda lembra que diligências iniciais podem ser feitas pela equipe de policiais de plantão do Detran, com a intenção de localizar possíveis fujões, mas, para que isso aconteça, a Polícia Civil precisa ser avisada da ocorrência em tempo real. “Além do plantão, que pode ajudar a localizar o suspeito pela placa do veículo, temos uma equipe da DEAV que pode ser mobilizada em caso de acidente grave.
De qualquer forma, para inibir a fuga a melhor solução é a presença da polícia de forma ostensiva, que cabe à PM”, completa.

O advogado Carlos Cateb, que participou da elaboração do Código de Trânsito Brasileiro entende que o aumento de casos de fuga é preocupante. “Isso pode incentivar outros casos e ajuda a ressaltar a sensação de impunidade. Precisamos de mais policiais nas ruas e ação mais rápida da polícia”, afirma.

Para o sociólogo e consultor de segurança no trânsito Eduardo Biavati, esses exemplos ainda são muito residuais. “Esperamos que a polícia seja rápida e não dê tempo para a fuga, mas isso é difícil, pois a lei também tem seus limites. A reportagem procurou o Comando de Policiamento da Capital (CPC) para comentar o caso, mas ninguém quis se manifestar..