O caso ganhou repercussão depois que o Play Centro de Desenvolvimento Infantil publicou uma postagem em sua página oficial no Facebook em que um grupo de crianças de aproximadamente 3 anos aparecem pintadas de preto. No texto, a instituição conta um pouco sobre a experiência, considerada “estética” pelos educadores: “Quem já mudou de cor? Essa semana a criançada experimentou ter uma cor diferente. Com tinta apropriada, pintamos nossos corpinhos e passamos a tarde vivenciando ter a cor negra. Foi um experimento estético muito interessante para a meninada. Eles se olharam no espelho, observaram uns aos outros e apreciaram o resultado”, diz o post.
A publicação gerou reação negativa de várias pessoas na rede social, que acusaram a instituição de promover um ato racista.
Após a polêmica, o centro de educação apagou o post. Antes, porém, chegou a responder os questionamentos sobre a atividade por meio de sua página na rede social. Segundo a unidade de ensino infantil, a decisão de pintar as crianças foi tomada depois de uma aula em que uma aluna de dois anos disse que achava feia uma personagem negra após ouvir a história "Bonequinha preta", de Alaíde Lisboa de Oliveira. "Frente a isso, propusemos às crianças confeccionarem muitas bonecas diferentes. Bonecas pretas, como a da história, bonecas rosas, verdes, marrons, e ressaltamos que todas as bonecas são bonitas. Envolvidos com a atividade com tinta, nossas crianças começaram a explorar a tinta preta pelo corpo, comportamento muito comum na fase de desenvolvimento dessa idade. Nesse momento, a possbilidade de que eles pudessem vivenciar uma experiência estética frente ao espelho mostrou-se enriquecedora. As crianças se divertiram muito e se observaram animadas: 'Mudamos de cor!'", diz a resposta.
Escolha inadequada
Para o professor da Faculdade de Educação da UFMG e especialista em educação, cultura afro-brasileira e identidade racial, Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, tanto pais quanto professores têm razão até certo ponto, a escolha usada pelos educadores para abordar a questão da igualdade racial foi inapropriada.
Segundo ele, ao que tudo indica, a intenção dos professores era abordar a questão racial com o objetivo de educar, mas os meios foram errados. “A escola tem sim que acolher essa temática em sala de aula. Afinal nós, educadores, sempre reclamamos que fala-se pouco sobre esse assunto entre crianças nessa faixa etária. No entanto, é preciso escolher a forma mais adequada de falar sobre raça. No caso dessa escola, por exemplo, o ideal era que antes de desenvolver a atividade, os professores procurassem os pais, comunicassem a ideia e pedissem a opinião deles”, orienta o especialista.
Além disso, ele aconselha que no caso de dúvidas sobre como abordar o tema da melhor maneira, as instituições de ensino devem buscar ajuda fora da escola, com o auxílio de especialistas que trabalhem com a questão da igualdade racial. .