Jornal Estado de Minas

Escola de BH pinta crianças de preto durante aula e é acusada de racismo nas redes sociais

O caso ganhou repercussão depois que o centro educacional publicou uma postagem em sua página oficial no Facebook em que um grupo de crianças de aproximadamente 3 anos aparecem pintadas de preto

Clarisse Souza

Post em que crianças aparecem pintadas de preto gerou polêmica - Foto: Reprodução/Facebook

Uma atividade desenvolvida com alunos de uma instituição de educação infantil do Bairro São Bento, na Região Centro Sul de Belo Horizonte, provocou polêmica e protestos nas redes sociais depois que professores pintaram várias crianças de preto para que elas vivenciassem a experiência de ter a cor negra. A conduta foi considerada racista por pais e diversos internautas, que cobram um pedido de desculpas por parte da escola.

O caso ganhou repercussão depois que o Play Centro de Desenvolvimento Infantil publicou uma postagem em sua página oficial no Facebook em que um grupo de crianças de aproximadamente 3 anos aparecem pintadas de preto. No texto, a instituição conta um pouco sobre a experiência, considerada “estética” pelos educadores: “Quem já mudou de cor? Essa semana a criançada experimentou ter uma cor diferente. Com tinta apropriada, pintamos nossos corpinhos e passamos a tarde vivenciando ter a cor negra. Foi um experimento estético muito interessante para a meninada. Eles se olharam no espelho, observaram uns aos outros e apreciaram o resultado”, diz o post.

A publicação gerou reação negativa de várias pessoas na rede social, que acusaram a instituição de promover um ato racista.
“Atividade racista! Blackface! Não consigo acreditar que vocês viram isso como algo positivo. Não vou questionar como as crianças negras foram pintadas porque visivelmente não tinha nenhuma… Passou dos limites de aceitação!”, diz uma internauta na página do centro educativo na rede social. “Exijo um pedido de desculpas muito bem detalhado sobre mais um ato racista fantasiado de processo pedagógico. Por acaso vocês sabem da lei 10639/2003? Nossas identidades negras não são experimentos, não são roupas que podem ser guardadas em armários ou comprimidos em frascos de tinta”, criticou outro usuário do Facebook.

Após a polêmica, o centro de educação apagou o post. Antes, porém, chegou a responder os questionamentos sobre a atividade por meio de sua página na rede social. Segundo a unidade de ensino infantil, a decisão de pintar as crianças foi tomada depois de uma aula em que uma aluna de dois anos disse que achava feia uma personagem negra após ouvir a história "Bonequinha preta", de Alaíde Lisboa de Oliveira. "Frente a isso, propusemos às crianças confeccionarem muitas bonecas diferentes. Bonecas pretas, como a da história, bonecas rosas, verdes, marrons, e ressaltamos que todas as bonecas são bonitas. Envolvidos com a atividade com tinta, nossas crianças começaram a explorar a tinta preta pelo corpo, comportamento muito comum na fase de desenvolvimento dessa idade. Nesse momento, a possbilidade de que eles pudessem vivenciar uma experiência estética frente ao espelho mostrou-se enriquecedora. As crianças se divertiram muito e se observaram animadas: 'Mudamos de cor!'", diz a resposta.

Escolha inadequada
Para o professor da Faculdade de Educação da UFMG e especialista em educação, cultura afro-brasileira e identidade racial, Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, tanto pais quanto professores têm razão até certo ponto, a escolha usada pelos educadores para abordar a questão da igualdade racial foi inapropriada.

“Acho inadequado, porque isso produz constrangimento, principalmente se houvesse alguma criança negra em sala. Em primeiro lugar, o preto não é uma cor que deveria ser usada para representar o negro. Preto é uma classificação criada por nós”, explica Gonçalves.

Segundo ele, ao que tudo indica, a intenção dos professores era abordar a questão racial com o objetivo de educar, mas os meios foram errados. “A escola tem sim que acolher essa temática em sala de aula. Afinal nós, educadores, sempre reclamamos que fala-se pouco sobre esse assunto entre crianças nessa faixa etária. No entanto, é preciso escolher a forma mais adequada de falar sobre raça. No caso dessa escola, por exemplo, o ideal era que antes de desenvolver a atividade, os professores procurassem os pais, comunicassem a ideia e pedissem a opinião deles”, orienta o especialista.

Além disso, ele aconselha que no caso de dúvidas sobre como abordar o tema da melhor maneira, as instituições de ensino devem buscar ajuda fora da escola, com o auxílio de especialistas que trabalhem com a questão da igualdade racial.

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