O acidente que matou na madrugada dessa quarta-feira o cantor sertanejo Cristiano Araújo, de 29 anos, e a namorada dele, Allana Coelho, 19, em Goiás, comoveu o Brasil e acendeu o alerta para o risco de não usar cinto de segurança. A concessionária Triunfo Concebra, que administra a BR-153, onde ocorreu o capotamento, e a perícia da Polícia Técnico-Científica goiana informaram que Allana não usava o item de segurança no banco de trás do carro, o que explica o fato de ela ter sido arremessada a cerca de cinco metros e morrido na hora. A polícia suspeita que Cristiano, encontrado do lado de fora, também estivesse sem cinto – já os dois ocupantes do veículo que estavam na parte da frente usavam o equipamento e tiveram ferimentos leves. Apesar da obrigatoriedade prevista em lei, estatísticas sobre multas em estradas mineiras mostram que casos de motoristas e passageiros que se arriscam sem o cinto são frequentes.
Todos os dias 10 passageiros de veículos que rodam por estradas federais mineiras são flagrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) sem cinto de segurança, seja na parte de trás ou da frente do carro. Por sua vez, o Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPMRv) multa diariamente nove passageiros sem a proteção nas estradas estaduais que cortam a Grande BH. Na área urbana de BH, são cinco passageiros na mesma situação todos os dias. O número de condutores flagrados é ainda maior.
Flagrar motoristas e passageiros trafegando sem cinto não é difícil na Grande BH. Em meio hora, a reportagem do Estado de Minas flagrou 54 motoristas sem o item básico de segurança em dois pontos da BR-381 e no Anel Rodoviário, na altura do Bairro Madre Gertrudes. Nas ruas de Belo Horizonte, condutores reconhecem que nem sempre usam o item de segurança. “É comum eu não usar quando estou perto de casa. A gente acha que nunca vai acontecer nada, que a velocidade é baixa, mas deveria usar também”, disse o empresário Felipe Pires, de 30 anos.
O comportamento preocupa autoridades e especialistas. O uso do cinto, obrigatório há quase 18 anos, aumenta em cinco vezes a chance de sobrevivência em um acidente, segundo estudos internacionais. “O cinto de segurança é importantíssimo porque evita lesões como o esmagamento do tórax ou os traumatismos cranianos causados pelo impacto da pessoa no volante ou no vidro do carro”, afirma o coordenador médico do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII, Marcelo Lopes Ribeiro. “No banco de trás ele é ainda mais importante. A pessoa sem cinto pode ser arremessada a uma distância ainda maior”, acrescenta.
Fiscalização Para o diretor-presidente da organização não-governamental Observatório Nacional de Segurança Viária, José Aurélio Ramalho, é preciso fiscalização mais intensa para reduzir o número de pessoas trafegando sem cinto. “O que se percebe é que as pessoas acabam usando com o intuito de escapar das multas e não de proteger a própria vida.
O tenente-coronel Ledwan Cotta, comandante do BPMRv, garante que a corporação mantém a frequência de fiscalização e diz notar conscientização maior por parte da população sobre o uso do cinto. Ele reconhece, porém, que passageiros no banco de trás são um desafio. “As pessoas entendem que estão imunes ao perigo sentadas no banco de trás”, diz. “Elas pensam que ali existe uma espécie de blindagem, o que não é verdade. Em caso de batida, elas serão projetadas”, alerta. Ele lembra que não usar o cinto de segurança é uma infração grave de trânsito, que prevê multa de R$ 127,69 e cinco pontos na carteira.