A Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) corre contra o tempo para concluir as obras de implantação de quatro quilômetros de redes de esgoto em Contagem, na Grande BH, que tiveram pendências judiciais e atrasaram o trabalho que cabe à empresa na despoluição da Lagoa da Pampulha. Das cinco áreas que ainda necessitam da construção das tubulações, apenas uma já teve os procedimentos finalizados. A previsão de 120 dias feita no fim de maio para concluir as obras e totalizar 100 quilômetros de redes, coletando 95% do esgoto direcionado à lagoa, foi esticada por mais 90 dias, chegando até dezembro.
A empresa sustenta que o trabalho é extremamente complexo, pois nem todas as pendências com a Justiça foram solucionadas e, neste caso, não há o que fazer a não ser aguardar as decisões. Mesmo assim, a Copasa diz que resta muito pouco para discutir no Judiciário e a cada dia novas decisões estão sendo tomadas, o que pode acelerar as obras. Enquanto isso, a companhia de saneamento diz já ter detectado a necessidade de construir mais 30 quilômetros de redes, que atenderão as demandas pontuais que foram surgindo ao longo dos trabalhos e também casos que ficaram de fora. Essa parte ainda depende de licitação e só será desenvolvida em 2016.
Na Vila Pérola, por exemplo, em Contagem, quatro emissões de posse ainda são pleiteadas na Justiça, para que a empresa consiga a liberação do caminho por onde vão passar as redes. Na Rua Ibaté, o córrego que recebe o esgoto de várias moradias continua a funcionar como uma espécie de lixão a céu aberto. Garrafas, pneus e toda a sorte de resíduos se espalham pelo fio d’água e são empurrados até o Córrego Sarandi, que leva diretamente a poluição até a Lagoa da Pampulha.
“Moro aqui há 35 anos e já me acostumei a conviver com os políticos que sempre aparecem em época de eleições prometendo uma solução para o esgoto.
Já na Vila Boa Vista, que fica próxima do limite de Contagem com BH, o coordenador de obras da despoluição da lagoa, Paulo Pelluci, marcou data para as intervenções. “Já temos a posse de duas áreas onde estão duas empresas, mas uma delas nos pediu um prazo até 5 de julho para realizar uma grande movimentação no pátio. Depois disso iniciaremos os trabalhos”, afirma Pelluci.
No Parque São João, a situação também está liberada, mas a Copasa prevê dificuldades técnicas na construção de interceptores, o que vai demandar mais tempo de obra. Na Vila Beatriz, a empresa diz que já foram concluídas as intervenções. As tubulações já estão instaladas aguardando a conclusão de todo o sistema para que as novas ligações possam ser ativadas.
No bairro conhecido como Vila Lua Nova da Pampulha, moradores mostram que a rede coletora já está posicionada na Rua A, mas a conexão com as redes interceptoras atrasou por conta das discussões na Justiça sobre a emissão da posse dos lugares onde a rede vai passar. “Nesse caso, já estamos liberados para trabalhar e vamos começar em breve”, afirma Paulo Pelluci.
Enquanto as máquinas não chegam, o soldador Carlos Roberto da Silva, 59 anos, convive diariamente com o esgoto despejado na rua, espalhando um mau cheiro que incomoda a população. “Outro dia, minha neta de 3 anos ficou com dor de cabeça por causa do odor insuportável. Não dá para conviver com isso”, afirma.
A dona de casa Aparecida Silva, 51, diz que as fossas usadas pelos mroadores são esgotadas com frequência pela Prefeitura de Contagem, mas mesmo assim elas transbordam e o esgoto chega até o córrego do bairro, mais um curso d’água que segue seu caminho até o Sarandi e depois chega à Lagoa da Pampulha. “É desse jeito que vocês estão vendo. O esgoto sai das casas e escorre pela rua até chegar perto da nascente do córrego”, afirma.
MAIS OBRAS O gerente da Divisão de Expansão Metropolitana da Copasa, Aulus Pessoa, diz que a expectativa apenas para solucionar todos os percalços na Justiça é de 30 a 60 dias, como os casos da Vila Pérola. “É muito importante mencionar que todas as obras necessárias para atingirmos os 95% de esgoto coletado e chegar aos 100 quilômetros de redes já estão contratadas. Não há necessidade de licitar, apenas executar o que for sendo liberado”, afirma o gerente. Pessoa lembra que, em paralelo à construção das tubulações que totalizam 100 quilômetros de rede, a Copasa já identificou a necessidade de construir mais 30 quilômetros de coletores e interceptores dos resíduos gerados principalmente pela população de Contagem.
“Fizemos um pente fino que detectou essa demanda, seja de novas construções ou de imóveis pontuais que ficaram de fora inicialmente.
OBRAS NA PAMPULHA
O que será feito para despoluir a lagoa
- A meta da Prefeitura de Belo Horizonte era despoluir a Lagoa da Pampulha antes da Copa do Mundo, mas a parte que cabe à Copasa, que é coletar o esgoto principalmente de Contagem, atrasou devido à necessidade de desapropriações para construir as redes de coletores e interceptores
- O planejamento prevê a construção de 100 quilômetros de redes de esgoto, que correspondem a 95% dos resíduos produzidos pela população estimada em 500 mil pessoas de BH e Contagem, que chegam à Lagoa da Pampulha
- Ainda restam 4 quilômetros do planejamento inicial, cuja previsão de conclusão é dezembro deste ano. As áreas que passarão por obras são as vilas Pérola, Boa Vista e Lua Nova da Pampulha e o Parque São João, todos em Contagem.
- A Copasa já identificou a necessidade de construir outros 30 quilômetros de redes, porém, essas intervenções ficam para 2016. Elas se referem a novos imóveis e também a demandas pontuais que não foram atendidas, a maioria em Contagem