O início da cobrança de pedágio em cinco praças do trecho de 650 quilômetros da BR-262 (Betim-Campo Florido) ontem levou a uma perigosa ampliação de tráfego de veículos maiores que o permitido e cenas de imprudência em vias menores, que se tornaram desvios do posto de pagamento de Florestal, na Região Central. Mesmo sendo pistas simples, com poucos pontos de ultrapassagem, pontes apertadas, cruzamentos com estradas rurais e muitos pontos de ônibus metropolitanos e de viagem, as rodovias LMG-818 e BR-352, entre Florestal e Pará de Minas, se tornaram atalhos para viajantes e caminhões pesados que não querem pagar a tarifa e, com isso, já tumultuam as estradas de fluxo menor. Ao contrário do que ocorre em outras BRs pedagiadas que perpassam rodovias menores, essas vias não receberam praças de cobrança para controle de saída e ingresso na BR-262, o que desestimularia a utilização de vias alternativas não preparadas para tráfego pesado.
O trecho a ser evitado tem 18 quilômetros e a volta por esse caminho tem mais que o dobro da quilometragem, com 37 quilômetros. Ainda assim, para fugir do pagamento de R$ 4 para carros e de até R$ 36 para carretas com nove eixos, muitos motoristas preferem se aventurar numa pista menos segura. “Hoje, foi o dia inteiro assim: caminhões e carros passando pela rodovia (LMG-818) para não ter de pagar. E vale a pena, porque muita gente quer ir a lugares próximos, como Boa Vista, Pará de Minas e São Gotardo sem ter de pagar nada. Meus três irmãos já avisaram que vão todos passar pelo atalho”, conta a gari Maria de Fátima Diniz, de 58 anos, que cuida das limpeza das ruas da estrada de Florestal.
Mesmo com duas placas que alertam para restrições de tráfego para caminhões com cargas acima de 24 toneladas e qualquer tipo de carreta pela LMG-818, a reportagem flagrou veículos de carga trafegando lentamente, quase em comboio pela pista simples. Esse deslocamento a menos de 40km/h provocou fileiras de carros, com motoristas se afobando para fazer ultrapassagens, ainda que se arriscando em faixas contínuas, curvas fechadas e pontes sobre córregos da região.
Quem vê uma oportunidade de lucro nesse incremento de tráfego são os comerciantes que têm negócios na beira do desvio. O dono de restaurante Joel Bazé resolveu até fazer melhorias na estrutura do estabelecimento, aumentando a capacidade do refeitório, e planeja fazer calçamento e acesso mais adequados.
Segurança e conforto
Inciada à meia-noite de ontem, a cobrança de pedágio na BR-262, segmento entre Betim, na Grande BH, e Campo Florido, no Triângulo, não teve grandes filas nem motoristas confusos no primeiro dia de operação das cinco praças de pedágio do trecho de 650 quilômetros. Os primeiros motoristas a pagar pelo serviço não reclamaram. “Tenho muito mais segurança e conforto pagando por uma rodovia duplicada e conservada do que numa que o estado não consegue gerenciar. E ainda acho barato pagar R$ 4, já que o pedágio da MG-050, por exemplo, vai passar de R$ 5 e a estrada nem é duplicada. Pior do que isso, é perigosa”, considera o advogado André Alves Moreira, de 37, que trafega com frequência entre Bom Despacho e Belo Horizonte, alternando trajetos pelas duas vias.
Nas últimas três semanas, os usuários da rodovia foram orientados sobre o início do pagamento para passar pelas cancelas. A concessão total desse lote à empresa Triunfo Concebra envolve ainda as BRs 153 e 060, até Brasília, numa extensão de 1,1 mil quilômetros, com 11 praças de pedágio. A empresa venceu a licitação dos trechos em março de 2014 e foi autorizada a cobrar pela passagem de veículos depois da duplicação de 10% da estrada, compreendidos pelos 65 quilômetros entre Uberaba e Campo Florido.
MELHORIAS De acordo com a concessionária, estão previstas, ainda, a duplicação de 647,8 quilômetros da BR-153 e da BR-262 em Minas Gerais; a construção do contorno de Goiânia, com 42 quilômetros, e a implantação de terceira faixa na BR-153, entre Anápolis e a capital de Goiás. Nos primeiros cinco anos, além das obras de duplicação, devem ser implantadas 84 interseções, 38 passarelas, 11 melhorias de acesso e 36,5 quilômetros de vias marginais em travessias urbanas.