Jornal Estado de Minas

Políticas públicas podem conter o crescimento de favelas no interior de Minas

Especialistas defendem a adoção urgente de medidas, a fim de conter a ocupação desordenada gerada pela migração da população rural para as cidades

Alessandra Mello Luiz Ribeiro
Warley vive em situação precária com a família em um barraco perto de um aterro, onde cata garrafas PET, em Montes Claros - Foto: LUIZ RIBEIRO/EM/D.A PRESS

A adoção urgente de políticas públicas para lidar com a falta de recursos e de pessoas especializadas diante do crescimento acelerado e desordenado dos municípios de pequeno e médio porte, conforme o Estado de Minas mostrou na edição de ontem, é essencial para evitar consequências drásticas em um futuro próximo, alertam especialistas. Montes Claros, principal município do Norte de Minas, por exemplo, sofre com a ocupação desordenada. “Se esses problemas não forem enfrentados agora, daqui a algumas décadas serão um problema mais grave, já que a tendência é cada dia mais ocorrer migração da área rural para a urbana, onde as oportunidades são maiores”, diz a professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jupira Gomes de Mendonça, doutora em planejamento urbano e regional.

Nas décadas de 1960 e 1970, devido aos incentivos fiscais da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), começaram a ser instaladas as primeiras indústrias na cidade. E, com elas, surgiram também as favelas, formadas por retirantes da seca da região. O município teve rápido crescimento populacional e, na década de 1980, se intensificaram o processo de ocupação irregular e o aumento de problemas sociais, como violência e desemprego.

Há três anos, o casal de catadores Warley Rocha, de 28 anos, e Rosineide Nunes Nunes dos Santos, de 47, saiu de Manga, às margens do Rio São Francisco, em busca de melhores condições de vida em Montes Claros. Hoje, mora em um barraco em péssimas condições em um aglomerado à beira do aterro sanitário, antigo lixão de Montes Claros. No local, distante dois quilômetros da área urbana, vivem 13 famílias.

Veja depoimento de mulher que mora perto de aterro



Warley conta que, quando chegou a Montes Claros, morava de aluguel no Bairro Itatiaia, outra área carente da cidade). “Mas a gente não estava aguentando pagar o aluguel e o jeito foi vir para esse terreno aqui”, diz o catador.
A família, formada por nove pessoas, incluindo cinco filhos e dois netos de Rosineide, mora em um barraco de chão batido com “paredes” de pedaços de madeira e plástico e telhado de amianto. Uma pequena criação de porcos que ajuda na subsistência familiar.

Além do risco gerado pelo ambiente insalubre e malcheiroso e por animais peçonhentos, falta água, que é “emprestada” por um vizinho e, mesmo assim, costuma demorar 15 dias para chegar. “Eu apanho água aqui perto no lombo do meu cavalo”, conta Warley, acrescentando que conseguiu levar o animal numa carroceria de um caminhão de Manga até Montes Claros, a 290 quilômetros.

“Meu sonho é sair daqui e morar numa casa em melhores condições”, afirma a mulher. Rosineide recebe R$ 217 do Programa Bolsa-Família. A renda é completada com R$ 400 que o casal ganha catando garrafas PET. Para aumentar o rendimento, eles tentam driblar a vigilância do aterro controlado. “Entramos no lixão à noite, com uma lanterna, para catar PET. Se entrar durante o dia, os guardas chamam a polícia para a gente”, afirma a mulher. .