A trama macabra de Gilmária foi descoberta quando a polícia recebeu informação de que uma mulher tinha dado entrada no hospital da cidade afirmando que teria dado à luz em casa, mas sem sinais de parto recenteGilmária, que trabalha como cuidadora de idosos, apresentou várias versões, até admitir que premeditou o crime para ficar com o bebê.
Ela alegou à polícia que temia ser abandonada pelo marido caso não tivesse um filho com ele“A autora diz que simulou uma gravidez e, sendo assim, uma hora a criança tinha que nascerEla inventou uma história de que tinha roupas de bebê e um berço para doação, conquistando a confiança da vítimade quem já era conhecida”, informou o delegado Silvério Rocha AguiarSegundo ele, Gilmária já conhecia Patrícia, inclusive, chegou a colocar piercing no umbigo dela e de uma irmã.
O policial disse que Gilmária, ao chegar com Patrícia ao terreno onde pretendia praticar o crime, inventou outra história, dessa vez para encorajar a vítima a entrar no lote“Já dentro da cena do crime, ela conta que se armou com um pedaço de madeira de uma cama desmontada e atacou Patrícia
Os golpes finais foram duas incisões na barriga e no útero com lâminas de gilete para retirar a criança, colocá-la em um pano e uma caixa e seguir a pé até encontrar um táxi e ir para casa, de onde ligou para os bombeiros, que cortaram o cordão umbilical e a levaram ao hospital
RECONSTITUIÇÃO Depois da prisão de Gilmária e de um andarilho que morava no local onde o corpo de Patrícia foi encontrado, a polícia fez a reconstituiçãoO terreno abriga uma antiga lavanderia, no Bairro Vale Verde, mais afastado do Centro de Ponte NovaPara chegar ao andarilho Herly Marçal, de 39, que já tem passagem na polícia por furto, os investigadores encontraram um cupom fiscal de um supermercado da cidade e o identificaram pelas câmeras de segurança do estabelecimentoEle nega participação no crime.
Na entrada do terreno abandonado, parentes, amigos e moradores da cidade se juntaram esperando respostas, enquanto acontecia a reconstituiçãoO namorado de Patrícia, Leandro Carlos Gomes Dias, de 30 anos, que trabalha como auxiliar de manutenção, disse que a namorada saiu de casa na sexta-feira para uma consulta de rotina do seu pré-natal e não deu mais notícias: “Quando acordei, ela já tinha saído e depois não consegui mais contatoInicialmente, imaginei que o celular tivesse descarregado”.
A Justiça de Ponte Nova decretou a prisão temporária de Marçal por 30 diasA polícia aguarda agora a mesma decisão para Gilmária
CRUELDADE ABALA MORADORES A brutalidade cometida com a jovem Patrícia Xavier dominou a roda de conversas em Ponte Nova, ontemNas bancas de jornais, restaurantes, pontos de táxi e em qualquer esquina, as pessoas estavam perplexas com a crueldade“Foi muito assustador pelo tamanho da violência que fizeram com elaO que mais me assusta é que ela poderia estar viva quando a mulher cortou a barriga para tirar o neném”, lamentou Fabiana Costa, de 22 anos, que está desempregadaCaminhando com o filho de 2 anos no colo, ela disise que se lembrou de sua própria gravidez: “Eu me coloquei no lugar da Patrícia e pensei que poderia ter sido eu a vítimaNinguém consegue acreditar nessa barbaridade”.
O eletricitário Giovani Roncali Alves, de 43, afirmou que é difícil imaginar um crime com tamanha crueldade“Aqui em Ponte Nova, estamos acostumados com crimes motivados por drogasEssa história está muito esquisita”.
Na Escola Estadual Coronel Cantídio Drumond, que fica em frente à Delegacia de Ponte Nova, as professoras Lucimar Maia, de 45, e Andréa Almeida, de 43, liberaram os alunos mais cedo, para evitar aglomeração na porta da delegacia na saída dos alunos
“A gravidez é quase sagrada(O crime) é uma violação que ultrapassa qualquer limite de direitos humanos”, protestou Lucimar“Ponte Nova está completamente chocada; essa situação diminui muito o ser humano”, acrescentou Andréa.
CASA MONTADA PARA RECEBER O BEBÊ Há exatamente uma semana, um sentimento de alegria estava espalhado pela casa da empregada doméstica Ivânia Xavier da Silva Gonzaga, de 37 anos, moradora do Bairro Cidade Nova, em Ponte NovaPrimogênita de seus cinco filhos (três mulheres e dois homens), Patrícia ajudava a preparar os docinhos para comemorar o aniversário de um ano da primeira neta de Ivânia, filha de de sua irmãNa cabeça da jovem, certamente aquele momento se repetiria em breve, pois o pequeno Bernardo já estava em sua barriga com nove meses.
Com a casa toda montada aguardando a chegada do bebê, o namorado de Patrícia, Leandro Carlos Gomes Dias, de 30 anos, auxiliar de manutenção, afirma que está dividido por um sentimento de tristeza pela perda da companheira, mas de alívio por saber que a criança foi resgatada e está bem“Só tenho lembrança boa da PatríciaMulher tranquila companheira, carinhosa, não dormia sem colocar a perna em cima de mimFalava que queria tirar carteira de moto e viajar para BH”, contou.
Revoltada, uma tia da jovem não acreditava na tragédia“Acabou a nossa vidaComo alguém pode fazer isso com quem nunca fez nada de mal para ninguém? Ela guardava uma máquina fotográfica na bolsa, para não perder a foto do primeiro dia de Bernardo, que estava quase nascendo”, desabafou Flávia Xavier da Silva, de 33.
Entrevista: Ivânia Xavier, de 37 anos, mãe de Patrícia, pretende criar o neto
Como era Patrícia como filha?
Era uma ótima filha, muito companheiraEla queria reformar a casa, viver com o neném, construir uma famíliaQuando completou 18 anos, correu atrás de um empregoEra uma menina cheia de sonhos, pronta para começar uma vida.
A senhora pretende criar a criança?
Sim, quero que ele fique comigoQuero dar todo o amor possível para o meu neto, porque a minha filha foi tomada de mimO que eu não pudefazer para ela, vou fazer para eleQuero que fique esse pedaço, porque o outro já levaram.
Por que a senhora acha que sua filha foi vítima dessa barbaridade?
Não consigo pensar em nada que possa explicar uma coisa dessasQuero escutar essa mulher falando porque fez isso, já que ela também tem filhosEspero que a Justiça de Deus seja feita.