A Copasa suspendeu temporariamente, pelo menos até 12 de agosto, os estudos para aplicação de tarifas de contingência ao consumidor da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a chamada sobretaxa. A decisão foi encaminhada à Agência Reguladora dos Serviços de Abastecimento de Água e Esgotamento Sanitário (Arsae-MG), e levou em consideração três aspectos: a economia espontânea de água pela população, de 15%, o volume de chuva, que de janeiro a maio deste ano foi maior do que o no mesmo período do ano passado (781 milímetros, contra os 454mm de 2014), e a consequente melhora do nível dos reservatórios, de 29,9%, em 1º de fevereiro, para 35,4% agora. Porém, a estatal de saneamento alerta que a situação, apesar dos indicadores, está longe de ser ideal.
Apesar de afastar momentaneamente a cobrança para reduzir o consumo, a Copasa não descarta a possibilidade de racionar água a partir de agosto, suspendendo o abastecimento à população por determinados períodos. “Estamos monitorando nossa produção e começando a segunda campanha pela economia de água. Se houver um resultado positivo, não haverá racionamento. Vai depender do comportamento da nossa produção e da redução espontânea do consumidor”, informou o diretor de Operações Metropolitanas da Copasa, Rômulo Perilli. “A Copasa tem água armazenada nos reservatórios do Sistema Paraopeba. Se nossa previsão mostrar que chegaremos a 10% em setembro ou outubro, aí começaremos a racionar”, afirmou.
O eventual projeto de racionamento tem que passar pela Arsae-MG. “O plano a ser encaminhado à Arsae está pronto. Temos um mapeamento do abastecimento que não pode ser interrompido – para instituições como hospitais, escolas e presídios. Já inclusive perfuramos poços artesianos em unidades prisionais e vamos equipá-los quando houver necessidade”, informou Perilli. “Não descartamos o racionamento, mas estamos tomando medidas importantes, como o combate às perdas, pelo programa Caça-Gotas, que nos permitiu diminuir o tempo de atendimento de nove horas para quatro horas e meia”, acrescentou o diretor de Planejamento e Gestão de Empreendimentos da Copasa, Ronaldo Matias. Segundo ele, o Rio das Velhas vem sendo monitorado diariamente, em conjunto com a Cemig, que opera a Usina Rio de Pedras. Ele admite que pode haver uma crise em setembro ou outubro, com a redução da vazão. “As previsões do Rio das Velhas não são boas. Se precisar, a Cemig vai liberar água da usina”, afirmou Ronaldo. Atualmente, são transferidos 1,5 mil litros de água tratada por segundo do Velhas para o Sistema Paraopeba.
NOVA CAPTAÇÃO Nessa sexta-feira, a Copasa apresentou a obra de captação de água do Rio Paraopeba, em Brumadinho, que promete garantir o abastecimento da Grande BH para os próximos 25 anos. Uma bomba elevatória vai transportar 5 mil litros de água por segundo do curso d’água para a estação de tratamento do Sistema Rio Manso, distante 6,5 quilômetros (veja arte). Por dia, serão 432 milhões de litros de água, volume significativo quando se considera que a produção atual da Copasa nos sistemas Rio Manso, Várzea das Flores e Serra Azul é de 1,176 bilhão de litros.
A obra começou em 16 de junho e deve ficar pronta em 20 de dezembro, com investimento de R$ 128,4 milhões, recursos do governo do estado. Segundo Ronaldo Matias, não se trata de obra emergencial, mas definitiva. “A água bombeada do Rio Paraopeba vai passar por uma caixa de areia, em seguida vai para um poço de sucção e depois será bombeada para a Estação de Tratamento do Rio Manso”, informou o diretor.
Rômulo Perilli esclareceu que a outorga para retirada de água do Rio Paraopeba é sazonal. “Vamos captar no período de grandes chuvas. Quando o nível do Paraopeba cair para um índice que possa prejudicar os consumidores curso abaixo, a captação será paralisada e será usada a água dos reservatórios, que estarão cheios”, disse. Ele anunciou para breve um novo programa de redução de perdas, com possibilidade de recuperar, nos próximos 10 anos, até 2,5 mil litros de água por segundo. “Vamos atuar em três pontas: no controle de vazamento, com substituição de rede e válvulas redutoras de pressão, contra as ligações clandestinas, que representam um percentual significativo, e na modernização da nossa própria medição”, informou.
Segundo ele, a Copasa vai continuar com as campanhas de uso consciente da água. “Nosso estado é de alerta permanente”, acrescentou. O diretor de Operações anunciou que, se houver racionamento, a Copasa deve interromper a produção no Sistema Paraopeba. “Estamos estuando se vamos parar um dia por semana, 12 horas por semana ou quatro dias, por seis horas”, avisa.
QUEIXA A vereadora de Brumadinho Renata Parreiras (PSB) denunciou ontem que várias comunidades do município, que fornece água para a Região Metropolitana de BH, têm carência no abastecimento e na coleta de esgoto, situação que é pior nos bairros Salgado Filho, Varjão e Tejuco. “A prefeitura gasta milhões com aluguel de caminhões-pipa”, disse. Segundo ela, há promessas da Copasa para resolver o problema desde 2008, quando foi assinado o último convênio. O diretor Rômulo Perilli informou que a estatal está conversando com o prefeito Antônio Brandão (PSDB) para resgatar o compromisso.