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Estado de Minas

Familiares de vítimas da Av. Pedro I sofrem com saudade e sentimento de impunidade

Um ano após a queda do Viaduto Batalha dos Guararapes, parentes das vítimas, além de ter de conviver com a dor da perda, amargam prejuízos. Clamor é para que responsáveis sejam punidos


postado em 04/07/2015 06:00 / atualizado em 04/07/2015 07:53

Amigos e parentes de Hanna e moradores dos condomínios atingidos prestaram homenagens em memória das vítimas do desabamento(foto: Juarez Rodrigues/E.M/D.A/Press)
Amigos e parentes de Hanna e moradores dos condomínios atingidos prestaram homenagens em memória das vítimas do desabamento (foto: Juarez Rodrigues/E.M/D.A/Press)

Lotes tomados por entulhos e mato e muro inacabado dos condomínios são marcas visíveis do desabamento da alça sul do Viaduto Batalha dos Guararapes, na Avenida Pedro I, no Bairro Planalto. Mas a queda do elevado também deixou marcas profundas e transformou a vida da família de Hanna Cristina Santos e do auxiliar de serviços gerais Charles Frederico Moreira do Nascimento, mortos na tragédia de 3 de julho de 2014.  Os afetados pelo acidente, que ainda deixou 23 feridos, tentam se recuperar da falta dos entes queridos, buscam o ressarcimento dos prejuízos materiais e clamam para que os responsáveis pela obra possam ser punidos pelo ocorrido.


Na tarde dessa sexta-feira, os familiares de Hanna e moradores dos condomínios atingidos da Avenida Pedro I prestaram homenagem à memória de Hanna e de Charles. No cenário, as velas e flores traduziam um pedido para que haja punições. No início da noite de ontem foi celebrada missa na Paróquia Nossa Senhora da Paz, no Bairro Guarani, em memória aos dois.

Exatamente um ano depois da partida de Hanna, aos 24 anos, sua presença ainda é forte na casa dos pais da jovem. “Um ano de saudade, um ano de sofrimento. Um ano sem justiça? Não. Sem justiça ficaremos dois, três, quatro anos. Tudo vai ficar por isso mesmo”, diz a mãe da jovem, Analina Soares dos Santos, de 52. Na sala de visitas, porta-retratos com fotos de Hanna em momentos de alegria, ora com a filha ora com a irmã Priscila, de 31. Em um banner, que ocupa boa parte da parede, a imagem é de uma jovem sorridente, com vestido e colar de festa. “Nós tínhamos uma vida normal. Agora, tudo gira em torno desse acontecimento. Não temos paz para resolver nada”, queixa-se Analina.


A saudade se mistura ao sentimento de impunidade em relação aos culpados pela tragédia que vitimou a jovem. “Desejo que eles sejam punidos. Paguem pelo que fizeram. Eu não estou ferida? Jamais desejaria a eles o mesmo que aconteceu comigo, mas gostaria que perdessem um diploma, que não pudessem mais exercer a profissão”, completa Analina.

Ao se lembrar do momento em que Hanna decidiu ser motorista para seguir seu exemplo, o pai da jovem, José Antônio dos Santos, de 62, se emociona. “Ela gostava muito de dançar, mas depois que engravidou, resolveu tirar carteira para dirigir ônibus como eu.” Analina e José pretendem nos próximos dias visitar a mãe de Charles, que também morreu na queda do viaduto. “Ela é muito carinhosa com a gente. Já perdeu dois filhos e tem poucos recursos. Ela precisa de ajuda. Se as autoridades não fazem o seu papel, a gente põe a mão na massa. Não estamos falando de indenização. Estamos falando de respeito”, diz José.


Responsabilidade
A família de Hanna tenta retomar a vida. Juntamente com a ausência da filha, José se queixa do prejuízo causado pela queda da alça sul do viaduto sobre o micro-ônibus da família. “A Cowan trocou o veículo amassado por um novo. Tinham que pagar pelos dias em que o ônibus não rodou, mas fizeram o cálculo do jeito deles. Ficaram sem me pagar uma parte e ainda não me deram uma documentação para o Imposto de Renda”, diz.


O motorista Tiago Carlos dos Santos, de 29, não tem mais o mesmo gosto ao dirigir a linha suplementar 70. O sonho da adolescência era completar 18 anos para tirar carteira de habilitação e seguir a mesma profissão do pai. Mas depois que a irmã faleceu quando dirigia o suplementar 70, ele não tem mais prazer no ofício. “Dirigir para mim era tudo. Para a Hanna também era uma alegria. Hoje, faço obrigado, porque é o ganha-pão da minha família. Se fosse por vontade, não faria”, afirmou.


Em nota, a Cowan informa que, após o desabamento, “não mediu esforços para identificar de maneira precisa e imparcial as causas e responsabilidades.”


MP quer enviar parecer em 15 dias

 O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) pretende enviar à Justiça ainda na primeira quinzena deste mês o inquérito criminal que investiga a circunstâncias da queda. O promotor Marcelo Mattar Diniz disse ontem que vai analisar novas provas e pretende anexá-las ao inquérito. “Tive acesso a depoimentos e documentos que estão na investigação no âmbito civil e ainda não estão na esfera criminal”.


O inquérito já indiciou 19 pessoas, no entanto, o promotor observou que esse número pode aumentar ou até mesmo reduzir. Neste caso, segundo explicou Marcelo Mattar, a análise dessas novas provas vai ser importante para determinar quem será indiciado.


No mês passado, o 1° Tribunal do Júri da capital acatou a solicitação do Ministério Público de declinação de competência do inquérito relativo ao desabamento do elevado. Com isso, os indiciados podem ficar livres de enfrentar o júri popular por homicídio com dolo eventual (quando não há a intenção de matar, mas o agente assume o risco) e ser condenados apenas pelo crime de desabamento, cuja pena é menor.


Indenizações
Paralelo às investigações do MPMG, moradores da região afirmam que ainda não receberam indenização. Desde novembro de 2013, a aposentada Elva Ross, de 71 anos, não tem mais onde morar. Viveu por alguns meses de favor na casa de uma amiga e, atualmente, aluga um barracão no Bairro Planalto. No dia em que a tragédia completou um ano, ela se juntou à família de Hanna para exigir providências. Elva teve que deixar o apartamento 102 da Rua Fernando Ferrari, 16, devido à construção do Viaduto Guararapes. A indenização seria de R$ 180 mil, mas, quase dois anos depois, ela diz que ainda não recebeu nenhum centavo. “Não recebi até hoje, estou morando de aluguel. O viaduto caiu. E agora o lote foi invadido por outras pessoas que se dizem donos. Mesmo assim, a prefeitura me cobra o IPTU do meu antigo apartamento”, relata, mostrando a guia de cobrança no valor de R$ 603,12.


A técnica de enfermagem Arminda Policarpo, de 56, ainda não consegue conviver com o barulho de portas e janelas quando passa um ônibus na Avenida Pedro I. Ela mora em um dos prédios mais prejudicados pela obra. Com a construção do viaduto tão perto, seu apartamento desvalorizou, passou de R$ 220 mil para R$ 140 mil. No dia da queda da alça sul, todos os vidros das janelas se quebraram. Tempos depois, quando foi demolida a alça norte, ela teve que deixar sua casa. Já de volta, se queixa do muro inacabado e dos problemas nos passeios. “Nunca vou esquecer. Fico imaginando as famílias de Hanna e Charles. É muito sofrimento.” (MMC, com João Henrique do Vale)


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