A riqueza do encontro da mata atlântica com o cerrado, a vista do belo horizonte do Mangabeiras à Pampulha onde está o estádio do Mineirão, o ar puro da serra e a possibilidade de estar bem perto da natureza. Essas opções de lazer podem ser encontradam em um único lugar: a trilha Travessia da Serra. A entrada é pela portaria principal do Parque Serra do Curral, na Rua José do Patrocínio Pontes, no Bairro Mangabeiras, na Região Centro-sul de Belo Horizonte. Eleito símbolo da capital, o maciço foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
No entanto, está cada vez mais difícil desfrutar desse passeio. Desde dezembro, os horários para fazer esse roteiro acompanhado de guias foram reduzidos de quatro para um. Até o ano passado, saíam dois grupos pela manhã e dois à tarde. Agora, é possível percorrer a trilha de terça a domingo, mas com uma única saída: às 8h30 de cada um desses dias.
A trilha conta com 10 mirantes, mas apenas oito estão abertos à visitação. É possível percorrer os mirantes de 1 a 3 sem o acompanhamento de guias. Do 4 ao 8, só pode ser feita sob orientação e requer agendamento. Os mirantes 9 e 10 estão fechados devido às obras de recuperação ambiental realizadas pela Vale na região.
O empresário Murilo de Carvalho Miranda, de 36 anos, a gerente de projetos Raquel Álves Rodrigues, de 30, e o engenheiro Rafael Soares , de 34, ficaram decepcionados porque não puderam fazer a trilha completa. Eles tentaram agendar, mas não conseguiram lugar no grupo que fez o percurso com o guia do último sábado. “Fomos até o 3, o máximo que conseguimos. Para o público ter apenas um horário de passeio orientado é muito ruim. Por ser um lugar tão bonito poderia ser melhor explorado”, lamentou Murilo. Os amigos criaram um grupo no Whatsapp para planejar a trilha. No entanto, foram surpreendidos na segunda, quando tentaram fazer o agendamento pelo telefone. “A marcação começa às 9h, mas 10 minutos depois já não tinha mais nenhuma vaga”, alegou. O grupo era formado por 16 pessoas, mas como não conseguiram vaga, muitos desistiram de fazer o passeio.
A turma de amigas do curso de enfermagem planejou um passeio diferente para o encerramento do semestre. Elas queriam conhecer a trilha, mas também não conseguiram agendar a visita. O jeito foi fazer o trecho que é permitido sem a orientação de guias. “É uma vista muito linda, um lugar tão bonito e perto de nós”, disse Iara Rios, de 25, que sugeriu a ideia às colegas. Elas caminharam até o mirante 3, onde aproveitaram para fazer várias fotos. Surpreendidas com a beleza da trilha, a turma disse que pretende tentar agendar a visita novavemente para conseguir ir até o mirante 8.
DEMANDA A gerente do Parque Serra Curral, Marta Santos, informou que os horários foram reduzidos por uma questão de demanda. Segundo ela, a procura se concentrava na parte da manhã e não justificava manter a equipe de guias em horários em que não havia procura. “O sol à tarde era exaustivo para caminhar”, disse. Quando questionada sobre o motivo de não haver pelo menos mais um horário pela manhã, ela informou que a demanda está sendo atendida de forma adequada e que não havia reclamações. As marcações são feitas às segundas-feiras pelo telefone (31) 3277-8120 para os dias daquela semana. “Quando era possível agendar para frente, muitas pessoas agendavam, mas esqueciam que tinham marcado”, disse Marta.
Quem conseguiu agendar a visita não se arrependeu do passeio. É o caso do técnico em informática Fernando de Matos, de 27. “Foi uma experiência muito legal. Vale a pena pela vista que é linda. Daqui dá para ver até o Mineirão. O ar é bem diferente para quem está acostumado com a poluição da cidade. É uma possibilidade de termos contato com a natureza”, afirmou. Podem ser avistados ao longo da trilha pontos como o Morro do Elefante, com 1.185 de altitude, a Mata do Jambreiro, uma reserva particular do patrimônio natural, Morro dos Pires, com 1.387 de altitude, e até o Pico de Itabirito com 1.568 metros de altitude. Também é possível ter uma visão privilegiada da cidade de Belo Horizonte e parte do município de Nova Lima.
RECUPERAÇÃO AMBIENTAL Os mirantes 9 e 10 ficam na área que está sendo recuperada pela Vale. O lado da serra que os visitantes nunca veem e que foi degradado por décadas de mineração está sendo revitalizado e deverá ser entregue em 2017. A região vai ganhar proteção com telas de aço, como se fossem quadros afixados a uma parede, e cobertura vegetal para dar um aspecto natural à montanha escavada para retirada de minério. A obra de recuperação conta com tecnologia suíça e custo de R$ 240 milhões e ocorrerá na Mina de Águas Claras, adquirida há oito anos pela empresa, que instalou na área sua sede administrativa. A assessoria de imprensa da Vale não soube informar se os mirantes 9 e 10 estão em sua área e afirmou que o agendamento e o gerenciamento das visitas são feios pela Prefeitura de Belo Horizonte.
A Fundação de Parque Municipais informou, por meio de sua assessoria, que o horário de saída foi estabelecido por questões climáticas e também decorrente da mudança da empresa que faz o gerenciamento. A limpeza, conservação e portaria é de responsabilidade da emprea VL Terceirização Ltda. com a supervisão da fundação. Segundo a assessoria, a fundação está avaliando a possibilidade de aumentar o número de trilhas e também pretende possibilitar que o agendamento possa ser feito pela internet e não apenas por telefone.