Sem medo de encarar o debate, pronta para defender a saúde pública e disposta a jogar luz sobre a polêmica questão da maconhaA médica uruguaia Raquel Peyraube, especialista em uso problemático de drogas, está em Belo Horizonte para encontros com especialistas e, antes de qualquer conversa, é taxativa ao informar que o seu país não liberou o tóxico, mas a legalizou“São situações bem diferentesLiberar significa tornar livre, o que não foi o casoJá legalizar é restringir, impor normas, regulamentar e implementar a lei federal promulgada em dezembro de 2013”, afirma RaquelNa noite de ontem, ela participou do lançamento do vídeo e relatório “Abusos e violações de direitos em comunidades terapêuticas: relatos de uma realidade anunciada”, fruto da parceria entre o Fórum Mineiro de Saúde Mental e Frente Mineira de Drogas e Direitos Humanos.
Primeiro país do mundo a legalizar a cannabis, para fins recreativos, industrial e medicinal, o Uruguai (veja o quadro), na gestão do ex-presidente José Mujica, sustentou sua política em direitos humanos, saúde e segurança públicaAinda não dados conclusivos sobre os impactos no consumo, mas Raquel – assessora do Instituto de Regulamentação e Controle da Cannabis como diretora do Centro Internacional de Pesquisas, Educação e Serviços Etonobotâncos (Iceers, na sigla em inglês) – está certa de que apenas medidas de prevenção resultaram em fracasso em vários países, incluindo o Brasil“O resultado está em cadeias cheias de jovens e aumento da violênciaNo México, por exemplo, há registro de 100 mil mortos e 30 mil desaparecidos”, ressalta.
O cenário no Uruguai, guardadas as devidas proporções com o Brasil em dimensões e população, também passava pela criminalidade, que, conforme a médica, sofistica seus mecanismos, atinge os mais pobres, enriquece o tráfico e causa exclusão social“Deve prevalecer o idealismo humanitário e não o moralNa maioria das vezes, a guerra contra as drogas é perdida antes mesmo de começar”, afirma a médica, mãe de dois jovens, um deles prestes a se formar em medicina
O mal maior à sociedade, diz a médica uruguaia, não é causado pela maconha, mas pelo tráficoEla também rechaça a velha máxima de que a cannabis é porta de entrada para drogas pesadas“Isso não é verdadeDevemos lembrar do ‘efeito gôndola de supermercado’, quando a pessoas vai enchendo o carrinho com muitos produtos